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Elite empresarial de Moçambique está ligada ao poder político

13 de junho de 2012

O CIP, Centro de Integridade Pública, lançou nesta terça-feira (12.06), em Maputo, uma base de dados de interesses empresariais, na qual divulga nomes de figuras do poder político ligados ao poder económico do país.

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Elite empresarial de Moçambique está ligada ao poder políticoFoto: AP

De acordo com o CIP, os negócios da economia moçambicana estão a migrar para áreas mais promissoras, como a dos recursos minerais e energia, aproveitando o vazio legal em relação aos conflitos de interesses.

Com a nova página da internet, esta organização da sociedade civil pretende consciencializar o público sobre a promiscuidade entre as esfera pública e privada.

O CIP analisou 589 empresas participadas por dirigentes do Estado moçambicano e constatou que a elite política local detem interesses empresariais em quase todas as áreas de negócio. Edson Cortes, do CIP, falou a DW África sobre o assunto.

DW África: Quais foram as constatações do CIP relativamente à participação de pessoas ligadas ao poder político no mundo dos negócios?
Edson Cortes (EC): A base de dados que nós lançamos é resultado do mapeamento das áreas de interesse da elite política empresarial moçambicana. E como tal, um observador atento pode perceber que houve uma migração das áreas de interesse da elite política moçambicana.
Nos princípios dos anos 90, havia uma atração pela área da indústria pesqueira que depois se foi, gradualmente, alterando para a área de serviços, exportação de madeira e, mais tarde, para a área de consultoria. Hoje temos, cada vez mais, uma concentração dos interesses da elite política moçambicana na área dos recursos minerais. E, cada vez mais, também noutros sectores estratégicos da economia como o da energia e os corredores de desenvolvimento, por causa dos portos. Esta é uma das principais constatações da base de dados de interesses empresariais do Centro de Integridade Pública.

DW África: Então, se o governo domina os sectores-chave da economia e incentiva os empreendedores a entrar para o mundo dos negócios, pode-se dizer que existe um paradoxo na atuação do governo?
EC: Em Moçambique para se ser um empresário bem sucedido tem que se ter o cartão vermelho, o que quer dizer ser membro do partido Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, o partido no poder). E quem não tem, duvido muito que singre no mundo dos negócios. Ou quando se tornar num empresário com algum nome ou adere ou então sofre algum tipo de pressões até que se deixe influenciar pelo partido no poder. Por isso, na minha opinião, é um discurso cosmético.

DW África: Esta corrida para se investir ou para se participar nos sectores-chave da economia moçambicana, por parte do partido no poder, pode estar a criar cisões dentro do próprio partido?
EC:
É verdade. Está a acontecer, porque é preciso reparar ( também na base de dados fizemos menção a esse fato) com quem é que se fazem as alianças, quem é que está aliado a quem. Neste momento, na nossa opinião, há um processo de alianças, disputas e reconfigurações dentro do tecido empresarial moçambicano.
E o acesso ao controlo efetivo do poder, de alguma forma, permite o acesso ao poder económico. E todos dentro do partido [Frelimo] têm essa noção. Então, a corrida para aceder ou para controlar o poder efetivo torna-se mais acérrima, porque em Moçambique é muito normal as pessoas falarem que existem alas dentro do partido Frelimo. E, neste momento, existe pessoas ou existem grupos empresariais que, durante o período do ex-Presidente Joaquim Chissano, eram privilegiados ou que tinham alguma pujança ou visibilidade e que hoje já não têm a mesma visibilidade. Hoje já são outros grupos, outras pessoas que são rotuladas de empresários de sucesso.

DW África: Quais são as consequências para o país deste tipo de atuação por parte dos membros do partido no poder que estão no mundo dos negócios?
EC:
Provavelmente, o país acaba não tendo agenda. A agenda depende muito dos objetivos dessas pessoas. Então, quando é assim, o país não tem uma agenda a médio, longo prazo.

Autora: Nádia Issufo
Edição: Glória Sousa / António Rocha

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Devido à promiscuidade entre as esferas pública e privada, segundo o CIP, Moçambique não tem uma agenda a médio e longo prazo
Devido à promiscuidade entre as esferas pública e privada, segundo o CIP, Moçambique não tem uma agenda a médio e longo prazoFoto: picture-alliance/dpa
O CIP considera que a elite política moçambicana detem interesses empresariais em várias áreas de negócio
O CIP considera que a elite política moçambicana detem interesses empresariais em várias áreas de negócioFoto: Ismael Miquidade
Segundo Edson Cortes, para se ser um empresário de sucesso em Moçambique é necessário pertencer à Frelimo
Segundo Edson Cortes, para se ser um empresário de sucesso em Moçambique é necessário pertencer à FrelimoFoto: AP
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