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Buraka Som Sistema

30 de novembro de 2011

Formado em Lisboa por dois angolanos e dois portugueses, o Buraka Som Sistema chega à maturidade em seu terceiro disco. Tratando de temas como a morte e o misticismo, banda consolida-se sem perder a energia.

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Buraka Som Sistema lança o novo disco 'Komba'
Buraka Som Sistema lança o novo disco 'Komba'Foto: Simon Frederick

Em pouco mais de cinco anos de existência o Buraka Som Sistema conseguiu algo quase impossível, colocar os termos cool e world music na mesma frase. Com uma mistura original de música eletrônica e Kuduro, ritmo originário de Angola, a banda chega mais concisa e madura ao seu terceiro disco Komba.

Esse foi o disco que marcou a passagem de um projeto de produtores para a banda. "Estamos mais maduros e conscientes da música que fazemos. Pensamos no álbum como um todo, um conceito, tanto nas letras como musicalmente. Como os antecessores, o disco conta com muitos convidados. Mas dessa vez eles conheciam os temas que queríamos abordar e tínhamos o controle sobre as composições", declarou o músico Kalaf Ângelo à DW Brasil.

A estrada fez do Buraka uma banda, já que para transportar toda a energia para o palco era necessário outro formato e a inclusão de percussão, bateria e uma vocalista. Essa dinâmica fez parte da composição e da realização do novo álbum. "Sabemos que o Buraka cresce muito e ganha uma força enorme ao vivo. Produzimos o disco pensando em nossos shows e como todos os elementos, principalmente os vocais, tinham que estar no palco", completou o músico.

A banda formada em Lisboa mistura música eletrônica com Kuduro
A banda formada em Lisboa mistura música eletrônica com KuduroFoto: Simon Frederick

Festa da morte

Komba é o nome de um ritual angolano, onde os amigos e familiares se reúnem uma semana após o funeral para relembrar a pessoa morta. De forma bem emotiva eles recriam momentos com as músicas e comidas favoritas do falecido. "Achamos essa cerimônia muito bonita, mas ao mesmo tempo irônica porque a maior festa da nossa vida pode acontecer quando já não estamos mais presente", disse Kalaf.

Seguindo o espírito de seus shows, o Buraka achou através da morte, e do conceito da Komba, uma força maior na celebração da vida. Não apenas através de rituais e cerimônias, mas como uma maneira de agarrar as oportunidades e ser feliz, enquanto ainda estamos vivos.

"Ninguém no grupo é muito religioso, mas o que nos liga é uma vontade de viver cada momento como se fosse o último. Isso é bem evidente em nossas apresentações ao vivo que são muito intensas. Queremos celebrar enquanto ainda estamos aqui e fazer um disco em que podemos homenagear a energia que temos para viver", completou.

A vocalista Blaya (centro) é uma das responsáveis pelos energéticos shows da banda
A vocalista Blaya (centro) é uma das responsáveis pelos energéticos shows da bandaFoto: Simon Frederick

Muito além do idioma

O Buraka contagiou todo o planeta com uma mistura musical muito criativa, mesmo não cantando em inglês. Apesar de falar português, o Brasil ainda continua um território pouco explorado pelo Buraka Som Sistema.

Segundo Kalaf, o Brasil tem uma grande tradição musical e consome muito do que é produzido internamente. Outro ponto é a falta de um entendimento e uma estrutura local para colocar a banda em contato com o público certo, começar a trabalhar em uma escala menor e construir uma carreira no país. A última passagem da banda pelo Brasil aconteceu no Rock in Rio deste ano.

O público pode ainda não ter encontrado o Buraka, mas o Brasil já faz parte da história da banda. Eles já colaboraram com a funkeira Deize Tigrona e com a banda Bonde do Rolê. No novo disco, a faixa Macumba conta com a participação do Mixhell, projeto eletrônico de Iggor Cavalera. "É uma viagem sônica, quase um ritual de candomblé. O Iggor era a pessoa ideal por ser brasileiro e pelo seu passado com o Sepultura, que misturou metal e referências da cultura pagã do Brasil", completou.

Santo no terreiro

O Mixhell também fez a ligação entre a banda e o artista plástico brasileiro Stephan Doitschinoff responsável pela capa do Komba. "Quando estávamos conversando sobre o conceito do disco com a Laima (do Mixhell), ela me disse que tem um artista em São Paulo que era isso: tudo o que eu estava explicando em palavras sobre as músicas e sonoridades ele fazia com imagens".

Depois de uma breve pesquisa na internet Kalaf encontrou a imagem da caveira que estampa a capa do disco. A ideia era ter algo original para a capa, mas a imagem da caveira estava presente em quase todo o processo de produção e acabou sendo a escolha mais acertada.

A capa do brasileiro Stephan Doitschinoff
A capa do brasileiro Stephan DoitschinoffFoto: Simon Frederick

"É bem a realidade da arte de rua de São Paulo, mas também tem uma coisa muito brasileira onde não há uma fronteira clara entre o misticismo e a religião. Todos os imaginários se misturam. Isso é algo que exploramos musicalmente na medida em que a música eletrônica europeia encontra a música de Angola com referências que vão da Colômbia ao Brasil", concluiu Kalaf.

Para o ano que vem, o Buraka cai na estrada compartilhando as músicas e a celebração da vida e da morte de Komba em todo o mundo.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque