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Ajuda externa no combate ao crime é questionada

Astrid Prange (av)12 de novembro de 2014

Desaparecimento de 43 jovens traz à tona corrupção das estruturas nacionais. Má política dos EUA e da Europa para drogas é uma causa, mas solução é responsabilidade da sociedade mexicana, advertem especialistas.

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Foto: Reuters

"Não pode ser que países como o México é que tenham de pagar o tributo de sangue por uma política de drogas totalmente fracassada dos Estados Unidos e da Europa", protesta Michael Leutert, presidente do grupo teuto-mexicano no Parlamento alemão. Sozinho, o México não tem como vencer a luta contra o crime organizado, lembra o deputado do partido A Esquerda.

O americano Ted Galen Carpenter, especialista em política externa e segurança, também reivindica o abandono da estratégia de proibição radical: para ele, a melhor forma de os EUA combaterem os cartéis mexicanos seria mudar sua própria política para os entorpecentes.

"Eu aconselho urgentemente que as campanhas de esclarecimento nos EUA se concentrem nas drogas pesadas, como a cocaína ou a heroína, e não na maconha, como até o momento", diz Carpenter, que pesquisa no think tank liberal The Cato Institute, de Washington.

Ele acrescenta que todas as campanhas realizadas nos EUA têm fracassado, do mesmo modo que a proibição da maconha. A legalização da cannabis em quatro dos 50 estados americanos poderia ser apenas o começo de um distanciamento da política de proibição, sendo necessária uma maior abertura do diálogo sobre a temática, sugere o especialista.

Sociedade em choque

De acordo com o atual estado das investigações, no fim setembro foram sequestrados, assassinados e incinerados, na cidade de Iguala, 43 estudantes de magistério. Como até agora seus restos mortais não puderam ser identificados, oficialmente eles ainda são dados como desaparecidos. Seis outros jovens foram comprovadamente mortos pela polícia da localidade.

O crime colocou todo o país em estado de choque, desencadeou protestos e trouxe à tona a ligação entre os órgãos públicos mexicanos e o crime organizado.

"O problema central da tragédia de Iguala repousa nessa inconcebível forma de abuso de poder e na conexão entre poder político e crime organizado", comenta Stefan Jost, diretor da sucursal da Fundação Konrad Adenauer no México. "Para o governo mexicano, Iguala se transforma num presságio ameaçador."

A preocupação em torno do crescente poder dos cartéis também impulsiona o planejado acordo de segurança Alemanha-México. Desde 2011, Berlim negocia uma cooperação binacional entre as agências federais para combate à criminalidade organizada.

A proposta de pacto deverá ser submetida à votação no Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) no início de 2015. "Quando o texto estiver disponível, vamos verificá-lo atentamente. Se o acordo se prestar a combater a impunidade no México, ele é mais do que bem-vindo", anuncia o esquerdista Leutert.

O parlamentar complementa que o importante é que tanto os direitos civis quanto a privacidade pessoal em ambos os países não sejam enfraquecidos pela cooperação, mas sim fortalecidos.

Mexiko-Stadt Proteste und Gewalt nach mutmaßlicher Ermordung vermisster Studenten 08.11.2014
Massacre de Iguala gerou protestos violentos na Cidade do México e no estado de GuerreroFoto: AFP/Getty Images/O. Torres

Cooperação internacional em xeque

Contudo, enquanto o governo federal alemão urge que se concluam rapidamente as negociações, diante das ocorrências nos EUA, os críticos do acordo exigem que elas sejam suspensas.

A rede de iniciativas e ONGs humanitárias Coordenação Alemã pelos Direitos Humanos no México considera perigosa a almejada cooperação. O Estado mexicano é parte do problema, pelo fato de a criminalidade organizada estar infiltrada no governo. Além disso, não se podem treinar forças de segurança que procedam de modo criminoso, alertou a Coordenação num comunicado público.

O ativista dos direitos humanos Kai Ambos, professor de direito penal internacional do Instituto de Ciências Criminais da Universidade de Göttingen, apela para que se combata a corrupção na Justiça penal mexicana e no aparato de segurança ao se reforçar a atenção internacional.

"O México é membro da Corte Penal Internacional. Seria bom levar o caso a Haia." Por si só, a ameaça de que se realizem investigações temporárias já aumenta a pressão sobre a Justiça mexicana, diz Ambos.

Problema nacional

Assim como grande parte dos especialistas no assunto, Ambos considera, em primeira linha, a infiltração criminosa nas instituições estatais como um problema nacional mexicano, que só poderá ser solucionado a longo prazo pela própria sociedade do país.

"A transformação tem que vir de baixo, pois o partido do governo sempre teve ligações com a criminalidade organizada", confirma o ativista.

As eleições parlamentares do ano que vem poderão ser um indício da vontade de reformas da população mexicana. Em junho de 2015 será redefinida a Câmara dos Deputados, e estão marcados pleitos governamentais e legislativos em nove dos 31 estados do país.

"O México precisa resgatar a si mesmo desse pântano", insta Stefan Jost, diretor da Fundação Adenauer na Cidade do México. Ele enfatiza que a pré-condição para tal é um pacto político e social que transcenda a problemática de segurança propriamente dita. "Nesse ponto, a comunidade internacional certamente poderá ajudar."