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Festival explora diversidade musical dos países lusófonos

Marco Sanchez25 de julho de 2014

Com uma ampla programação cultural e artistas de diversos países, festival berlinense Wassermusik busca entender a relação de Portugal com suas antigas colônias através da música e do cinema.

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Brasileiro Lenine e holandês Martin Fondse se apresentam em show que remete a antigas conexões entre as duas naçõesFoto: Arlindo Camacho

Diferentemente do Brasil, que conquistou sua independência em 1822, outras colônias portugueses tiveram uma relação mais longa e estreita com seus colonizadores.

A Revolução dos Cravos, em 1974, não só colocou fim à ditadura que comandava Portugal desde 1933 como também abriu caminho para a independência de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Naquele 25 de abril, embalada por Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, e E Depois do Adeus, de Paulo Carvalho, a revolução também mudou os rumos do mundo lusófono.

Por ocasião dos 40 anos da revolução portuguesa, a sétima edição do festival Wassermusik resolveu ir a fundo na música que está sendo feita nos países que falam português ao redor do mundo.

Com grande variedade de artistas, vindos da África, da Europa e da América do Sul, o festival busca mostrar nomes consagrados ao lado de novas vozes, apresentar um panorama atual da cena desses países e investigar de maneira informal o legado e o desenvolvimento da mistura da cultura portuguesa com as culturas locais.

Festival Wassermusik
Cabo Snoop é um dos nomes da nova música urbana de AngolaFoto: Promo

Intersecções brasileiras

O Brasil é o grande destaque do primeiro fim de semana. Nesta sexta-feira (25/07), os paulistanos do Projeto Coisa Fina abrem a programação musical. O grupo instrumental homenageia um dos grandes nomes da música brasileira, desconhecido do grande público.

"Cursava saxofone e fazia parte da big band na faculdade Santa Marcelina [em São Paulo]. Refletindo sobre a cena musical da época [2005], achei que deveria aproveitar aquele momento, com aquelas pessoas, e experimentar com músicas do maestro Moacir Santos", diz o líder da banda, Daniel Nogueira.

Moacir Santos foi um dos principais arranjadores e compositores brasileiros dos anos 1950. Hoje quase desconhecido, ele foi de grande influência para nomes como Baden Powell, Sérgio Mendes e Dorival Caymmi. No final do anos 1960, mudou-se para Los Angeles, onde viveu até sua morte, em 2006.

"Sua música foi composta por uma fusão de influências. Ele era um músico fantástico, um compositor e arranjador fora do padrão. Suas músicas tinham as mais diversas influências: dos ritmos brasileiros, do jazz americano, da erudição européia, tudo se encaixa na mais perfeita harmonia", explica Nogueira.

Para o músico, o show em Berlim será uma dupla celebração, na qual, além das músicas de Santos, eles também apresentarão "outros compositores brasileiros de musicalidade ímpar, como Theo de Barros, Jacob do Bandolim, Mozar Terra, Luiz Gonzaga", que farão parte do novo disco da banda, a ser lançado em 2015.

Outro grande destaque é o projeto A Ponte, do pernambucano Lenine com a orquestra do holandês Martin Fondse. Buscando inspiração na ponte Maurício de Nassau, no Recife, marco histórico das relações entre Brasil e Holanda, a parceria recria antigos sucessos e novas músicas do brasileiro com a sonoridade dos holandeses, que misturam jazz, pop, trilha de cinema e música clássica.

Festival Wassermusik
Mayra Andrade é conhecida por sua interpretação pessoal, delicada e moderna da música tradicional de Cabo VerdeFoto: Vanessa Filhomd

Diversidade em português

Para quem quer se aventurar pelas paisagens sonoras dos países que falam português, o Wassermusik construiu uma seleção com grandes surpresas, apreciando o passado e buscando pistas dos novos caminhos e influências que a música pode tomar no mundo lusófono.

Mayra Andrade é um dos maiores nomes da música cabo-verdiana. Frequentemente comparada com o mito Cesária Évora, Andrade é conhecida internacionalmente por sua interpretação pessoal, delicada e moderna da música tradicional de Cabo Verde. Cantando em português, inglês, francês, sua música também é influenciada pela bossa nova, pela chanson e pelo pop.

O festival também traça um panorama da música feita em Angola nessas últimas quatro décadas. O Conjunto Angola 70 representa a velha guarda da música popular no país. Criado ainda durante a guerra, o grupo mistura ritmos tradicionais com guitarras psicodélicas e grooves latinos.

A noite Batida de Angola faz uma grande festa com Cabo Snoop, Homeboyz e DJ Nigga Fox e coloca o público para dançar com a nova e urbana música angolana. Além do Kuduro, ela mistura ritmos regionais com hip hop, techno e punk.

Da antiga metrópole, novos nomes mostram variações atuais e globais da melancolia portuguesa, como a profunda voz do lisboeta B Fachada ou a poderosa guitarra de Noberto Lobo, que flutua entre a bossa nova e o bluegrass.

A internacional e consagrada Maria de Medeiros é a grande estrela do festival. Além de apresentar canções de seus dois discos, que inclui clássicos da música brasileira, Medeiros também exibe Capitães de Abril, sua estreia na direção e que retrata os protagonistas da Revolução dos Cravos.

Ao lado do filme de Medeiros, serão exibidas obras de ficção e documentários, que desvendam o mundo da música em alguns desses países e mostram as relações entre o passado colonial e suas heranças e consequências no presente. É o caso do genial Tabu de Miguel Gomes, que faz um paralelo entre o amor na colonial Moçambique do século 19 e a solidão nos subúrbios de Lisboa dos dias de hoje.

O festival Wassermusik: Lusofonia acontece até 16 de agosto na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim.

Festival Wassermusik
Projeto Coisa Fina homenageia grandes nomes da música brasileiraFoto: André Albuquerque