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Festival leva tendências do cinema brasileiro à capital da Alemanha

7 de novembro de 2012

A mostra Première Brasil 2012 traz novidades do cinema brasileiro a Berlim, celebrando a importância da literatura para a sétima arte. Safra de filmes produzidos no Nordeste é destaque.

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Foto: Promo

A produção de cinema no Brasil está a todo vapor. Em média, 100 filmes são produzidos anualmente, dando espaço a uma grande variedade de temas, estéticas e estilos. Estes refletem a identidade não só dos grandes centros culturais, mas procuram cada vez mais explorar a diversidade das regiões do país.

Apenas uma pequena parcela desta produção cinematográfica chega ao mercado alemão. Os berlinenses têm a chance de conferir alguns filmes brasileiros no festival Première Brasil, programa ligado ao Festival do Rio. A mostra abre também espaço para a exibição de clássicos do cinema brasileiro.

O vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival do Rio de 2011, As Canções, de Eduardo Coutinho, é um dos destaques da programação do Première Brasil 2012. De Coutinho, um dois mais conceituados documentaristas brasileiros, o festival exibe ainda o clássico Cabra marcado para morrer.

Filme des Rio de Janeiro International Film Festival - Songs
"As Canções" de Eduardo CoutinhoFoto: Promo

Cinema e literatura

Outro pilar do festival passa pela construção da dramaturgia visual brasileira através da literatura, com a exibição de adaptações literárias na história do cinema, como por exemplo São Bernardo, de Leon Hirszman, baseado na obra de Graciliano Ramos.

"O Brasil tem uma tradição forte de literatura no cinema, e a 'ponte' entre cinema e literatura se faz mesmo quando lemos livros profundamente cinematográficos ou filmes que nos remetem a histórias da nossa tradição literária," declara Ilda Santiago, diretora do festival.

Filme des Rio de Janeiro International Film Festival - Der Wirbel
"Girimunho" de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina: um retrato poético e filosófico do sertãoFoto: Promo

Na edição de 2012 do Première Brasil, a importância das adaptações literárias pode ser observada em diversos trabalhos. O filme que abre o evento nesta quarta-feira (07/11) é Capitães de areia, de Cecília Amado. A diretora adaptou, em sua estreia em longas-metragens, um dos grandes clássicos escritos por seu avô Jorge Amado.

"Os últimos anos têm sido pródigos em produções baseadas em obras da literatura brasileira e, além disso, em 2013, a Feira do Livro de Frankfurt recebe o Brasil como país homenageado. Aproveitamos também o centenário de Jorge Amado em 2012 e a boa safra de filmes clássicos restaurados pela Cinemateca Brasileira," explica Santiago.

De volta ao nordeste

Filme des Rio de Janeiro International Film Festival - The Last Cangaceiros
"Os últimos cangaceiros", de Wolney OliveiraFoto: Promo

O festival também destaca neste ano a redescoberta do interior brasileiro pelo cinema. Com sua beleza não usual e seu clima quente e muitas vezes árido, o Nordeste brasileiro está vivendo uma espécie de "ressurreição cinematográfica", na esteira da produção do Cinema Novo nos anos 1960. O Nordeste desempenhou um papel central em grandes clássicos, como Deus e o diabo na terra do sol , de Glauber Rocha, ou Vidas secas , adaptação de Nelson Pereira dos Santos do clássico de Graciliano Ramos.

O documentário Os Últimos cangaceiros, de Wolney Oliveira, mostra o casal Durvinha e Moreno. Eles fizeram parte do bando de Lampião, o mais controverso líder do cangaço. A verdade só é revelada quando Moreno, então com 95 anos, resolveu dividir com os filhos o peso das lembranças e reencontrar parentes vivos, entre eles seu primeiro filho.

Já a ficção Girimunho, de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, mostra um retrato poético e filosófico do sertão através da personagem Bastú, que depois da morte do marido começa a buscar sinais do falecido. Em suas pequenas jornadas, o filme ganha força em suas imagens e no elenco de atores amadores.

Filme des Rio de Janeiro International Film Festival - Look at me again
O documentário "Olhe para mim de novo", de Kiko Goifman e Claudia Priscilla, volta a BerlimFoto: Promo

De volta a Berlim

Como um tipo diferente de road movie, Olhe para mim de novo, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla, volta a Berlim depois de ter sua estreia internacional no último Festival Internacional de Cinema na cidade. "A recepção foi incrível. Houve muito respeito ao filme e ao personagem Syllvio Luccio. Sessões lotadas e ótimos debates depois do filme," disse o diretor Kiko Goifman.

O filme mostra a jornada de Syllvio Luccio, que, segundo o próprio, nasceu mulher, foi transformado em lésbica e agora é um homem. A viagem pelo sertão nordestino acompanha o protagonista em busca da sua identidade através de um Brasil árido, pobre, cheio de machismo, mas também cheio de vida.

"Voltar a Berlim é sensacional porque adoramos a cidade e a consideramos extremamente aberta para a discussão a respeito de sexualidade," completou o diretor, que depois de viajar o ano todo com o filme por diversos festivais ao redor do mundo, confirmou que o documentário será lançado comercialmente no Brasil em 2013.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Soraia Vilela / Francis França