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Em Angola só há 4 mil médicos para 24 milhões de habitantes

Joana Rodrigues1 de junho de 2015

Angola continua a ser um país de profundas desigualdades. No ano em que deveriam ser atingidos os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), grande parte da população continua sem acesso a cuidados de saúde.

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Um hospital no município do Lubango, no sul de AngolaFoto: DW/A. Vieira

Reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna e combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças são os três Objetivos de Desenvolvimento do Milénio na área da saúde que deveriam ser atingidos este ano.

A situação da saúde em Angola tem apresentado melhorias, mas o país está longe de atingir as metas estabelecidas. Ainda persistem grandes desequilíbrios em termos de desenvolvimento, e enormes carências no acesso aos cuidados de saúde por parte da população em geral.

Rogério Roque Amaro, economista e professor no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), acredita que o país tem grandes potencialidades que não estão a ser aproveitadas em prol da melhoria das condições de vida da população. "Em Angola há enormes potencialidades em termos de recursos, embora esteja tudo muito concentrado no petróleo, e isso depois faz com que haja fortes desequilíbrios em termos de desenvolvimento".

A saúde, a educação as situações de pobreza e exclusão social são alguns dos desequilíbrios apontados pelo economista. "Há graves carências em termos de assistência na saúde do ponto de vista dos recursos existentes e disponíveis para a população em geral. A situação é de grande vulnerabilidade e fragilidade, o que se traduz em taxas de mortalidade infantil que são muito elevadas e uma taxa de mortalidade materna que também é mais elevada do que deveria acontecer."

Além disso, refere ainda Rogério Roque Amaro, "há uma profunda desigualdade em termos do território: vastas zonas do país não têm praticamente garantido o mínimo em termos de apoio sanitário."

Falta de quadros

Um dos maiores problemas do país é a falta de recursos humanos qualificados. Para 24 milhões de habitantes só existem cerca de quatro mil médicos, a maioria dos quais são estrangeiros.

Dr. Hernando Agudelo
Hernando Agudelo, representante da OMS em Angola, acredita que o país irá melhorar bastante nos próximos anosFoto: WHO

Vastas áreas continuam sem cobertura médica, não só nas zonas rurais, mas também nas grandes cidades, como Luanda e Benguela, pois não houve uma resposta adequada ao crescimento desenfreado.

Hernando Agudelo, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Angola, considera que o país tem conseguido algumas melhorias mas ainda há muito por fazer.

"O país tem um plano regional de desenvolvimento sanitário que está a ser implementado e tem estado a investir em infraestruturas e no aumento do número de hospitais. A vacinação está a melhorar, há programas de nutrição para as crianças, e há uma melhoria em todos os indicadores da saúde. No entanto, há muito que fazer para que estes indicadores estejam à altura das necessidades da população", afirma o médico.

Angola ainda está longe dos ODM

Os níveis de mortalidade infantil e materna têm diminuído, mas ainda são dos mais elevados a nível mundial. Morrem cerca de 150 crianças em cada mil antes de atingirem os cinco anos de idade, e a esperança de vida à nascença é de 52 anos. A malária continua a ser a principal causa de morte, e a taxa de VIH/SIDA também continua muito elevada.

Rogerio Roque Amaro
O economista Rogério Roque Amaro aponta as fragilidades do sistema de saúde angolanoFoto: Hugo Cruz

"Continua a haver falta de resposta aos problemas de malária e de VIH/SIDA, apesar de ter havido algumas campanhas de informação. São duas situações muito problemáticas em Angola", diz Rogério Roque Amaro.

O economista considera que estas falhas só poderão ser colmatadas com um esforço maior por parte do Governo angolano: "É verdade que têm sido atribuídas algumas verbas para políticas de saúde, mas continua a ser verdade que essas verbas continuam abaixo, por exemplo, das que são atribuídas ao Ministério da Defesa, e portanto às questões militares."

Segundo o professor, a descida dos preços do petróleo, que provocou problemas orçamentais ao Estado angolano, "pode ser invocada como uma desculpa, mas é uma desculpa recente, e não ilude o facto de anteriormente, quando esse problema não existia, não terem sido tomadas as medidas necessárias."

Face àquilo que são as necessidades do país, "o que está a ser feito é muito pouco", sublinha Rogério Roque Amaro. "Tem havido a instalação de algumas unidades, mas ainda há muitas carências em termos de infraestruturas, de pessoal médico e de cobertura sanitária geral. Portanto, o Governo de Angola tem de fazer um esforço muito maior para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio".

A OMS opta por não comentar para já se Angola vai ou não atingir os ODM, mas os indicadores atuais demonstram que o país está ainda longe dessas metas.

Angola é um país rico em petróleo e diamantes, mas as desigualdades sociais são evidentes: o Índice de Desenvolvimento Humano é muito baixo e grande parte da população vive em situação de pobreza.

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