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Eurocéticos ganham espaço na Alemanha e prometem reforma política radical

Ben Knight (rc)15 de setembro de 2014

O Alternativa para a Alemanha (AfD) já conquistou assentos em três parlamentos regionais. Políticos dizem que vieram para ficar, mas partidos tradicionais afirmam que se trata apenas de uma legenda de protesto.

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Bernd Lucke, líder do AfD, afirma que resultados são "prova de confiança" do eleitoradoFoto: picture-alliance/dpa

Nigel Farage, líder do eurocético Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), certa vez classificou seu equivalente alemão, o Alternativa para a Alemanha (AfD), como "um tanto acadêmico, mas muito interessante". Mas, após os resultados das eleições regionais alemãs deste domingo (14/09), ele talvez tenha que mudar sua postura sobre os colegas germânicos.

O AfD, fundado há apenas 19 meses numa pequena cidade do estado de Hesse, já conseguiu eleger representantes para os parlamentos regionais de três estados, todos no leste do país. Os resultados implicam prejuízo para os partidos tradicionais, em particular, para a conservadora União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel.

O sucesso dos eurocéticos enterrou as esperanças dos partidos tradicionais de que o fraco desempenho do AfD nas eleições federais de 2013 poderia ter condenado a agremiação ao ostracismo político. Na ocasião, o AfD por pouco não atingiu o mínimo de 5% dos votos necessários para conseguirem estar presentes no Parlamento alemão.

Entretanto, nas eleições europeias, em março deste ano, a sigla conquistou sete dos 96 assentos da Alemanha no Parlamento Europeu. Há duas semanas, no estado da Saxônia, o AfD angariou 9,7% dos votos, e, neste domingo, em Brandemburgo e na Turíngia, conseguiu 12,2% e 12,4%, respectivamente.

Além do euroceticismo

O que impressiona no sucesso atual do partido é o fato de que a crise econômica europeia – a razão fundamental da existência do AfD – já não domina as manchetes no país há algum tempo. Quando foi formado, o partido era constituído em grande parte por economistas conservadores – como o líder da legenda, Bernd Lucke – insatisfeitos com as políticas de Merkel para a zona do euro.

"A zona do euro se provou insustentável", afirmava uma das primeiras declarações do partido. "Os Estados do sul da Europa estão empobrecendo, sob a pressão para competir. Estados inteiros estão à beira da falência."

Landtagswahl Thüringen 14.09.2014 Freude bei der Alternative für Deutschland AfD
Desempenho nas eleições em Brandemburgo e na Turíngia deixou AfD em clima de euforiaFoto: picture-alliance/dpa/Hendrik Schmidt

Apesar de a imprensa ter subestimado essa perspectiva, classificando-a como simplista, muitos alemães compartilharam da visão básica do AfD sobre uma calamidade econômica europeia, resumida no ano passado em um de seus slogans: "Os gregos sofrem, os alemães pagam a conta, os bancos lucram".

O cerne da política do AfD para a Europa era o desmantelamento ordenado da zona do euro e a reintrodução das moedas correntes nacionais, ou ainda, a criação de "unidades monetárias menores e mais estáveis".

Ao contrário do UKIP, o AfD não é abertamente nacionalista. A sigla até despreza comparações com o partido britânico e outros grupos conservadores, como o Tea Party dos Estados Unidos. Além disso, os eurocéticos alemães não são contra a União Europeia em si, mas contra uma maior centralização do poder europeu.

Novo conservadorismo

As origens, assim como os desenvolvimentos do AfD no ano passado, demonstram que a sigla se formou, basicamente, de uma ala rebelde da CDU, irritada com as políticas de centro de Merkel.

Assim como muitos partidos iniciantes, os eurocéticos ficam contentes em retirar poder das siglas tradicionais e almejam uma reforma radical no sistema democrático alemão, através de manobras no estilo do referendo na Suíça. Realizada em fevereiro deste ano, a consulta popular, proposta por um partido populista de direita, impôs ao governo suíço medidas de restrição à imigração.

De modo semelhante ao Ukip, o AfD também defende reformas estruturais no sistema de imigração europeu – em especial, o bloqueio aos imigrantes com nível mais baixo de educação, negando a eles o acesso ao sistema de bem-estar social. Lucke chegou a afirmar no ano passado que existia o perigo de que tais pessoas formassem "um tipo de sedimento social – um sedimento que permanecerá para sempre preso a nosso sistema de benefícios sociais".

Declarações como essa costumam ecoar entre os eleitores da extrema direita. Os resultados, em particular o da Saxônia, demonstram que o AfD angariou os votos dos ultradireitistas do Partido Nacional Democrático (NPD), que ficaram de fora do parlamento regional.

O populismo conservador do AfD também está evidente em outras questões. Eles se opõem à transição energética para as energias renováveis, sob o argumento de que exige demasiados subsídios estatais. "A produção de energia deve provar sua viabilidade na economia de mercado", afirma o partido em seu website.

Prova de fogo

Ainda é cedo para avaliar se o AfD irá de fato se estabelecer como um partido que conseguirá transformar permanentemente o cenário político alemão, ou se, como afirmam os partidos tradicionais, é apenas uma legenda de protesto.

Na noite deste domingo, Lucke enfatizou que os resultados das eleições são uma "prova de confiança" do eleitorado. O líder do partido em Brandemburgo, Alexander Gauland, foi mais longe. "Entramos na política alemã, e ninguém mais pode nos tirar", disse.

A partir de agora, o teste para o AfD será mostrar como o partido lida com a responsabilidade de uma real representação política e mostrar se vai conseguir se manter em evidência pelos próximos dois anos, até o momento em que os estados do oeste do país forem às urnas.