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Entrevista

Oliver Samson (sm)2 de agosto de 2008

Comida geneticamente manipulada, bebê de proveta, higiene racial – a genética evoca sensações negativas. Presidente da Federação Mundial de Genética (IGF) comenta, em entrevista, possibilidades e problemas da sua área.

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No futuro breve, qualquer um poderá mandar seqüenciar seu genoma por 10 mil eurosFoto: AP

DW-WORLD.DE: Professor Nordheim, os europeus são bem céticos em relação aos alimentos geneticamente manipulados. Essa preocupação é justificada?

Professor Alfred Nordheim
Prof. Alfred NordheimFoto: Uni Tübingen

Alfred Nordheim: A atual discussão me lembra muito a dos anos 70 do último século, quando a biologia molecular criou possibilidades de manipulação genética. Na época, foram promulgadas leis bastante rigorosas de engenharia genética, que nos anos subseqüentes acabaram sendo atenuadas, porque os temores se mostraram exagerados e improcedentes. As reservas contra nutrientes derivados de plantas e animais geneticamente manipulados são justificadas, mas exageradas. No final das contas, acabarão se propagando os nutrientes manipulados que não ofereçam riscos à saúde. Todo novo alimento produzido é testado e inspecionado com exatidão, antes de entrar no mercado. Considero perfeitamente suficientes os mecanismos de regulação hoje previstos ou existentes na Alemanha.

Há 75 anos, o regime nazista promulgou a "lei para prevenção de prole hereditariamente degenerada", que criou a base jurídica para a esterilização obrigatória de 400 mil pessoas e o assassinato de outras milhares. A Sociedade Alemã de Genética Humana se posicionou recentemente acerca de sua responsabilidade nessa área. Será que a eugenia pode ser considerada um assunto encerrado ou ainda existe o perigo de a genética ser instrumentalizada contra a humanidade?

A idéia desse posicionamento foi esclarecer mais uma vez que não podemos fechar os olhos aos acontecimentos históricos e que reconhecemos nossa cumplicidade e responsabilidade. Os pesquisadores têm que estar muito atentos, sobretudo na genética. Mas o perigo de um abuso para fins eugenéticos é cada vez menor, pois a eugenia – ou seja, uma seleção de características genéticas humanas para as gerações futuras – se fundamenta em tendências racistas que não têm mais espaço na discussão de valores alemã e internacional.

Há 30 anos nascia o primeiro bebê de proveta. O senhor considera importante impor limites nesse âmbito?

As questões de medicina reprodutiva relacionadas às doenças hereditárias são questões particulares, a serem esclarecidas entre os pais e os médicos. Nessa discussão prefiro não intervir publicamente. No entanto, ao contrário dos programas estatais impostos nos anos 20 e 30 do século 20, as intervenções hoje dependem exclusivamente da decisão do indivíduo.

Abstraindo as restrições que muitas pessoas fazem à genética, em quais âmbitos ela é praticada com êxito?

Infelizmente, o conceito de genética nem sempre é entendido em sua dimensão mais ampla. Essa ciência compreende não apenas a reprodução da herança genética nas gerações seguintes, mas também as divisões celulares em um único corpo e a utilização das informações hereditárias dessas células. Se houvesse essa compreensão, se reduziriam as restrições contra as alterações genéticas e a pequisa de células-tronco.

Em 2003, o genoma humano, com três bilhões de letras químicas, foi inteiramente decifrado, mas mesmo assim estamos engatinhando nesse campo. Ainda se abrirão possibilidades de aplicação totalmente novas no âmbito da biomedicina. Por exemplo, será possível comparar seqüências de genomas de células tumorosas com as de células saudáveis e, conseqüentemente, adquirir novos conhecimentos para explicar as causas do câncer e para desenvolver terapias mais eficientes. Assim se poderá descobrir por que uns pacientes reagem a determinados remédios e outros não, o que permitirá individualizar as terapias.

Na sua opinião, em que direção vai se desenvolver a pesquisa genética?

Nos próximos nos, o seqüenciamento de genomas vai se tornar sensivelmente mais rápido e mais barato, de modo que – dentro de cinco ou dez anos – quem quiser poderá mandar seqüenciar seu genoma por 10 mil euros. A análise de seqüência oferece um alto teor de informação para prognósticos. O importante aqui é o livre-arbítrio. O indivíduo deve ter o direito de decidir o que quer saber e o que quer que o médico ou o convênio de saúde saibam ou não.

Será que esse sistema de livre-arbítrio pode funcionar? O senhor não acha que as asseguradoras encontrariam formas de violá-lo para obter informações?

Pode funcionar, se formularmos regras boas e compreensíveis e as ancorarmos na legislação. É claro que sempre pode haver abuso. Mas se houvesse, seria punido. O fato de haver uma pequena possibilidade de abuso não deveria impedir todos os efeitos desejáveis de um novo desenvolvimento.