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Governo de Angola acusado de abandonar população afectada pela seca

Anselmo Vieira (Lubango)8 de maio de 2014

Organizações não-governamentais reclamam mais ajuda do Estado para as populações do sul de Angola, que atravessam momentos difíceis, dada a escassez de alimentos. Mas as autoridades governamentais não se pronunciam.

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Foto: DW/A. Vieira

A seca que se faz sentir no sul do pais afecta sobretudo as populações das províncias da Huila, Cunene e Namibe. A falta de chuva agravou a situação, pois as poucas culturas que podiam sobreviver acabaram por secar, comprometendo grande parte das culturas como o milho, massango, massambala.

As organizações não-governamentais como a Associação Construindo Comunidades, ACC, as Caritas de Angola, afecta a Igreja Católica, bem como a Acção de Desenvolvimento Rural e Ambiente, ADRA, falam na deslocação de mais de 2000 famílias para as zonas onde a seca não se faz sentir.

O certo é que a situação está a levar os populares a procurarem refúgio, maioritariamente a pé, nas regiões vizinhas, como o município do Kuvango. Luís Ndala, administrador desta autarquia, confirma a vinda dos populares, precisando que um grupo estimado em mais de cento e cinquenta pessoas da zona do Kuvelai está instalado na área do Muvundu. Ndala acrescenta “estar de mãos atadas para acudir as populações afectadas” por não dispor de meios, e pede assistência para receber melhor os refugiados.

A preocupação das autoridades locais é grande

Bischof Dom Pio Hipunhiaty in Huila Angola
O bispo de Huila, Dom Pio Hipunhiaty, apela para mais assistênciaFoto: DW/A. Vieira

As autoridades administrativas do município de Quipungo vivem as mesmas dificuldades. A administradora Fernanda Cândida Ukali reconhece que, este ano, as coisas “estão mal”, pois “neste momento há gente que não come, está mesmo com fome. Temos distribuído alguma coisa de acordo com aquilo que a Província nos manda. Temos selecionado os mais desfavorecidos, mas há fome em todas as comunas, sobretudo na zona do Chikongo”.

As instâncias religiosas do Cunene dizem que a situação naquelas paragens também é preocupante. O bispo daquela diocese, Dom Pio Hipunyaty, diz que as ajudas que chegam ainda são ínfimas, sendo necessária muito mais assistência até meados de Maio: “Vivemos uma situação verdadeiramente grave. Não temos alimentos para as pessoas, nem para os animais. Falta também a água. Mais de meio milhão de pessoas estão afectadas por esta calamidade. As ajudas estão a chegar, mas ainda em quantidade insuficiente. Há pessoas que não têm mesmo nada, nada".

“Onde está o Governo?”

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Muitos deslocados pela seca procuram refúgio no LubangoFoto: AFP/Getty Images

José Eduardo Chissingui veio do Cunene a pé com a família e instalou-se na zona do Mutundo, arredores da cidade do Lubango. Este refugiado conta: ”Muitos estão com as pernas inflamadas, outros já não conseguem andar, tivemos de os abandonar pelo caminho. Alguns morreram (devido à fome). A situação está má. Semeamos qualquer coisa, mas não conseguimos colher, devido à falta de chuva. O gado também está a morrer. Às vezes recebíamos alguma ajuda de algumas igrejas, mas não chega, porque te dão sómente dois quilos de arroz.. Estamos mal, precisamos de ajuda do Governo. Onde está, afinal de contas, o Governo?”

Um outro refugiado, Rodrigo Filipe Tchiwana tem uma história muito triste para contar: "As nossas filhas morreram pelo caminho”. Tchiwana indigna-se contra a falta de assistência das autoridades centrais: ”O Governo não pensa em nós. Nós queremos ajuda do MINARSS (Ministério da Assistência e Reinserção Social), o Governo não está a ajudar, as crianças não estão a estudar”.

As autoridades governamentais ligadas ao Ministério da Assistência e Reinserção Social, MINARSS remetem-se ao silêncio.

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