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Ex-militares denunciam corrupção nas Forças Armadas Angolanas

Vieira,Anselmo3 de dezembro de 2013

Forças Armadas Angolanas exigem dinheiro para agilizar processo de revalidação de patentes, dizem ex-combatentes. Venda de patentes a civis também preocupa o Fórum Independente dos Desmobilizados de Guerra.

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O Fórum Indepedente dos Desmobilizados de Guerra (FIDEGA) está desapontado como o processo de revalidação dos cerca de 32 mil ex-militares das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), antigo braço armado do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), bem como das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), ao nivel da provincia da Huíla, por lhes estarem a ser cobrados 50 mil kwanzas, o equivalente a 500 dólares, para agilizarem o caso.

O presidente do FIDEGA, Coronel na reserva Nunes Manuel (Tubia), afirma que esta situação preocupa os antigos combatentes pelo facto de ser um direito que lhes cabe por lei e estes valores são pedidos por elementos identificados das Forças Armadas Angolanas (FAA), no Distrito de Recrutamento Militar, onde são chamados várias vezes pelos seus filiados, a fim de procurarem contornar a situação.

"A corrupção nao parou. Mesmo que as pessoas tenham esse direito, às vezes para encontrar este benefício têm de responder a uma solicitação de dar 500 dólares para se agilizar o processo", explica o presidente do FIDEGA. "E têm esse direito, não precisam disto, porque os órgãos do exército têm de realizar o trabalho que lhes compete", continua, explicando que o Fórum fica "muitas vezes sem saber o que fazer" perante estas situações.

Governo mantém-se em silêncio

Devido a esta e outras situações, o processo de revalidação dos ex-militares - 12 mil homens da UNITA e 22 mil do MPLA - segundo fontes que acompanham o processo, ainda nem atingiu os 2%, ao nível da província da Huíla.

De acordo com Nunes Manuel, "todo este processo tem vícios, benefícios de direitos de outrém" que têm manchado o processo por parte de altas patentes do exército. E, por isso, deixa o alerta: "os desmobilizados encontram-se numa situação de perigo". Para resolver a situação, o presidente do FIDEGA propõe "uma comissão de auscultação no seio das Forças Armadas". "Mesmo assim, desde abril que fazemos estas reivindicações e até hoje não houve resposta", conta.

"Os Antigos Combatentes em Angola estao abandonados, humilhados, desprezados", afirma Nunes Manuel, explicando que "a frustração" está a tomar conta destes oficiais. "Ninguém diz nada. Endereçámos uma carta ao gabinete do vice-Presidente da República, ao ministro da Defesa, ao Estado Maior das Forças Armadas Angolanas que, até hoje, disseram absolutamente nada. Não há vontade por parte do Governo".

Venda de patentes confere estatuto militar a empresários e políticos

A secretária provincial da UNITA na Huíla, Amélia Judith Ernesto, diz que há mais de cinco mil pessoas por revalidar. O seu partido, afirma, tem estado a pressionar as estruturas do governo para que resolvam a situação.

"É um processo que está a ser negligenciado", considera, exemplificando com "a venda de patentes". "Se estamos num Estado onde existem órgãos, porque é que alguém não põe um ponto final nesta situação?", questiona ainda, frisando que "aqueles que deviam ser desmobilizados andam a deambular por todo o país e aqueles que nem se quer foram militares, hoje, porque têm disponibilidades financeiras, podem comprar as patentes".

Várias franjas da sociedade angolana têm vindo a exigir ao governo angolano que se pronuncie sobre o assunto, uma vez que empresários de renome e alguns políticos que nunca pegaram em armas sao generais na Caixa Social, de acordo com o blogue Makangola. Entre estas figuras estão o empresário Luís da Fonseca Nunes e João Marcelino Tchipingui, primeiro secretário provincial do MPLA desde 1992 e governador da província da Huíla.

A DW África procurou ouvir responsáveis do exército na Região Militar Sul, sedeada na cidade do Lubango, capital da província da Huíla, que responde também pelas províncias do Namibe, Cunene e Kuando-Kubango, mas estes negaram prestar qualquer informação sobre o assunto.