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Guiné-Bissau não está preparada para casos de ébola

Fátima Tchuma Camará (Bissau)21 de outubro de 2014

A Guiné-Bissau não tem infra-estruturas sanitárias para fazer face a um eventual caso do vírus ébola e o encerramento da fronteira com a Guiné-Conacri continua a ser violado. Para além disso, falta material médico.

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Tendas para o isolamento de eventuais casos do vírus ébola em Buruntuma, Guiné-BissauFoto: F. Tchuma Camara

A vulnerabilidade do país deve-se à ausência de uma rede sanitária eficaz, mas também à ineficácia do patrulhamento da fronteira da Guiné-Bissau com a República da Guiné-Conacri, divisão oficialmente encerrada pelo Governo mas que é violada sistematicamente através das vias não controladas pelas forças de segurança.

A DW África visitou Buruntuma, uma aldeia a 500 metros da fronteira com a Guiné-Conacri. A aldeia está completamente isolada devido às fracas condições das vias terrestres. A população sente-se esquecida e aproveita a presença dos jornalistas para lamentar a situação em que vive e enviar recados às autoridades políticas.

Zentrum der Gesundheit Buruntuma in Guinea-Bissau
No Centro de Saúde de Buruntuma só trabalham dois enfermeiros e não existe nenhum veículo de emergência médicaFoto: F. Tchuma Camara

Sem saber ao certo o que pedir, a população apela às autoridades para que providenciam condições sanitárias mínimas para uma resposta imediata caso algum caso do vírus ébola chegue à aldeia.

Nao há sequer um termómetro

O Centro de Saúde de Buruntuma não tem capacidade para internar os pacientes, não dispõe sequer de termómetros para um primeiro diagnóstico. Nesta unidade de saúde, trabalham apenas dois enfermeiros, existe uma motorizada estragada e duas tendas instaladas junto à fronteira para o isolamento de eventuais casos de infeção pelo vírus ébola. Não há um único colchão. Em toda vila de Buruntuma, não existe uma viatura para transportar casos de emergência para o Hospital Regional de Gabu, situado a cerca de 60 quilómetros de Buruntuma.

Estas preocupações foram manifestadas à DW não só pelas autoridades sanitárias e policiais mas também pela população da vila. Satan Banjai, habitante de Buruntuma, confessa que o receio da proliferação do surto está aumentar, sobretudo porque em Boke, uma localidade na Guiné-Conacri a 400 quilómetros de Buruntuma, já se registaram os primeiros casos.

"Estamos preocupados com a propagação do ébola, sobretudo depois do caso em Boke... Já estamos cansados", revela uma habitante.

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Para atenuar o medo, o enfermeiro chefe do Centro de Saúde de Buruntuma, Sedja da Silva, pede a mobilização de mais técnicos de saúde e meios de diagnóstico para a fronteira.

"Nós não temos meios para controlar as vias clandestinas que as pessoas usam para entrar no nosso território. Na Buruntuma, só temos uma motorizada que está neste momento estragada. Temos algumas máscaras de proteção, mas não recebemos nenhum termómetro para os primeiros diagnósticos", revela o enfermeiro.

"Muitos técnicos de saúde estão em Bissau. Nesta situação, devem ser enviados para a fronteira com vista a reforçar as medidas preventivas. Mais vale prevenir do que remediar", diz.

Rádio como veículo de informação

A população de Buruntuma mostra estar informada sobre as vias de transmissão e prevenção do vírus do ébola através das rádios locais.

"Estamos a prevenir-nos através da lavagem de mãos com água, sabão e lixívia. Também acompanhamos a informação diariamente nas rádios, no sentido de evitarmos receber pessoas em casa, dar apertos de mão, assim como ter contacto direto com cadáveres", explica um outro habitante de Buruntuma.

Grenze zwischen Guinea-Bissau und Guinea Conakry
Ordem de encerramento da fonteira entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri é violada sistematicamenteFoto: F. Tchuma Camara

"É preciso termos cuidado com os alimentos, sobretudo com a carne de alguns animais, como o macaco. Às, vezes, se não tivermos lixívia, recorremos à cinza para desinfetar as mãos", conta uma outra local.

Segundo informações recolhidas pela DW África, duas pessoas que entrarem ilegalmente no país em agosto foram postas em quarentena no Hospital Regional de Gabu. Mas as análises laboratoriais revelaram-se negativas no que toca à presença do vírus.

Ainda não há registo de casos da doença na Guiné-Bissau. Ainda assim, as autoridades mantêm os níveis máximos de vigilância.

Para além da equipa da organização não governamental Médicos Sem Fronteiras, está em Bissau um especialista do Centro de Controlo de Doenças dos Estados Unidos da América, Alexandre Macedo, instalado na sede da Organização Mundial de Saúde (OMS). O especialista está no local com o intuito de coordenar as ações de prevenção dos parceiros no Hospital Nacional Simão Mendes, o maior centro hospitalar do país.

Segundo as autoridades guineenses, está prevista a chegada de médicos portugueses para além de uma equipa móvel que deverá ser instalada no Sul e Leste da Guiné-Bissau.

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