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Garimpo ilegal em Moçambique pode matar

5 de novembro de 2012

Em Moçambique, o garimpo ilegal na província de Manica representa um grave problema de saúde pública. A DW África abordou o assunto com Carlos Serra Júnior, ativista da ONG "Justiça Ambiental".

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Garimpo ilegalFoto: DW/M.Barroso

As consequências do garimpo ilegal nesta região de Moçambique já começam a aparecer. Negativas e nocivas para o meio ambiente, podem até matar. O uso do mercúrio na atividade e o desmatamento indiscriminado são as grandes preocupações dos ambientalistas. Ações do governo com relação a este problema têm sido incipientes.

Entretanto, existe o lado social deste caso. Dezenas de famílias mais pobres dependem do garimpo para sobreviverem. Carlos Serra Júnior conversou com a DW África.

DW África (DW): Quais são afinal as principais consequências do garimpo nesta província?

Carlos Serra Júnior (CJ): Uma grande consequência negativa é o uso de substâncias nocivas ao meio ambiente e para a saúde pública. Falo particularmente do garimpo de ouro. O mercúrio é um metal pesado que acaba contaminando a água e afeta a cadeia alimentar. Este problema junta-se a outro também muito sério. O garimpo afeta completamente o curso normal das águas. Há situações muito graves de assoreamento do rio e isso põe em causa não só a agricultura familiar mas também todos os interesses comerciais numa agricultura que está a instalar-se na província de Manica.

Mercúrio polui a água dos rios
Mercúrio polui a água dos riosFoto: DW/M.Barroso

DW: A poluição dos rios pode afetar a agricultura e a pecuária. Em termos de período, como isso funciona? A médio ou longo prazo?

CJ: Todos temos metais no corpo, mas quando essa concentração se torna excessiva no organismo [é um problema]. Neste momento nós estamos alarmados. Várias organizações têm chamado a atenção para o fato mas pouca monitoria concreta [acontece], mas talvez devido a dificuldade de se realizar estudos neste ramo nós ainda não temos dados concretos. O fato é que se estabelece uma ligação. Comprova-se o uso do mercúrio nas águas mas não há depois um efetivo trabalho para saber o que precisa ser feito pelas autoridades e demais instituições de modo a verificar até que ponto a situação é grave.

DW: Qual tem sido o papel do governo no controle da atividade do garimpo?

CJ: O governo está consciente do que está a passar. De diversas formas e em vários momentos, funcionários governamentais e até dirigentes já assumiram que a situação é realmente preocupante nesta província (Manica). Mas também várias vozes mostram este outro lado que é a necessidade de tomar em consideração que estamos a falar de uma população que não tem outra alternativa. O que nós procuramos mostrar é que muito mais se ganharia com organização, com controle do que deixando simplesmente a situação acontecer, emitindo autorizações. É preciso ter presente também que o grosso da riqueza não fica nos moçambicanos. Não fica nos mais carentes. A maior parte vai para fora do país.

Muitas famílias dependem da atividade para sobreviver
Muitas famílias dependem da atividade para sobreviverFoto: Marta Barroso

DW: Quais são os cenários que o Sr. visualiza para o futuro se o garimpo ilegal continuar nestas dimensão e proporção?

CJ: O maior risco é uma grave situação de saúde pública, quando a água for usada por milhares de pessoas e não só mais pela província em questão. A situação será de calamidade pública. Alguns rios poluídos são afluentes de rios principais, de onde vem a água que vai para as cidades. Repare que em alguns casos estamos a falar de zonas onde há peixes que chegam às nossas mesas e estes podem ter concentrações de mercúrio em quantidades excessivas.

Autora: Nádia Issufo
Edição: Bettina Riffel / António Rocha

Garimpo ilegal em Moçambique pode matar