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"Estado Islâmico" tenta tomar maior refinaria de petróleo do Iraque

Birgit Svensson, de Kirkuk (md)27 de agosto de 2014

Há semanas extremistas tentam assumir o controle do complexo industrial na cidade de Baiji. Para isso, perseguem policiais e soldados, e moradores que conseguiram fugir relatam assassinatos e sequestros.

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Foto: picture-alliance/dpa

Ahmed está desconsolado. Vestido com um agasalho surrado, ele está sentado no chão de um apartamento em Kirkuk que não pertence a ele e onde só tem abrigo temporário. Sua esposa e seus três filhos estão separados, morando com parentes espalhados pelas áreas autônomas curdas.

"Perdemos tudo", lamenta a iraquiano de 35 anos. "Nossa casa em Baiji foi bombardeada, não sobrou nada." A única coisa que ainda resta à família são suas próprias vidas.

Muitos outros moradores da cidade foram mortos pela milícia radical "Estado Islâmico" (IS). "No começo, eles não faziam mal a mal a ninguém", diz Ahmed. Imediatamente após o ataque a Tikrit em 12 de junho, os jihadistas também chegaram a Baiji, localizada a 45 quilômetros da cidade. Os moradores os saldaram com alegria. "Eles conversaram conosco, distribuíram gasolina, comida e doces."

Agora, pouco mais de dois meses depois, tudo mudou. Ahmed conta que os terroristas foram descobrindo quem era da polícia ou do Exército iraquiano. "Eles nos matam, sequestram nossas mulheres e crianças e bombardeiam nossas casas." Por ser policial, ele teve que fugir rapidamente da cidade. Temendo pela vida, não quer dizer seu nome completo e nem ser fotografado.

Cerco paralisa refinaria

Há semanas, existe uma luta feroz pela maior refinaria de petróleo do país. Vindos de três flancos, os radicais islâmicos atacaram novamente no domingo (24/08) a refinaria de Baiji. Em junho, eles já haviam conseguido entrar no complexo. Depois de violentos combates, as tropas do governo, entretanto, conseguiram expulsar os terroristas. O número de baixas foi elevado.

Desde então, os combatentes do EI fecharam o cerco em torno da cidade e controlam os dutos que levam combustível da refinaria para áreas circundantes. Uma das tubulações leva óleo bruto dos poços de Kirkuk até a refinaria em Baiji, uma segunda é destinada a levar petróleo refinado para o porto turco de Ceyhan, no Mediterrâneo. Com isso, a operação do complexo se torna impossível.

Propagandabild IS-Kämpfer
Membros do "Estado Islâmico": milícia se preocupa em não danificar refinariaFoto: picture-alliance/abaca

Ahmed sabe que apenas cerca de cem membros de uma unidade especial do Exército iraquiano permaneceram para defender o complexo. Na segunda-feira, eles conseguiram novamente impedir a invasão do lugar por combatentes do EI, com o reforço de helicópteros.

Postos sem combustível

Se Baiji não fosse a sede da principal refinaria de petróleo do Iraque, poucos conheceriam essa cidade de 60 mil moradores. Antigamente, quem ia de Bagdá a Mossul, no norte, costumava fazer uma pausa depois de 180 quilômetros, em Baiji, para reabastecimento.

A gasolina vinha da refinaria, o maior empregador da região. O fornecimento de combustível de grande parte do norte do Iraque depende de Baiji. Com uma capacidade de processamento de 310 mil barris de petróleo por dia, a refinaria cobria mais de um terço da demanda doméstica.

Agora, especialmente a cidade de Kirkuk se recente da suspensão das operações no complexo. Há semanas, as bombas de combustível dos postos de gasolina estão vazias, e os geradores, sem querosene.

Quando há falta de energia, as pessoas têm que suportar o calor em torno de 40 graus. Quem tem dinheiro suficiente, compra combustível no mercado negro. Vendedores de rua portando dois galões – um para gasolina e outro para querosene – fazem agora parte da paisagem urbana de Kirkuk. O litro custa 1.500 dinares (cerca de 1 euro), três vezes o preço original. Os vendedores dizem que a gasolina vem da Turquia.

Baiji já se tornou objeto de disputas. Foi em 2003, após a invasão das tropas americanas e britânicas. A cidade passou, então, a atrair insurgentes. As tropas da coalizão tinham, cada vez com mais frequência, de intervir para trazer de volta a paz. Na época, as tropas americanas formaram um grande anel em torno da refinaria. Com o complexo fortemente vigiado, os insurgentes tiveram pouco sucesso com ataques diretos, optando por sabotagens contra os oleodutos, mais difíceis de proteger. Também houve vários sequestros de trabalhadores.

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Nuvem de fumaça na região da refinaria de Baiji: unidade está paralisadaFoto: picture-alliance/dpa

Jihadistas querem preservar complexo

Em 24 de janeiro de 2006, os engenheiros alemães René Bräunlich e Thomas Nitzschke foram sequestrados em Baiji, tendo sido soltos depois de 99 dias. Enquanto na época os insurgentes, liderados pela Al Qaeda, não hesitavam em promover ataques com explosivos contra a usina, os militantes do Estado Islâmico parecem querer preservar a funcionalidade do complexo.

O "califado" proclamado pelos extremistas precisa urgentemente de uma refinaria para processar o petróleo bruto obtido em seu território. Por isso, a tática do grupo terrorista parece ser outra: eles atacam repetidamente, até conseguirem.

Mahmoud, colega de Ahmed, também conseguiu fugir para Kirkuk. Ele, que também não quer dizer o sobrenome, relatou que os combatentes do EI estariam agora usando armas de defesa aérea instaladas sobre picapes, visando os voos que abastecem as forças do governo dentro da refinaria.

Agora, quatro helicópteros passaram a ser usados ao mesmo tempo. Um pousa dentro da unidade, onde os soldados estão, enquanto outros dois ou três fazem a proteção do transporte, com metralhadoras.

O policial Mahmoud teme que caso os combatentes do EI percam a paciência, passem a atacar com morteiros e foguetes. Nesse caso, entretanto, a refinaria seria atingida. Ele ainda se sente seguro em Kirkuk. Mas se os jihadistas do EI chegarem à cidade, ele diz não saber o que fazer.