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Frágeis rapazes

Carlos Albuquerque17 de outubro de 2007

Novos estudos apontam para desvantagem educacional de garotos em relação a meninas. Devido à polêmica, a educação conjunta é colocada em questão e uma separação por sexo nas escolas se anuncia.

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Educação conjunta com os dias contados?Foto: picture-alliance/ dpa/dpaweb

Recente estudo da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK) constatou que, entre 2005 e 2006, a porcentagem de garotos que abandonaram as escolas do país sem nenhum tipo de diploma foi quase duas vezes maior do que a de meninas.

Por outro lado, quase 30% das alunas obtiveram o diploma que lhes permite cursar a universidade. Entre os meninos, este índice cai para cerca de 20%. A DIHK afirma que 57% dos desempregados abaixo dos 25 anos são homens.

Na semana passada, o secretário de Educação de Brandemburgo, Holger Rupprecht (SPD), alertou para o problema em seu estado ao apresentar o relatório de sua secretaria na Assembléia Legislativa. Em Brandemburgo, somente 42% dos pré-universitários são do sexo masculino, a menor taxa do país.

Garotos sofrem desvantagens

"Em diversos aspectos, há uma tendência de os garotos sofrerem desvantagem na formação geral escolar", afirmou o secretário social-democrata perante os deputados. Rupprecht salientou que a desvantagem entre meninos atinge, sobretudo, jovens provenientes de famílias com pouco nível educacional.

O secretário foi bastante reservado quanto às causas do problema, mencionando a carência de educadores homens nas escolas e creches. O especialista educacional Ingo Senftleben (CDU), motivador da pesquisa, apontou para a falta de pessoas que sirvam de referência para os garotos nas escolas: "Eles precisam de mais pessoas de contato do sexo masculino", afirmou Senftleben. Ele sugeriu a criação do "responsável para meninos" nas escolas de Brandemburgo, como já existe em Munique.

O especialista justifica a pouca competência de leitura dos garotos devido à escolha literária orientada para o gosto das meninas. O secretário Rupprecht encara como problema conceitos neutros de gênero. "Tais conceitos não reconhecem que meninos e meninas precisam de diferentes motivações para que seu talento seja aproveitado ao máximo", explicou Rupprecht.

Segundo a vontade de Rupprecht, meninos e meninos passarão a ser mais freqüentemente divididos em classes diferentes, principalmente em matemática e ciências naturais ou nos cursos que tratam de conflitos específicos de seu sexo. Não deverá haver outras divisões, afirmou o secretário. A sugestão de Rupprecht foi bem acolhida por todas as bancadas estaduais.

Novos caminhos

A novidade do problema lançado pelo secretário da Educação de Brandemburgo está na sua forma de tratamento e na reavaliação do gender mainstreaming, ou seja, direitos e tratamentos iguais para homens e mulheres. Quanto ao problema dos garotos em si, há anos que o governo federal alemão está atento para o fato. Por iniciativa da ministra da Família, Ursula von der Leyen (CDU), foi lançado em 2005 o projeto Novos Caminhos para Garotos.

O projeto piloto coordenado pelo grupo Dissens, que se classifica através do slogan "dissenso com a masculinidade DOMinante", procurou ampliar "o limitado comportamento da escolha profissional" por parte dos garotos e fomentar a reflexão sobre as práticas e papéis de masculinidade impostos pela sociedade, além de procurar fortalecer a competência social dos jovens rapazes.

Uma das iniciativas de Novos Caminhos para Garotos foi um concurso cujo tema era a "reflexão crítica do papel masculino" na escolha da profissão. Entre os premiados, estava um projeto de uma escola da Baixa Saxônia, onde durante dois dias os alunos discutiram seu desejo de ter filhos e seu papel de pai. "Os garotos notaram rapidamente que sua responsabilidade perante uma criança é a mesma que a das garotas", afirmou um assistente social da escola.

Opiniões divergentes

Na imprensa, a masculinidade como novo sexo frágil vem provocando as reações mais divergentes. A mídia se divide entre aqueles que apóiam a posição do secretário Rupprecht e aquelas que defendem a iniciativa da ministra Von der Leyen.

Na emissora Deutschlandradio, o jornalista Hajo Schumacher aponta para as conseqüências da falta de exemplos masculinos para os jovens: "Nos meninos na puberdade, pode-se ver, claramente, o que nos espera na próxima fase da luta entre os sexos: um monte de homens desorientados".

O jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung comenta a decadência dos tradicionais papéis masculinos em uma sociedade cada vez mais dominada pelo setor terciário em detrimento da indústria: "Não é fácil hoje para os meninos, pois força corporal e esforço de ser superior perderam seu valor na moderna sociedade do conhecimento e na escola".

A emissora WDR se pergunta: "Enquanto os jovens rapazes sonham, as meninas dividem o futuro entre si. Determinadas, elas atingem o sucesso e aos meninos resta somente chorar o leite derramado. As mulheres seriam mais inteligentes ou os meninos seriam vítimas de uma educação feminina?".

Emma, bastião editorial do feminismo alemão, comenta as críticas de um jornalista da revista Der Spiegel que classificou o projeto do grupo Dissens como "uma destruição de identidades". Para a revista da feminista Alice Schwarzer, "não é coincidência que uma volta ao biologismo se anuncie no momento em que a Alemanha é governada por uma mulher e em que a ministra da Família apele por maior participação masculina na criação dos filhos e no cuidado de velhos."

Ursula von der Leyen
Von der Leyen procura novos caminhos para rapazesFoto: AP
Deutschland Brandenburg Bildungsminister Holger Rupprecht
Holger Rupprecht recebeu apoio também da oposiçãoFoto: picture-alliance/ ZB dpa - Report