1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Eleitores indiferentes a final da campanha em Angola

27 de agosto de 2012

Avaliação é do analista angolano Rafael Marques: partido MPLA (poder) poderá ter resultado "conveniente para si". Nos últimos anos, "população perdeu medo". "Pedido da oposicionista UNITA de adiar pleito é tardio".

https://p.dw.com/p/15xV1
Pôster de Eduardo Kwangana, candidato do PRS à presidência de Angola, no dia 22.08
Pôster de Eduardo Kwangana, candidato do PRS à presidência de Angola, no dia 22.08Foto: picture-alliance/dpa

Angola entra esta segunda-feira (27.08) na última semana da campanha eleitoral, após um fim-de-semana em que Isaías Samakuva, líder da UNITA, principal partido da oposição, disse estar disponível para adiar as eleições em uma semana ou um mês para garantir o cumprimento da Lei Eleitoral. Samakuva pronunciou a ideia do partido no sábado (25.08), dia em que a UNITA realizou protesto em Luanda contra a forma como a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) está a organizar o escrutínio.

Ouvido sobre o assunto, o analista político angolano Rafael Marques disse em entrevista à DW África que a atmosfera de dúvidas sobre a lisura das eleições gerais, marcadas para sexta-feira (31.08), acaba refletindo negativamente no interesse da população em participar do escrutínio.

DW África: Depois da manifestação da UNITA, no sábado (25.08), como está a atmosfera em Luanda neste início da semana que antecede as eleições?

Rafael Marques: Para grande parte da população, esse período de reta final da campanha está a ser visto com grande indiferença porque o modo como o processo eleitoral foi organizado prenuncia que o MPLA terá o resultado que desejar, o resultado que achar conveniente para si e [que] pouco ou nada terá a ver com o desejo dos eleitores.

A manifestação realizada pela UNITA [maior partido da oposição] para pedir eleições transparentes já é demasiado tardia porque, a dias da realização das eleições não há como corrigir todos os males feitos durante a preparação das eleições porque, por exemplo, dos nove milhões de eleitores registados, e a auditoria feita aos ficheiros do registo eleitoral terá conta que seis milhões de eleitores não podem ter a sua identidade autenticada. Não se pode confirmar a identidade de seis milhões de eleitores.

Por outro lado, as administrações municipais sob controlo do MPLA conservam mais de 1,5 milhões cartões eleitorais – o que significa que estes cartões e estes votos poderão ser usados. E isso, já à partida, dá ao MPLA 1,5 milhões de eleitores – estamos a falar de cerca de 18% do eleitorado.

DW África: Alguma coisa pode surpreender nessa reta final de campanha?

RM:
O único partido com capacidade para realizar manifestações em larga escala em Angola é a UNITA, os outros partidos não têm essa capacidade. Daqui para diante, é esperar os resultados eleitorais. A partir do anúncio dos resultados é que começarão a haver reações por parte da sociedade.

DW África: Existe uma certa desorganização por parte da oposição para prever alguns problemas, tanto durante a campanha eleitoral quanto durante o pleito?

RM:
A oposição não é desorganizada. A oposição é perpassada por uma incompetência crónica. Há um problema muito sério de falta de lideranças por parte da oposição, capazes de tomar a peito situações demasiado sensíveis. Isso exige muita coragem. De fato não há aqui uma oposição que seja capaz de assumir um discurso efetivo junto da sociedade e com capacidade de mobilização para travar esses atos.

DW África: Sobre a questão da intimidação e da violência durante esses últimos sete dias de campanha: há alguma precaução ou existe alguma perspectiva de que isso aconteça novamente?

RM:
Esta violência é real, está a acontecer, envolve forças policiais, envolve milícias, envolve militantes do MPLA, militantes da UNITA – e é uma situação que eu diria que é mais de indignação do que de medo porque, nos últimos anos, as pessoas têm estado a perder o medo. E é preciso sublinhar isso.

Autor: Marcio Pessôa
Edição: Renate Krieger/António Rocha

O presidente angolano José Eduardo dos Santos em campanha eleitoral
O presidente angolano José Eduardo dos Santos em campanha eleitoralFoto: picture-alliance/dpa
Isaías Samakuva, líder da UNITA, em discurso durante protesto do partido no último fim de semana
Isaías Samakuva, líder da UNITA, em discurso durante protesto do partido no último fim de semanaFoto: picture-alliance/dpa
O defensor dos direitos humanos e jornalista angolano Rafael Marques
O defensor dos direitos humanos e jornalista angolano Rafael MarquesFoto: Maka Angola

27.08 Entrevista Rafael Marques - MP3-Mono

Saltar a secção Mais sobre este tema