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Perigo à saúde

23 de dezembro de 2011

Próteses da fabricante francesa PIP contêm silicone industrial, usado em computadores, e apresentam alto índice de rompimento. A venda desta prótese é proibida no Brasil desde abril de 2010.

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Silicone industrial da PIP é usado em computadores
Silicone industrial da PIP é usado em computadoresFoto: dapd

Autoridades de saúde da França recomendaram as 30 mil mulheres no país com implantes de silicones produzidos pela empresa francesa Poly Implant Prothese (PIP) a retirá-los. Segundo o governo, as próteses podem se romper de maneira perigosa, causando infecções e irritações, mas não há urgência para a realização da retirada.

A recomendação despertou preocupação de profissionais e de pelo menos 300 mil mulheres em todo o mundo que possuem os implantes fabricados pela empresa a partir de silicone industrial – usado em computadores e utensílios de cozinha – em vez do silicone de uso médico tradicional.

Órgãos de saúde de vários países, inclusive do Brasil, estão em alerta. A comercialização das próteses de silicone da PIP estão proibidas no Brasil desde abril do ano passado, quando o governo da França divulgou informações sobre a possível fragilidade e a possibilidade de rompimento do produto.

Ainda assim, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) explica que ainda vai avaliar a documentação emitida pelas autoridades francesas para então definir se também fará uma recomendação para retirada dos implantes. Até a suspensão da importação do silicone francês, 25 mil próteses da PIP haviam sido vendidas no Brasil nos últimos anos.

Segundo a Anvisa, todas as próteses que são apresentadas ao mercado brasileiro passaram por testes antes de obter o registro de certificação. A PIP também tinha a autorização.

Brasil poderá recomendar a retirada de 25 mil próteses
Brasil poderá recomendar a retirada de 25 mil prótesesFoto: dapd

De acordo com dados da PIP em relação a 2010, cerca de 84% de sua então produção anual de 100 mil implantes de silicone abasteceram o mercado externo. Entre 2007 e 2009, entre 50% e 58% das suas exportações foram para países sulamericanos e algo entre 20% e 27% tiveram como destino países da Europa Ocidental.

No Reino Unido, por exemplo, estima-se que cerca de 40 mil mulheres tenham as próteses da empresa francesas. Boa parte delas agora processa médicos e clínicas, que elas consideram que "deveriam saber" que estavam vendendo material de baixa qualidade, e não silicone de uso médico.

Sem risco de câncer

O Ministério francês da Saúde explica que uma avaliação feita pelo Instituto Nacional de Câncer da França (INCa) comprovou que mulheres com implantes da PIP "não correm maior risco de contrair câncer" do que as que têm próteses produzidas por outras empresas. No entanto, foi confirmado o alto risco de rompimento das próteses da PIP e de possíveis infecções na sequência.

A mídia francesa vem noticiando que pelo menos oito mulheres sofreram de câncer por causa dos implantes defeituosos, e outras duas teriam morrido em consequência da doença.

O ministro francês da Saúde, Xavier Bertrand, considerou a recomendação para retirada de todos os implantes, mesmo daqueles que não apresentam sinais clínicos de deterioração, como uma "medida de precaução". Quem optar por permanecer com as próteses precisará passar por exames a cada seis meses.

Os seguros de saúde vão pagar pelas cirurgias, estimadas em 60 milhões de euros. No entanto, apenas mulheres que colocaram silicone com a finalidade de reconstruir seios retirados por causa de câncer de mama terão novos implantes pagos. As que optaram pelo procedimento por motivos meramente estéticos não terão novas próteses custeadas.

Recall em 2010

A PIP entrou em falência em março de 2010, com perdas de 9 milhões depois que a Agência de Segurança Médica francesa fez um recall dos implantes, baseado em relatos de cirurgiões de que um número muito grande de próteses estava se rompendo. Após uma inspeção, agentes encontraram um tipo de silicone de qualidade bem inferior, dez vezes mais barato, não autorizado pelas autoridades de saúde da França. Constatou-se que o material vinha sendo usado ilegalmente na composição dos produtos desde 2001.

Próteses com silicone industrial foram descartadas em 2010
Próteses com silicone industrial foram descartadas em 2010Foto: Picture-Alliance/dpa

Promotores de Justiça de Marselha – cidade próxima da sede da PIP, em Seyne-sur-Mer – já receberam mais de 2 mil queixas de francesas que receberam os implantes e abriram processo de investigação criminal contra a empresa.

Yves Haddad, advogado do fundador da empresa, Jean Claude Mas, de 72 anos, afirma que seu cliente nega que os implantes estejam relacionados a problemas de saúde. "Neste momento não há evidências de que o produto possa causar doenças", afirmou o advogado.

Autora: Mariana Santos
Revisão: Carlos Albuquerque