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Condenada por comparar ministra negra a macaco

16 de julho de 2014

Ex-integrante da Frente Nacional recebe nove meses de prisão e multa de 50 mil euros, por incitar ao racismo em postagem no Facebook. Partido critica sentença da corte em Caiena como "grotescamente desproporcional".

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Anne Sophie Leclère paga caro por "brincadeira"Foto: Francois NascimbenI/AFP/Getty Images

A política Anne Sophie Leclère, ex-afiliada do partido francês de extrema direita Frente Nacional (FN), foi condenada nesta quarta-feira (16/07) a nove meses de prisão por incitação ao ódio racial, ao comparar a ministra da Justiça Christiane Taubira, que é negra, a um macaco.

A FN reagiu qualificando o veredicto como "repugnante" e possivelmente um dos mais duros, em anos, envolvendo "liberdade de expressão". A sentença foi pronunciada por uma corte de Caiena, capital da Guiana Francesa, de onde Taubira é natural.

Em dezembro último, a política direitista justapusera, em sua página no Facebook, a foto de um filhote de chimpanzé com uma da ministra. Ambas as imagens eram legendadas: "aos 18 meses" e "hoje", respectivamente. Na época, ela era candidata pela Frente Nacional às eleições municipais de março de 2014, em Rethel, no nordeste da França. O partido a expulsou em seguida, o que não o impediu de também ser condenado a uma multa de 30 mil euros.

Leclère – que, além da detenção, terá que pagar uma multa de 50 mil euros e ficará inelegível por cinco anos – anunciou que vai recorrer da sentença. "É completamente desproporcional. Fiquei realmente chocada ao saber da sentença. Criminosos são condenados e recebem uma pulseira [de monitoramento eletrônico] e eu ganho prisão", comentou à agência de notícias AFP.

Lembrete contra o racismo

Inquirido pela televisão France 2, o porta-voz do presidente François Hollande disse que não comentaria a decisão de um tribunal. No entanto, em alusão às críticas da FN, ressaltou que "repugnante é o que foi postado pela candidata" do partido. Desde o início da polêmica, Leclère tem tentado se defender alegando que os comentários foram uma "brincadeira" e não continham teor racista. "A foto foi postada na minha página do Facebook e eu a apaguei alguns dias depois. Não fui eu que criei a montagem."

Sua antiga sigla, liderada por Marine Le Pen, também declarou que vai impetrar um recurso contra a multa. "A FN nunca deu aval para que a Sra. Leclère fizesse aquelas declarações," disse seu vice-presidente, Florian Philippot, em entrevista à rádio RMC. "Que ela seja condenada politicamente, nós já cuidamos. Que seja condenada judicialmente, talvez, mas não nessa proporção. Isso é grotescamente desproporcional, simplesmente não faz o menor sentido. Trata-se obviamente de uma sentença política."

A queixa foi levada à corte de Caiena por um membro do partido Walwari, cofundado por Taubira na década de 1990. A própria ministra de 62 anos declinara de qualquer ação judicial. O veredicto ultrapassou as demandas da promotoria, que pedia para Leclère quatro meses de prisão, cinco anos de inelegibilidade e 5 mil euros de multa.

Französische Justizministerin Christiane Taubira
Ministra da Justiça Christiane Taubira nasceu na Guiana FrancesaFoto: Reuters

Situada na América do Sul, a Guiana Francesa é um departamento ultramarino da França. Para Joel Pied, membro do Walwari, contudo, a sentença foi "histórica e benéfica". "Uma instituição proeminente da República reconhece que a FN é punível pela lei e que é um partido racista. Esperamos que essa decisão represente um marco."

Associações que combatem o racismo igualmente elogiaram o veredicto. A SOS Racisme o qualificou como "um acontecimento raro e possivelmente sem precedentes. Um lembrete de que o racismo é profundamente prejudicial à vida em sociedade e de que não se pode deixá-lo florescer ou tolerá-lo na República".

IP/afp/rtr/dpa