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HistóriaReino Unido

1986: Fim do castigo físico nas escolas britânicas

Rachel GessatPublicado 22 de julho de 2015Última atualização 22 de julho de 2021

Em 22 de julho de 1986, o Reino Unido foi o último país da Europa a abolir as surras como castigo nas escolas. A suspensão vinha sendo exigida há tempos pelos professores, mas era rejeitada pelos políticos conservadores.

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BG 100 Jahre Grundschule | Allgemeine Schulpflicht (1882)
Foto: picture-alliance/akg-images

"Quem poupa a vara, detesta seu filho, quem o ama, porém, castiga-o com frequência, para que ele se alegre com isso mais tarde". Durante muito tempo, o sistema de ensino se orientou por este conselho do Velho Testamento.

Todos estavam firmemente convencidos de que uma boa surra simplesmente fazia parte da educação. Mais de dois mil anos mais tarde, o Parlamento britânico discutia se não estava na hora de abandonar este recurso pedagógico ancestral.

"Valioso instrumento disciplinar"

Chris Patten, do Ministério da Educação, era contra a supressão: "Os castigos físicos são considerados um valioso instrumento disciplinar por muitos educadores renomados e responsáveis. Não devemos levianamente privá-los deste instrumento. A abolição das punições representa um enfraquecimento da posição dos professores, e isto é a última coisa que desejamos, nestes tempos em que a falta de disciplina nas escolas torna-se cada vez mais um problema."

O próprio ministro da Educação da época, Kenneth Baker, partilhava desta opinião. Porém, como nem todos os Tories eram a favor de que os professores continuassem espancando os alunos, o partido deixou a decisão a cargo de cada representante.

O Labour, por sua vez, sabia que, mesmo fechando-se em bloco, seus 219 votos não bastariam para fazer passar a medida. Por isso se empenhou em convencer ao menos parte dos conservadores.

Os argumentos do Partido Trabalhista tinham cunho tanto moral como prático: por um lado, consideravam as sovas como um castigo desumano, que rebaixava o espancado e o espancador. Por outro, não havia provas para a tese dos conservadores de que seria impossível manter a disciplina nas escolas sem punição física. Nenhuma das instituições que suprimira a vara de espancar fora forçada a reintroduzi-la, por problemas disciplinares.

Castigo como "instrumento pedagógico"

Segundo a pedagoga e autora Katharina Rutschsky, deixar de bater nas crianças não é uma questão de progresso moral da humanidade. Por um lado, as circunstâncias externas mudaram, por outro, simplesmente constatou-se que o amor e a simpatia podem ser muito mais eficientes do que as pancadas, além de serem mais agradáveis de aplicar, como método de disciplina. A mera demonstração de poder físico, ou a coerção por meio dela, são métodos extremamente primitivos de manipulação humana.

O debate no Parlamento durou quatro horas. Por fim, a vara foi banida das escolas por 231 votos contra 230. Assim, o Reino Unido finalmente se alinhou ao resto dos países europeus: todo educador que recorresse à violência como instrumento pedagógico era agora passível de ser processado. No entanto, isso só se aplicou, de início, ao ensino público. As escolas particulares se agarraram até o início de 1998 àquela relíquia da "boa" educação tradicional.