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Guiné-Bissau acusa Portugal de atacar o país

29 de outubro de 2012

O governo de transição guineense endureceu as relações com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Portugal, em particular, é acusado de política de terrorismo de Estado.

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Pansau N´Tchama
Pansau N´TchamaFoto: AP

Segundo o porta-voz do governo de transição guineense, Fernando Vaz, as autoridades de Lisboa querem criar um clima de instabilidade política e social na Guiné-Bissau. O objetivo seria legitimar uma intervenção militar no país africano ao abrigo das Nações Unidas, acredita o governo em Bissau.

O governo de transição guineense se mostrou reservado no que diz respeito as futuras relações com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A posição hostil deve-se ao fato de as autoridades guineenses associarem Portugal aos confrontos do dia 21 de outubro, considerados um "contra-golpe". Este motivo levou o porta-voz do governo da Guiné-Bissau a pedir justificações.

"Exijo explicação clara de Portugal sobre a expedição terrorista do capitão Pansau N´Tchama (foto principal) na Guiné-Bissau, que se encontrava com o estatuto de exilado político há vários anos em Portugal", defendeu Fernando Vaz. A Guiné-Bissau está a investigar o caso e não pretende acusar Portugal sem provas, esclareceu.

A resposta de Portugal

Pansau N´Tchama (sentado) ao chegar no porto em Bissau
Pansau N´Tchama (sentado) ao chegar no porto em BissauFoto: DW/Braima Darame

Por meio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o governo português já garantiu que o militar acusado pelo governo de transição guineense de ter liderado o ataque em Bissau "não tem, nem nunca teve, o estatuto de asilo político em Portugal".

Recentemente, Portugal teria negado o visto de entrada no país ao ministro da Saúde do governo de transição da Guiné-Bissau, Agostinho Cá. A informação é do presidente da Fundação Ricardo Sanhá, dada ao correspondente da DW África em Lisboa.

A instituição em questão, que garante não estar ligada a partido político, havia mobilizado recursos e médicos na diáspora para debater em Lisboa neste domingo (28.10) a situação da saúde na Guiné-Bissau. O objetivo do encontro era discutir como realizar missões de apoio em vários domínios e especialidades no país africano, para combater as inúmeras carências e endemias existentes. O ministro da Saúde do governo de transição da Guiné-Bissau não conseguiu participar.

Prisão de Pansau N´Tchama

Na Guiné-Bissau, o Conselho de Ministros esteve reunido na sequência da prisão de Pansau N´Tchama, capturado na ilha de Bolama, no último sábado (27.10). Ele é acusado pelas autoridades guineenses de ter sido o responsável pelo ataque a um quartel militar, no dia 21 de Outubro, no qual seis pessoas teriam morrido.

O porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, Daba Na Walna, destaca que quando se falou do envolvimento de Portugal no caso, referia-se ao fato de Pansau N´Tchama estar residindo em Portugal.

Pansau N´Tchama à entrada da cela, no domingo
Pansau N´Tchama à entrada da cela, no domingoFoto: DW/Braima Darame

"Com qual estatuto, nós não sabemos. Em que condições ele vive em Portugal? Só se for como exilado político. Então, se ele vive como exilado político e ataca a Guiné-Bissau é porque Portugal não cuidou bem do Pansau N´Tchama", acredita Walna, defendendo que de qualquer forma há envolvimento de Portugal no acontecido.

"Com o apoio de Zamora Induta"

Tanto o governo de transição como as Forças Armadas da Guiné-Bissau acreditam que Pansau N´Tchama teria passado também pela Gâmbia antes dos confrontos. Ao que tudo indica, esteve lá desde finais de abril, segundo o governo guineense.

No país vizinho, o capitão teria contado com o apoio de Zamora Induta, que foi chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau antes do golpe de Estado perpetrado em abril deste ano. A acusação é de Daba Na Walna:

A imagem mostra um soldado morto no alegado contra-golpe
A imagem mostra um soldado morto no alegado contra-golpeFoto: DW

"Mas quem coordenou as operações, das quais Pansau N´Tchama é o ponta de lança, foi Zamora Induta. No dia 21 de outubro, ele ainda estava na Gâmbia. Só se agora embarcou para Lisboa. Zamora Induta vinha para a Gâmbia e coordenava as operações daqui", acredita. O porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas guineenses adiantou ainda que a operação contou com dinheiro e armas enviados de fora.

Recorde-se que no dia 21 de outubro, confrontos no quartel dos para-comandos – uma força de elite do exército guineense – teriam matado seis pessoas. O acontecido se registra meio ano depois do golpe de Estado na Guiné-Bissau, de 12 de abril, que afastou do poder o presidente interino Raimundo Pereira e o primeiro-ministro de transição Carlos Gomes Júnior.

Autora: Glória Sousa / Bettina Riffel
Edição:Helena Ferro de Gouveia

Guiné-Bissau acusa Portugal de estar por trás do suposto contra-golpe