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Escândalo lança dúvida sobre real influência de Obama na espionagem

Antje Passenheim (ca)28 de outubro de 2013

Monitoramento de telefones de líderes mundiais teria começado há uma década, após o 11 de Setembro. Mas NSA sustenta que o atual presidente americano, no poder desde 2008, nada sabia. Republicano contesta versão.

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Foto: Reuters/Anton Denisov/RIA Novosti

Enquanto a Casa Branca mantém silêncio, a Agência de Segurança Nacional (NSA) nega as denúncias, feitas pelo tabloide Bild no fim de semana, de que seu chefe, Keith Alexander, informou o presidente Barack Obama ainda em 2010 sobre os grampos no telefone da chanceler federal alemã, Angela Merkel.

Em comunicado, Vanee Vines, porta-voz da NSA, garantiu que Alexander não conversou com Obama, nem discutiu qualquer operação envolvendo Merkel. "Relatos que afirmam o contrário não são verdadeiros", diz a nota.

Um reportagem do Wall Street Journal reforça a versão. Nela, fontes do governo americano confirmam pela primeira vez que a NSA espionou Merkel e mais de 30 líderes mundiais – porém, afirmam, sem o consentimento de Obama. As escutas teriam sido desativadas em meados deste ano após uma investigação interna da Casa Branca.

As escuta telefônicas teriam começado há uma década, segundo o jornal New York Times, pouco depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. Na época, Merkel era presidente do seu partido, a União Democrática Cristã (CDU).

"Para mim, o que vem à tona agora não é surpresa", diz à DW Thomas Drake, que foi durante 18 anos funcionário da NSA e que, bem antes de Edward Snowden, revelou segredos da agência americana à imprensa.

Comparação com a Stasi

Em 2010, Drake divulgou informações sobre um programa de espionagem chamado trailblazer – e se tornou um inimigo do Estado. "Depois de tudo que fiquei sabendo de dentro daquele aparato, tinha esperanças e já contava que o próximo choque estaria por vir", conta.

As lembranças de Drake se encaixam com parte das informações que estão circulando na mídia sobre o período em que ocorreu a espionagem: "Isso aconteceu logo após os ataques de 11 de setembro: devido ao fato de que muitos autores de atentados estavam circulando na Alemanha, viviam na Alemanha, ou haviam viajado pela Alemanha, a NSA e o governo americano declararam o país como alvo número 1 na Europa."

Thomas Drake auf Anti-NSA Demonstration
Thomas Drake em manifestação contra a NSA em WashingtonFoto: DW

Na opinião de Drake, no entanto, o que veio agora à tona é escandaloso. "Trata-se de uma violação incrível das regras da diplomacia internacional", diz o antigo funcionário da NSA. "Isso afeta pessoalmente Merkel. É o telefone celular pessoal dela. Qual a necessidade disso? Ela está entre os nossos principais aliados na luta contra as ameaças reais."

O homem que antes espionava a antiga Alemanha Oriental a partir de aviões diz que a situação agora faz lembrar da Stasi [polícia secreta do regime comunista] ou até mesmo da Alemanha nazista. "Por isso, esse escândalo atinge Merkel de forma ainda mais pessoal", opina, numa referência ao fato de a chanceler federal ter vivido sob regime ditatorial da antiga RDA.

A espionagem americana foi criticada também pelo jornalista do Washington Post Bob Woodward. "É preciso repensar todo esse mundo do serviço secreto", disse o repórter em programa de entrevistas no canal CBS. "Temos um governo incrivelmente poderoso que ligou o piloto automático."

Oliver Stone critica

Juntamente com o colega Carl Bernstein, Woodward tornou público o escândalo de grampos contra a sede do Partido Democrático pela equipe de campanha do presidente Richard Nixon. Em consequência disso, Nixon acabou renunciado ao cargo, em 1974.

Críticos do serviço de inteligência americano, como o diretor hollywoodiano Oliver Stone, já compararam o atual escândalo da NSA com o caso Watergate. Os crimes de Nixon prenunciaram em décadas a era da internet, disse Stone em vídeo de protesto postado na web e que realizou junto a diversos ativistas de direitos civis e atores.

NSA Abhörskandal Handy Merkel Dokument Ausschnitt
Detalhe do documento em que o grampo em telefone de Merkel é mencionado

A Casa Branca não acrescentou nada de novo à sua antiga declaração sobre o escândalo do grampo do celular de Merkel. "Os EUA não monitoraram a comunicação da chanceler federal e nem vão fazê-lo", declarou o porta-voz da Casa Branca Jay Carney, na semana passada.

O ex-presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes dos EUA Pete Hoekstra disse à Deutsche Welle que, para ele, não seria surpresa se Obama tivesse sido informado da escuta telefônica à chanceler federal:

"O presidente estabelece as regras que orientam as operações dos serviços secretos. A NSA e organizações americanas não podem nem devem atuar fora dos limites estabelecidos pelo presidente", disse o político republicano.