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Do celuloide ao disco rígido

6 de maio de 2012

A invenção do rolo de celuloide deu início à história da imagem em movimento. Hoje, 125 anos mais tarde, chega ao fim a era da projeção analógica. E até as pequenas salas de cinema se curvam à tecnologia digital.

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Foto: Fotolia/fergregory

Oliver Hauschke, projecionista de um cineclube em Colônia, no oeste alemão, trabalha há 15 anos no setor, projetando em média 14 filmes por dia. Um trabalho árduo. "O filme é enviado em uma lata, dentro da qual ficam guardadas as partes do rolo de filme. Temos que 'colar' essas partes umas nas outras. Só para isso precisamos de uma hora", conta Hauschke.

Apertar o play

Cinenova in Köln
O projecionista Oliver Hauschke comemora as novas técnicasFoto: DW/Rayna Breuer

Já nas salas multiplex de cinema, a projeção digital já é padrão. No Cinenova, onde Hauschke trabalha, a nova tecnologia só foi inserida há pouco. Em uma das três salas do cineclube, os filmes terão projeção digital, sem os rolos de filme. Todos os procedimentos manuais tornaram-se supérfluos desde a inserção da tecnologia digital. Hauschke confessa sua satisfação e diz não ter problemas em se despedir dos velhos rolos de filme.

Já a projecionista e cineasta iniciante Nicole Wegner vê a coisa com outros olhos. Ela adora usar o equipamento antigo. "É ótimo ligar um projetor. Aí ele começa a crepitar e a luz se acende. É lindo. Agora, com a tecnologia digital, meu trabalho não é mais tão agradável", diz ela. Com a projeção digital, o filme chega em um disco rígido ou em forma de arquivo no servidor, que por sua vez está ligado ao projetor. O projecionista não tem muito o que fazer.

"É preciso apenas apertar o play e pronto. Tudo acontece automaticamente: as cortinas se abrem, a luz se apaga, o projetor é ligado e o filme começa. No final, tudo funciona automaticamente de novo, no sentido oposto", descreve Wegner.

A eterna rotina de colocar e tirar filmes, cortar e separar deixa os dedos sujos, relata Hauschke. Ele não tem mais vontade de trabalhar desta forma.

Já para Nicole Wegner, a profissão de projecionista sempre foi um ofício artesanal que, como todos os outros, deixa as mãos sujas. Mas ela também vê as vantagens da nova tecnologia. "Não poderia ter feito meu último filme se tivesse sido obrigada a rodar analogicamente. Eu tinha 80 horas de material bruto. Revelar isso tudo não seria praticável do ponto de vista financeiro", analisa a projecionista e cineasta.

Cinenova in Köln
Nicole Wegner: 'saudosismo'Foto: DW/Rayna Breuer

"Queremos uma imagem perfeita?"

A fase de testes com o projetor digital no Cinenova, onde Hauschke e Wegner trabalham, transcorreu sem maiores problemas. "Foi ótimo quando pude testar a nova tecnologia pela primeira vez", conta Hauschke. Ele está absolutamente convencido da qualidade da projeção digital.

"A imagem é mais nítida que no rolo de 35 milímetros. E posso passar o filme várias vezes, sem que ele fique gasto. O rolo de filme vai ganhando riscos com as projeções frequentes e ficando mais opaco", fala o projecionista.

Já Wegner se pergunta se isso incomoda, de fato, o espectador: "Queremos uma imagem perfeita? Gosto da imagem que respira, da imperfeição dentro dela, quando o filme encalha, porque ali as partes foram coladas".

Os primórdios dos rolos de filme

A sujeira dos dedos dos projecionistas do futuro não teve ter sido algo em que o religioso norte-americano Hannibal Goodwin, que patenteou o celuloide há 125 anos, em 1887, tenha pensado. Sua invenção na época significou uma revolução, uma vez que as imagens, antes, só podiam ser gravadas em lâminas de vidro sensíveis à luz. Com o advento do celuloide, o filme se tornou praticamente infinito, já que passou a ser possível colar quantos filmes se quisesse uns nos outros. A sequência de 24 quadros por segundo é o que o olho humano registra como uma imagem fluida.

Hannibal Goodwin
Hannibal Goodwin inventou o celuloide em 1887Foto: Library of Congress/public domain

Mas foi o empresário George Eastman que conseguiu comercializar o celuloide de maneira bem-sucedida. O fundador da Kodak tornou a câmera com rolo de filme de celuloide acessível a qualquer pessoa. Em 1888, ele lançava no mercado a Kodak N°1 – câmera fotográfica compacta e leve. No entanto, o celuloide provou ser altamente explosivo e não foi mais usado desde os anos 1950. Desde então, passou-se a usar o rolo de filme de poliéster.

Peça de museu

A falência da Kodak no início deste ano foi o início do fim do filme de rolo. Embora haja até hoje filmes rodados em película de 35mm, a pós-produção é feita há anos com tecnologia digital. Grandes produções, como Avatar ou O Hobbit, são filmadas exclusivamente com uso de tecnologia digital.

Cinenova in Köln
Rolos de filme chegam a pesar até 25 quilosFoto: DW/Rayna Breuer

Os distribuidores são os que obtêm mais vantagens com a digitalização do cinema, pois economizam os altos custos das cópias e do transporte de rolos de filme, que podem pesar até 25 quilos. Por outro lado, as salas de cinema são obrigadas a arcar com os custos da adaptação à tecnologia digital. Um projetor novo custa entre 60 e 80 mil euros.

Os pequenos cineclubes não têm, porém, alternativa. Daqui a pouco, os rolos de filme convencionais irão se extinguir. E a profissão do projecionista vai se tornar cada vez mais dispensável. Hauschke já teve sua carga horária reduzida e está pensando em encontrar outra profissão. Já Wegner quer continuar fazendo e projetando filmes – de preferência analógicos.

Autora: Silke Wünsch (sv)
Revisão: Francis França