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Encontro Brasil-Alemanha dá chance à aproximação entre Mercosul e UE

Fernando Caulyt30 de agosto de 2014

Empresários e políticos se reúnem em Hamburgo para discutir parcerias e investimentos. Paralelamente à agenda oficial, acordo de livre-comércio entre blocos econômicos, negociado desde 1999, deve entrar em pauta.

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Foto: picture-alliance/dpa

Centenas de empresários brasileiros e alemães se reúnem a partir deste domingo (31/08), até a próxima terça-feira (02/09), em Hamburgo, na Alemanha, para tentar reforçar a relação econômica entre os dois países.

Um dos temas discutidos paralelamente à programação oficial do Encontro Econômico Brasil-Alemanha 2014 (EEBA) será como os dois países podem impulsionar a assinatura do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, que se arrasta desde 1999.

No evento, empresários e políticos também vão discutir formas de aumentar o intercâmbio econômico bilateral, investimentos e a cooperação tecnológica entre os dois países, que somaram quase 22 bilhões de dólares em trocas comerciais em 2013.

"Não há como debater uma sólida parceria econômica sem abordar o acordo entre Mercosul e União Europeia. Defendemos a aceleração e a rápida conclusão do acordo", afirma Paulo Tigre, vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Estamos confiantes de que a Alemanha, com a sua liderança, apoiará o sucesso do acordo, e esperamos que a bem-sucedida troca de ofertas seja realizada o mais rápido possível."

As negociações entre os dois blocos começaram em 1999 e foram interrompidas em 2004. Em 2010, as conversas voltaram à pauta, mas sofreram reveses devido a obstáculos criados pelas duas partes. Mesmo assim, há indicações de que as conversas entre Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai – a Venezuela optou por não integrar as negociações – estão avançando rumo a uma proposta única de redução de tarifas.

Negociações estagnadas

Ao visitar Dilma Rousseff em julho, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, disse que estava na hora do "sim" entre os dois blocos, depois de 15 anos de conversas. Segundo ele, o acordo levaria ao aumento de 40% das exportações do bloco sul-americano para a UE.

"Há uma resistência da Argentina e da França quanto à entrega das respectivas listas de oferta de liberalização para que o cronograma de negociação do acordo entre os dois blocos possa avançar", diz Marcos Troyjo, professor do Ibmec/RJ e diretor do BricLab da Universidade de Columbia/EUA. "Uma eventual mudança desse quadro só se daria caso o Brasil decidisse prosseguir com as negociações mesmo sem ter a Argentina ao seu lado."

Para Troyjo, esse cenário de exclusão da Argentina do acordo só seria possível com uma mudança de governo no Brasil. Quanto a resistências da França, ele explica que são mais fáceis de ser superadas e que a Alemanha pode exercer sua influência para não atrasar ainda mais a negociação.

Inicialmente, a troca de propostas entre os dois blocos iria ocorrer até o final de março – prazo que foi postergado sem data para ser retomado. Até a troca de ofertas, cada país deverá revisar a sua lista de produtos com tarifas liberadas para entrada em seu território. A expectativa é que a lista única do Mercosul implique na eliminação das tarifas de importação para 90% do comércio com europeus.

Hamburger Binnenalster mit Rathaus FREI FÜR SOCIAL MEDIA
A metrópole hanseática de Hamburgo, no norte da Alemanha, recebe o EEBA 2014Foto: Fotolia/kameraauge

Intercâmbio bilateral crescente

A Alemanha é o quarto maior parceiro econômico do Brasil – somente atrás de China, EUA e Argentina. Cerca de 1.600 empresas de capital alemão estão no Brasil, aproximadamente 800 delas em São Paulo, maior centro de representação comercial da economia alemã fora da Alemanha.

De acordo com a CNI, entre 2009 e 2013, o intercâmbio comercial brasileiro com a Alemanha aumentou 35,5%, de 16,04 para 21,73 bilhões de dólares. O saldo da balança comercial, deficitário ao Brasil em todo o período sob análise, registrou saldo negativo de 8,63 bilhões de dólares em 2013.

A maior parte das exportações brasileiras para a Alemanha é composta por produtos básicos como minérios, café e farelo de soja. As importações são representadas, sobretudo, por máquinas, automóveis e produtos farmacêuticos. Para Troyjo, as principais dificuldades para o aumento do intercâmbio comercial entre os dois países estão do lado brasileiro.

"O Brasil ainda não conseguiu estruturar-se produtivamente para harmonizar suas capacidades internas de competir internacionalmente. Isso naturalmente estabelece tetos mais baixos à possível entrada de produtos brasileiros de maior valor agregado no mercado alemão", explica.

Sob o tema "Indústria para o Futuro", os debates do evento de 2014 vão se concentrar em temas como política econômica, logística e infraestrutura, cadeias globais de valor, saúde, tecnologia verde e logística marítima. O EEBA é um evento anual, e Alemanha e Brasil se revezam na realização. O próximo será em 2015, em Joinville, Santa Catarina.