1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Estratégia de Obama para o Iraque é contestada nos EUA

Richard Walker (md)25 de agosto de 2014

Limitada demais, vaga e sujeita a ampliações não previstas: ação contra o grupo extremista "Estado Islâmico" provoca insatisfação nos EUA. Execução do jornalista James Foley pode impulsionar novas operações.

https://p.dw.com/p/1D0Mg
Foto: picture-alliance/dpa

Na noite de 7 de agosto, o presidente Barack Obama entrou na Sala de Jantar de Estado da Casa Branca e disse ao povo americano: "Hoje, eu autorizei duas operações no Iraque – ataques aéreos dirigidos para proteger os nossos funcionários americanos e um esforço humanitário para ajudar a salvar milhares de civis iraquianos que estão refugiados em uma montanha, sem comida e água, sujeitos a uma morte quase certa."

Obama não deu nome sugestivo algum para as operações. Ele estabeleceu uma missão limitada: deter o avanço do "Estado Islâmico" (EI) na cidade curda de Erbil, sede de um consulado dos Estados Unidos, e prevenir um possível genocídio contra milhares de yazidis presos no Monte Sinjar.

Sem uma nova guerra

O discurso não teve qualquer menção a "destruir" o EI, e Obama foi enfático ao dizer que não envolveria forças de combate dos EUA. "Não vou permitir que os Estados Unidos sejam arrastados para lutarem em outra guerra no Iraque", afirmou.

No discurso ainda havia uma terceira mensagem, menos clara, porém: "Uma vez que o Iraque tenha um novo governo, os EUA vão cooperar com ele e outros países da região para fornecer maior apoio para lidar com essa crise humanitária e o desafio do contraterrorismo."

Enquanto Obama falava, o primeiro-ministro Nouri al-Maliki ainda se agarrava ao poder em Bagdá, depois de uma eleição inconclusiva. Para os EUA, sua negligência em relação ao descontentamento sunita e sua incapacidade de sustentar o Exército iraquiano permitiram o avanço do EI. Até mesmo o Irã, um ex-aliado, concordava que Maliki tinha que deixar o cargo.

Haider al-Abadi
Novo premiê iraquiano, Haider al-Abadi, é nova esperança para EUAFoto: picture alliance / AP Photo

Em poucos dias, o presidente do Iraque nomeou um novo primeiro-ministro, Haider al-Abadi. Ele é um membro do partido de Maliki, mas um homem visto como disposto a construir pontes entre as divisões sectárias do Iraque. Ele têm os apoios cruciais dos EUA e do Irã. Após uma resistência inicial, em 14 de agosto Maliki finalmente cedeu. Agora cabe a Abadi formar o novo governo que Obama vinha pedindo.

Operações adicionais

Mesmo sem esse novo governo, os EUA logo ampliaram suas operações para além do Monte Sinjar e de Erbil. Em 15 de agosto, lançaram ataques em apoio das forças iraquianas e curdas que lutavam para retomar a represa de Mosul, uma peça fundamental da infraestrutura, invadida por combatentes do EI.

A Casa Branca continuou a argumentar que estava protegendo os americanos: "A tomada da represa de Mossul poderia ameaçar a vida de um grande número de civis, pôr em perigo os funcionários do governo americano e suas instalações, incluindo a Embaixada dos EUA em Bagdá, e impediria o governo iraquiano de prestar serviços essenciais à população iraquiana."

Irak Peshmerga-Kämpfer am Mossul-Staudamm 21.08.2014
Combatentes curdos após reconquista da represa de Mosul: "ação para proteger americanos no Iraque"Foto: Reuters

Para os críticos, as justificativas mistas pareciam tensas. "Obama, seja franco sobre o Iraque", escreveu Robin Wright, do instituto público-privado Wilson Center. "Os Estados Unidos ultrapassaram o limite." Enquanto isso, as operações na barragem foram logo dominando a missão geral, representando em torno de dois terços dos ataques aéreos.

Em 18 de agosto, Obama foi confrontado com a questão de ampliar a missão para além do pretendido inicialmente. Ele respondeu: "Não estamos reintroduzindo milhares de soldados americanos de volta à área." E repetiu seu apelo por um novo governo iraquiano: "Se tivermos parceiros efetivos na região, é menos provável que tenhamos de ampliar a missão."

Assassinato de James Foley

Um dia depois, foi publicado um vídeo na internet intitulado Uma mensagem para a América, em que é mostrado o assassinato do jornalista James Foley. A mensagem era um apelo pela suspensão dos ataques aéreos. Mas, dada à força de suas imagens, acabou elevando a pressão para uma ampliação da missão.

"Destrua o Estado Islâmico agora", escreveu um dos mais reconhecidos generais da reserva dos Estados Unidos, John Allen, acrescentando que o grupo "é um perigo claro e presente para os EUA". O Wall Street Journal se dirigiu diretamente ao presidente: "O que você vai fazer a respeito disso?"

James Foley Journalist Reporter
Jornalista James Foley: execução do americano fez crescer pressão por ampliação dos ataques dos EUAFoto: picture-alliance/dpa

A própria linguagem do governo também começou a endurecer. O secretário de Defesa, Chuck Hagel, foi questionado se o EI representa uma ameaça ao nível do 11 de Setembro. Ele respondeu dizendo: "Isto vai além de qualquer coisa que já vimos. Então, temos que nos preparar para tudo." E acrescentou que ataques aéreos contra o EI na Síria também estavam sendo cogitados.

O conselheiro de Obama Ben Rhodes citou motivos para fazê-lo. Ele descreveu o assassinato de Foley como um "ataque terrorista contra o país", que abre a porta para uma resposta dirigida ao local onde Foley havia sido preso – a Síria. "Se você persegue americanos, nós vamos perseguir você, onde quer que esteja", afirmou. "Isso é o que vai orientar o nosso planejamento nos dias que virão."

Possível novo salto

Foi a dica mais direta até agora de que esta operação sem nome pode dar um novo salto. Em outra parte, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, não se mostrou reticente quando falou da destruição do Estado Islâmico. "O EI e as maldades que ele representa devem ser destruídos."

Kontrollpunkt vor der von der IS-Miliz eingekesselten Stadt Amerli
Soldado nos arredores de Amerli. Cidade foi sitiada pelo EI. ONU alertou para risco de massacre na regiãoFoto: Getty Images

Michael O'Hanlon, do Brookings Institution, diz que é possível combater o EI sem uma grande operação em solo. Ele defende várias opções, envolvendo até 5 mil soldados das forças especiais.

"Acho que ele pode ganhar mais licença e liberdade agora que Haider al-Abadi está formando um novo governo", afirma O'Hanlon.

E isso remete à terceira parte do discurso de TV de Obama, realizado em 7 de agosto: "maior apoio" para um novo governo, para lidar com o "desafio do contraterrorismo".

Brian Fishman, analista da New America Foundation, não acredita na ideia de uma operação limitada. Ele argumenta que, para derrotar o EI, seria necessária uma força muito maior e adverte contra a tentativa de levar "o povo americano a uma guerra com objetivos inconstantes".

O respeitado general americano John Dempsey também falou em derrotar o Estado Islâmico – mas em termos políticos. "O EI só será realmente derrotado quando for rejeitado pelos 20 milhões de marginalizados sunitas que residem entre Damasco e Bagdá", disse.

Mas e se isso não acontecer? E se o lado político da estratégia americana falhar? "Então, vamos ter que conter o problema, tanto quanto possível, agindo fora da Jordânia e do Curdistão", opina O'Hanlon.

Uma questão crucial aparece: se Haider al-Abadi conseguirá formar o novo governo com o qual Obama está contando. Considerando o ritmo dos acontecimentos desde o começo dos ataques aéreos, a crise pode parecer muito diferente no momento em que se descobrir isso.