1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
HistóriaAlemanha

1886: Nascia o arquiteto alemão Mies van der Rohe

Carlos Albuquerque27 de março de 2017

Em 27 de março de 1886, nascia o revolucionário da arquitetura do século 20. A perfeição técnica dos detalhes apoiava a sensação de vazio, que segundo Mies deveria ser preenchido com a vida.

https://p.dw.com/p/D7cr
Mansão projetada por Van der Rohe na Alemanha
Mansão projetada por Van der Rohe na AlemanhaFoto: imago/imagebroker

Nascido em Aachen, na fronteira alemã com a Holanda e a Bélgica, em 27 de março de 1886, é o próprio Mies van der Rohe quem dá a chave para a compreensão de sua arquitetura ao comentar, em 1961, a influência que as construções de sua cidade natal, a antiga capital do Sacro Império Romano Germânico, exerceu na sua obra.

Ludwig Mies (o sobrenome da mãe, van der Rohe, foi incluído por ele mais tarde) frequentou a escola da catedral católica construída por Carlos Magno e ajudou o pai na empresa de cantaria que possuía. Tendo passado sua infância e adolescência entre lápides e igrejas medievais, sua formação não foi acadêmica, mas de natureza prática e religiosa.

Os primeiros anos

Quando foi trabalhar no escritório do arquiteto Bruno Paul, em 1905, Mies encontrou uma Berlim que refletia a crise de valores em que se encontrava a Europa entre o final do século 19 e o início do século 20. Dois anos mais tarde, um professor de filosofia, completamente idealista, queria que sua casa fosse construída por um arquiteto jovem. Paul indicou Mies, que aos 21 anos projetou e construiu a residência de Alois Riehl, um dos principais filósofos berlinenses do início do século 20.

O projeto de Riehl lhe abriu as portas da sociedade berlinense, pondo-o em contato com intelectuais e possibilitando a ele trabalhar com Peter Behrens, para quem os outros pais do movimento modernista da arquitetura, Le Corbusier e Walter Gropius, também trabalharam entre 1907 e 1910.

Ludwig Mies van der Rohe
Ludwig Mies van der RoheFoto: picture-alliance/dpa

Behrens incorporou os fundamentos de um novo estilo, baseado na síntese da vida e da arte, no espetáculo arquitetônico e na recepção estilizada da Antiguidade clássica. Ele se distanciou do traço sinuoso do Art Nouveau, sendo precursor de um estilo baseado na linha reta.

Entretanto, a melancolia de Mies van der Rohe não combinava com um possível formalismo de Behrens, e Mies procurou a influência de outro precursor do movimento modernista, o arquiteto holandês Hendrik Berlage, com quem se encontrou em Amsterdã em 1912. Os princípios de Berlage baseavam-se no neoplatonismo da Idade Média, na filosofia de Santo Agostinho, cuja frase "a beleza é o brilho da verdade" tornou-se praticamente um axioma para Mies.

Seguindo os passos do mestre Berlage, a lei universal não era mais a verdade histórica, mas a procura da essência, da verdade da construção. Foi por essa busca constante da essência construtiva, da precisão do detalhe, que Walter Gropius apelidou Mies de "o solitário caçador da verdade".

Desmaterialização da arquitetura

A aplicação da procura da essência na arquitetura tem como consequência sua desmaterialização. A arquitetura de Mies tornou-se somente estrutura e membrana externa ou, como ele mesmo falava, uma arquitetura de "pele e osso". A perfeição técnica dos detalhes viria apenas a apoiar esse sentimento de vazio do espaço, que segundo Mies, deveria ser preenchido com a vida.

Os projetos de Mies são, às vezes, completamente ideais, somente espaço, como seus arranha-céus de vidro de 1922 ou a residência Farnsworth, nos EUA, de 1950. Em outros, matéria e espaço interagem num jogo constante, como na residência Tugendhat de 1931, patrimônio histórico da humanidade, na cidade tcheca de Brno.

Mies estava no auge de sua carreira na Alemanha quando foi convidado para projetar o pavilhão alemão para a Feira Mundial de Barcelona em 1929, hoje ícone da modernidade. Em 1930, ele assumiu a direção da Bauhaus, em Dessau.

Móveis de Marcel Breuer e Ludwig Mies van der Rohe
Móveis de Marcel Breuer e Ludwig Mies van der RoheFoto: picture-alliance/ dpa

Em abril de 1932, os nazistas fecharam a Bauhaus. Mies a transferiu para um galpão industrial em Berlim-Steglitz. Em julho de 1933, também esta foi fechada pelos nazistas, que a consideravam "bolchevismo cultural". Mies não se considerava uma pessoa politizada. É interessante seu comentário sobre um colega que havia trabalhado para os nazistas: "Não o desprezo por ser nazista, mas por ser mau arquiteto".

Contribuição à arquitetura americana

Os anos de 1930 não foram fáceis para Mies, que não conseguia construir e vivia dos móveis que havia projetado. Emigrou para os EUA em 1938, aceitando o convite para dirigir o departamento de arquitetura do Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago, cujo campus também projetou.

Na posse, foi saudado por Frank Lloyd Wright, que anos mais tarde o acusaria de haver fundado um novo classicismo nos Estados Unidos. E, de fato, com exceção da residência projetada para a senhora Farnsworth, em 1950, que lhe valeu um processo e, em época de caça às bruxas, a acusação de ser obra de comunista, Mies deu um caráter bastante clássico à sua arquitetura nos Estados Unidos.

Sua obra tornou-se mais estática, sem o jogo de diferenças que enriquecia a sua arquitetura anterior. Terminada em 1969, ano da morte de Mies, a Neue Nationalgalerie de Berlim, seu único projeto construído na Alemanha após a Segunda Guerra, comprova este classicismo, embora apresente a mesma conquista espacial de seus projetos anteriores, principal característica da obra de Mies van der Rohe.