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"Extremismo na Europa está interligado", diz sobrevivente de Utoya

Stephanie Höppner (rm)21 de julho de 2014

Três anos após o massacre promovido por Anders Breivik na Noruega, Bjorn Ihler diz que hoje consegue viver com as lembranças da tragédia. Aos 22 anos, ele é atualmente ativista e se dedica a combater o racismo.

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Foto: Reuters

O ativista norueguês Bjorn Ihler, de 22 anos, estava na ilha de Utoya quando o extremista Anders Breivik abriu fogo contra dezenas de jovens ali reunidos para um encontro do Partido Social Democrata, em 22 de julho de 2011.

Breivik matou 68 pessoas, mas Ihler conseguiu escapar, levando consigo dois meninos, de 8 e 9 anos. Três anos após o massacre, ele relembra os acontecimentos daquele dia e reforça a importância de lutar contra o extremismo na Europa.

DW:O massacre foi há três anos e o julgamento, ao qual você também compareceu, foi há dois anos. Como você se sente hoje?

Bjorn Ihler:Estou bem melhor hoje do que estava durante o inquérito e o julgamento. Hoje eu estou viajando e trabalhando contra o nazismo e o extremismo de direita. E isso, é claro, tem como base o que eu vivenciei. No entanto, eu ainda sou capaz de viver minha vida e me manter em controle sobre o que aconteceu.

Ainda são fortes as lembranças daquele dia?

Bom, as memórias estão aqui e provavelmente sempre estarão. Mas elas não me incomodam mais.

No dia do massacre em Utoya você salvou a vida de dois jovens. Você ainda mantém contato com a família deles?

Não tão ativo. Eu tenho contato com alguns de seus parentes no Facebook e coisas assim. Mas eu estou deixando os meninos em paz por enquanto. Eles sabem que podem entrar em contato comigo se quiserem. Acho que agora eu ainda sou uma lembrança do trauma para eles e, assim, eu os respeito.

Bjørn Ihler estava na ilha de Utoya durante ataque de Breivik em 22 de julho de 2011
Bjørn Ihler estava na ilha de Utoya durante ataque de breivik em julho de 2011Foto: Dennis Lehmann

Que tipo de impacto o massacre tem na sua vida hoje – você acha que tem uma missão ou talvez a sensação de que dever fazer do mundo um lugar melhor?

Bem, eu tenho essa missão. Eu acho que tenho pelo menos uma versão dessa missão, independentemente do que aconteceu. Acho que também teria trabalhado ativamente contra o racismo e a favor da paz. Mas isso [o massacre], é claro, dá um foco especial e eu uso minhas experiências pessoais no meu trabalho.

Depois do drama, a sociedade norueguesa debateu bastante sobre abertura e mais democracia. Onde você diria que a sociedade da Noruega se posiciona hoje?

Eu diria que tudo foi um espetáculo. Logo após, começaram a tentar fazer novas leis para prender pessoas por um período mais longo, o que é extremamente antidemocrático. O Partido Trabalhista pediu que eu enviasse tudo o que escrevi para jornais para a censura de sua liderança central, o que também é imensamente antidemocrático e vai contra o diálogo de abertura. Eles disseram coisas boas, mas não deram continuidade.

Você está decepcionado?

Sim.

O que aconteceu no seu país também teve conseqüências para o restante da Europa?

Teve sim, é claro. O extremismo de direita na Europa está interligado. Os extremistas estão em contato e nós vemos isso, por exemplo, na correspondência mantida entre Breivik e Beate Zschäpe no julgamento do NSU [Clandestinidade Nacional-Socialista, o grupo neonazista que matou dez pessoas na Alemanha entre 2000 e 2007]. Nós também vemos que eles têm a mesma experiência ideológica. Todos nós trabalhamos internacionalmente contra isso porque eles também trabalham na esfera internacional.

O massacre serviu para mudar a maneira com a qual se lida com a migração?

Não acho que Breivik mudou a maneira com a qual vemos a questão da migração.

Você poderia explicar por quê?

Porque eu acho que Breivik e pessoas como Breivik viam a migração do jeito que eles viam. E porque o restante da população vê a migração do jeito que eles veem. Em certa medida, a maneira com a qual a maioria vê a migração justifica o jeito que Breivik vê a migração por sempre falar sobre tolerância e sobre como nós temos de tolerar essa coisa que foi forçada sobre nós. Eu não acho que muitas pessoas mudaram seus pontos de vista sobre isso por causa de Breivik.

Quando você esteve em Munique em julho você também compareceu ao julgamento de Beate Zschäpe. O que você achou?

Minha impressão geral foi que [o julgamento] foi muito mais profundo em detalhes do que o de Breivik. É claro que durou muito mais tempo e é um caso muito mais complexo porque trata de diversos incidentes. Mas, no geral, foi bem semelhante em diversas maneiras.

Há paralelos entre os crimes cometidos por Breivik e pela NSU?

Sim, há paralelos definidos em ideologia e no contexto no qual eles cometeram os crimes. E há uma ideologia no pano de fundo contra a qual devemos trabalhar ativamente porque vemos semelhanças tanto na Alemanha como na Noruega e em toda a Europa.

E, em sua opinião, onde estariam as diferenças?

Uma grande diferença é que Breivik atacou a maioria da população. Ele atacou jovens brancos. A NSU atacou principalmente imigrantes turcos. Essa é uma diferença clara, mas todos eles fizeram por causa dos mesmos objetivos políticos.