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Era digital coloca em xeque ensino da caligrafia

Kay-Alexander Scholz (pv)16 de abril de 2015

Em tempos digitais, necessidade de uma boa escrita à mão é questionada por políticos e educadores, mas há quem defenda a prática como expressão da personalidade e benéfica ao pensamento estruturado.

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Foto: picture-alliance/dpa/S. Pilick

Para que ainda aprender caligrafia?

Nas salas de aula da Alemanha, metade dos meninos e um terço das meninas têm dificuldade para escrever com uma caligrafia legível. É o que mostra um novo estudo sobre o desenvolvimento da escrita no país, divulgado recentemente pela Associação Alemã dos Professores.

Uma das causas para o problema é a piora da coordenação motora fina, ou seja, da interação entre mão e dedos, que permite escrever, considera Josef Kraus, presidente da instituição.

"A função motora do polegar ainda é a mais bem desenvolvida, devido ao ato de brincar", disse Kraus durante a apresentação do estudo em Berlim. Mas a escrita à mão não é exercitada o suficiente. O estilo de vida digital das crianças afeta essa prática antiga.

Kraus também condena "os pecados da política e da pedagogia contra a cultura da escrita à mão" – por exemplo, a renúncia a ditados e a crescente tendência de provas de múltipla escolha. Além disso, ele atribui uma parcela da culpa a pais excessivamente cautelosos, que não deixam seus filhos desenvolverem e vivenciarem suas habilidades motoras.

"Expressão da personalidade"

Alguns estados da Alemanha vêm testando há algum tempo se não vale a pena abolir a escrita cursiva e assim tornar as coisas mais fáceis para as crianças. Até o momento, os alunos aprendem primeiro a letra de forma e depois a cursiva e, assim, desenvolvem a própria caligrafia. Esse método pode agora ser extinto: as crianças aprenderiam uma espécie de "letra básica", de forma. Em seguida, aprenderiam a conectar as letras umas com as outras e escrever.

A líder dos secretários estaduais da Educação na Alemanha, Brunhild Kurth, é contra essa tendência. A digitalização não pode ser contida e, justamente por isso, as escolas precisam garantir "que os alunos desenvolvam um estilo legível e individual de escrita à mão", diz. Para Kurth, a caligrafia é uma "expressão da personalidade" e promove o pensamento estruturado.

Handschrift Johann Wolfgang von Goethe
Inclinada e repleta de ornamentos: assim era a caligrafia de Johann Wolfgang von Goethe, típica em seu tempoFoto: picture-alliance/dpa/Schutt

A escrita sempre foi uma expressão do desenvolvimento tecnológico e político. Quando, há cem anos, a pena foi substituída pela caneta-tinteiro, as então costumeiras diferenças entre as linhas superiores e inferiores das letras deixaram de ser facilmente colocadas em papel. Isso porque uma pena é flexível, mas a ponta redonda de metal da caneta não.

Por isso, a partir de 1914, foi ensinada a escrita germânica Sütterlin, inventada na antiga Prússia – uma caligrafia com muito menos ornamentos, adaptada à escrita das canetas-tinteiro. A Sütterlin foi abolida posteriormente pelos nazistas, que adotaram o ensino da escrita latina, pois essa poderia ser lida mais facilmente nos territórios ocupados. Durante 600 anos a escrita alemã prevaleceu no espaço linguístico alemão. Com a Sütterlin, desapareceu a última escrita alemã.

Tudo tivera início em 1450, quando Johannes Gutenberg inventou a prensa de tipos móveis e desencadeou uma enorme mudança estrutural: o uso da escrita não estava mais reservado à elite. A internet é constantemente comparada a essa revolução medieval e poderia ter consequências similares.

Sütterlin
Abolida pelo nazismo, Sütterlin foi a última escrita alemãFoto: picture-alliance/ZB/P. Pleul

Klaus vê o perigo de uma nova divisão social, caso a escrita à mão perca importância nas escolas em favor da cultura digital. Pois pais com nível educacional mais elevado provavelmente vão continuar garantindo que seus filhos dominem a antiga técnica da caligrafia.

iPad em vez de caderno?

Na Holanda, as políticas de Educação estão um passo à frente. Nas chamadas "escolas Steve Jobs", as crianças aprendem o conteúdo individualmente nos iPads. Apenas a escrita impressa, ou de forma, é ensinada.

A maioria dos alemães não quer seguir o mesmo caminho: uma pesquisa de opinião divulgada pelo Instituto Allenbach em março último mostrou que dois terços dos cidadãos acham importante que as crianças aprendam, além da letra de forma, a escrita cursiva.

Por outro lado, pais constantemente se relatam espantados com o quão intuitivamente seus filhos aprendem e sabem lidar com equipamentos eletrônicos. Será que, dessa forma, a transmissão de conhecimento ocorre de maneira mais fácil e rápida? Essa questão não pode ser respondida ainda, por falta de dados científicos.

Steve-Jobs-Schule in Sneek, Niederlande
Digitalização no ensino: uma chamada "escola Steve Jobs" em Sneek, na HolandaFoto: AFP/Getty Images/C. van der Veen

Os perigos da escrita digital

O Partido Pirata, legenda alemã que defende a transformação digital, chama a atenção para outro aspecto: com o progresso da digitalização, também deveriam ser ensinadas aos alunos habilidades para se protegerem de perigos, entre elas a criptografia de documentos. "Precisamos de uma sensibilização quanto à proteção de dados", alerta Monika Pieper, deputada do parlamento estadual da Renânia do Norte-Vestfália.

O porta-voz de políticas de Educação do Partido Pirata, Michael Kittlaus, reivindica a presença de responsáveis pela proteção de dados nas escolas, porque sempre há o risco de repasse com documentos digitalizados.

Porém, nem mesmo os piratas desejam a abolição da escrita à mão. Kittlaus ressalta que a caligrafia não exige uma tecnologia adicional, apenas uma caneta. No entanto, a caligrafia perderá importância, aposta Pieper.

Em vez de um discussão entre sim ou não, deve-se investigar para que serve a escrita à mão e onde ela ainda é necessária. Longas cartas são cada vez menos comuns, mas bilhetes e listas de compras não, diz a deputada.