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Guiné-Bissau seria ponto de passagem de cocaína em benefício das FARC

Madalena Sampaio8 de abril de 2013

Por cada tonelada de cocaína da América do Sul recebida na Guiné-Bissau, o contra-almirante guineense Bubo Na Tchuto receberia um milhão de dólares. Incorre agora numa pena máxima que pode ser prisão perpétua.

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O ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau é acusado de conspirar para traficar droga
O ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau é acusado de conspirar para traficar drogaFoto: picture-alliance/dpa

O ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau José Américo Bubo Na Tchuto, detido na semana passada por agentes do Departamento de Combate ao Narcotráfico norte-americano (DEA, na sigla em inglês) em águas internacionais, próximo da Zona Económica Exclusiva de Cabo Verde, era um dos elos de ligação numa rede de venda de droga e armas que estava a ser montada desde 2012.

Esta é uma das conclusões de um comunicado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Em causa estariam várias toneladas de cocaína que seriam vendidas nos Estados Unidos e cujos lucros seriam entregues às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), grupo classificado como terrorista pelos EUA.

A Guiné-Bissau seria usada como ponto de passagem da droga com a ajuda de Bubo Na Tchuto, que foi chefe do Estado-Maior da Marinha guineense entre 2003 e 2008 e gozava ainda de ligações ao poder de Bissau.

Na Tchuto “ofereceu-se para usar a empresa que detinha para facilitar o carregamento de cocaína para fora da Guiné-Bissau”, refere a DEA. Em troca, exigia o pagamento de um milhão de dólares norte-americanos (cerca de 800 mil euros) por cada tonelada de droga que entrasse em território guineense. A cocaína seria escondida em caixas de uniformes militares. Segundo a acusação, parte da droga seria usada para pagar a entidades governamentais da Guiné-Bissau.

As negociações começaram ser feitas em junho de 2012 e continuaram até novembro, em solo guineense, que foi palco de vários encontros entre narcotraficantes e agentes da DEA que se faziam passar por intermediários de traficantes de droga da América do Sul.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foram designadas como organização terrorista pelos Estados Unidos
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foram designadas como organização terrorista pelos Estados UnidosFoto: picture-alliance/dpa

Numa dessas reuniões, cujas conversações foram gravadas pelos agentes infiltrados, Bubo na Tchuto teria afirmado que o governo se encontrava fragilizado devido ao golpe de Estado de 12 de abril de 2012, “pelo que era uma boa altura para a transação da cocaína proposta”, refere o Departamento de Justiça norte-americano.

Tráfico de droga e terrorismo

Na Tchuto terá ajudado o actual chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) António Indjai (na foto), a consolidar o poder
Na Tchuto terá ajudado o actual chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) António Indjai (na foto), a consolidar o poderFoto: DW

O combate ao tráfico de droga na Guiné-Bissau tornou-se já uma prioridade para os Estados Unidos. A instabilidade constante e a impunidade a que se assiste neste país africano alimentam o narcotráfico. O Departamento do Tesouro norte-americano ansiava há muito pela detenção de Bubo Na Tchuto, que considera ser uma figura central no tráfico de drogas na África Ocidental.

O ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau estava já indiciado, desde 2010, pelos Estados Unidos, por ligações ao narcotráfico, juntamente com o chefe do Estado-Maior da Força Aérea guineense, Ibraima Papa Camará.

No comunicado divulgado pelo Departamento de Justiça norte-americano, Michele Leonhart, administradora da DEA, refere-se ao caso como um exemplo das “ligações assustadoras entre o tráfico de droga global e o financiamento das redes terroristas". Afirma ainda que os “alegados narcotraficantes” estão “entre os criminosos mais violentos e mais brutais do mundo”.

Sete indiciados nos Estados Unidos

A missão que levou à detenção de Bubo Na Tchuto está relacionada com outra operação da DEA, realizada em Bogotá, na Colômbia, e que culminou com a prisão de dois colombianos: Rafael Antonio Garavito-Garcia e Gustavo Perez-Garcia, ambos procurados pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).

No total, são sete as pessoas que estão indiciadas nos Estados Unidos. Bubo Na Tchuto, Papis Djeme e Tchamy Yala são acusados de conspirar para importar droga para os Estados Unidos. A pena máxima para este tipo de crime é prisão perpétua. Os três compareceram já em tribunal em Nova Iorque na sexta-feira (05.04) e serão de novo presentes ao juiz no próximo dia 15.04.

Neste processo estão ainda envolvidos Manuel Mamadi Mane e Saliu Sisse, cuja nacionalidade não foi identificada, e os colombianos Garavito-Garcia e Perez-Garcia, também indiciados por conspirarem com o fim de transportar droga para os Estados Unidos. Os três primeiros são ainda acusados de tráfico de armas para ações de proteção das operações de processamento da cocaína das FARC contra forças norte-americanas.

A instabilidade e a impunidade a que se assiste na Guiné-Bissau alimentam o narcotráfico
A instabilidade e a impunidade a que se assiste na Guiné-Bissau alimentam o narcotráficoFoto: Reuters

Mane e Sisse vão ser presentes ao juiz Jed Rakoff nesta terça-feira (09.04). Garavito-Garcia e Perez-Garcia aguardam pelo processo de extradição para os Estados Unidos.

Além de agentes da DEA, a operação contou com a participação da Divisão Especial de Operações (SOD), a Unidade Bilateral de Investigações (BIU) e o Grupo para o Narcoterrorismo (NTG), além do Departamento de Justiça e do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Estiveram também envolvidas as representações da DEA em Bogotá (Colômbia) e em Lisboa (Portugal).

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