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Historiador busca desvendar cooperação entre cientistas no III Reich

(vv/lk)18 de maio de 2005

Em pelo menos dois projetos, Josef Mengele trabalhou em conjunto com o conceituado Instituto de Antropologia, Genética Humana e Eugenia, de Berlim. Estudos de historiador de Bielefeld apontam para cooperação mais ampla.

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Máscaras de rostos de ciganos presos em campos de concentraçãoFoto: AP

Não são muitas as fontes que documentam a cooperação entre Josef Mengele, médico no campo de concentração de Auschwitz, e o Instituto de Antropologia, Genética Humana e Eugenia, mantido pela Kaiser-Wilhelm-Gesellschaft (Sociedade Imperador Guilherme), de Berlim, e dirigido desde 1942 por Othmar von Verschuer, que fora professor de Mengele e orientador de seu doutorado.

Em pelo menos dois projetos, essa cooperação é comprovada por ampla documentação. O primeiro, coordenado pelo próprio professor Von Verschuer, dedicava-se à pesquisa de proteínas específicas para a identificação da raça. O instituto recebeu de Mengele, neste contexto, amostras sangüíneas de 200 pessoas de diferentes proveniências. No segundo projeto, a bióloga responsável, Karin Magnussen, investigava a pigmentação da cor da íris do olho humano. Também neste caso, Maengele forneceu material, inclusive os olhos de uma família de ciganos assassinados no campo de concentração.

Suposições fundadas

O historiador Hans-Walter Schmuhl, docente da Universidade de Bielefeld, que se dedica há seis anos ao assunto, está convencido de que as ligações entre o instituto berlinense e o "anjo da morte" Mengle não se restringiram a esses dois projetos. "Com base em meus estudos, suponho que foram enviados de Auschwitz para Dahlem [o bairro onde ficava o instituto] também materiais biológicos de portadores de deficiências. Durante os anos da guerra, este era um dos principais focos de pesquisa em Dahlem", declarou o docente à DW-RADIO.

Schmuhl admite que não existem comprovações seguras para suas conclusões, que ele, por falta de fontes, baseia no estudo dos fatos. Mengele não tinha uma incumbência do Instituto de Antropologia no sentido literal da palavra, explica. Mesmo porque o instituto não podia dar ordens ao médico do campo de Auschwitz, que estava subordinado à hierarquia da SS.

"Não se trata de hierarquias rigorosas, e sim de redes horizontais, como é costume na comunidade científica. Não fica cada um trabalhando por si, mas sim numa rede em que um está ligado ao outro, chama mutuamente a atenção para casos interessantes, troca materiais e coisas do tipo. Isto acontece sempre e aconteceu também durante o Terceiro Reich".

A questão, acentua Schmuhl, é que essa cooperação adquire uma qualidade totalmente diferente, considerando-se as condições reinantes na época. "Os cientistas em Dahlem podem certamente ser acusados de não ter pensado ou de ter recalcado a questão da origem dos materiais que lhes eram fornecidos. De terem aceitado as amostras biológicas sem se importar que seres humanos talvez tivessem sido mortos em função delas."

Sem conseqüências

Josef Mengele não foi o único a não sofrer consequências de suas pesquisas desumanas. Considerada por um tribunal como partidária isenta de culpa, Karin Magnussen voltou a trabalhar num instituto de pesquisa de tuberculose já em 1948. De 1950 a 1970, ou seja, até sua aposentadoria, foi professora de biologia em Bremen. Morreu em 1977, aos 89 anos.

Othmar von Verschuer, após curta interrupção, conseguiu dar prosseguimento à sua carreira científica na então jovem República Federal da Alemanha. De 1951 a 1965, foi catedrático e diretor do Instituto de Genética Humana da Universidade de Münster. Morreu em 1969, aos 73 anos.