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Mo Yan, o grande contador de histórias

11 de outubro de 2012

O trabalho do Nobel de Literatura de 2012 é inspirado em histórias contadas no vilarejo em que nasceu. Estudiosos, no entanto, criticam sua relação com o Partido Comunista.

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Foto: picture-alliance/dpa

O vencedor deste ano do Prêmio Nobel de Literatura foi batizado com o nome Guan Moye. Na verdade, Mo Yan é o nome artístico desse chinês que nasceu em 1955 na província de Shandong, no leste do país. Traduzido, seria "nenhuma palavra", ou "calar-se".

Hoje, Mo Yan é considerado um criador extremamente eloquente, com figuras linguísticas impressionantes. A sinóloga Dorothea Wipperman mostra bastante entusiasmo ao falar dos livros do escritor chinês. "A gente lê os textos dele como se assiste a uma explosão de ideias linguísticas criativas. Mas ao mesmo tempo eles mantiveram os pés no chão".

Isso soa quase como a justificativa do júri do Prêmio Nobel, segundo o qual o escritor "une com realismo alucinante contos populares, história e presente".

Marcas da revolução cultural

Tanto os fãs quanto os críticos concordam que Mo Yan é um grande contador de histórias. Suas referências são inspiradas nas histórias contadas em seu vilarejo natal. Mo Yan era filho de agricultores. As precárias condições e a vida dura das pessoas no local onde cresceu deixaram profundas marcas.

Livros de Mo Yan expostos na Feira do Livro de Frankfurt deste ano
Livros de Mo Yan expostos na Feira do Livro de Frankfurt deste anoFoto: Reuters

Ele precisou interromper a escola no quinto ano, por causa da Revolução Cultural. Aos 20 anos de idade, Mo Yan se alistou no Exército. E foi lá que ele começou a escrever, e estudou na Faculdade de Artes do Exército de Libertação Popular.

Morando já há muitos anos em Pequim, Mo Yan não é apenas membro do Partido Comunista chinês – ele também é o vice-presidente da Associação chinesa de Escritores. Nesta função ele acaba representando também os princípios do governo, pela qual a arte e a literatura precisam servir ao propósito socialista, não podendo, portanto, ir contra os princípios do Partido Comunista.

Autor e membro de partido

Em 2009, Mo Yan esteve na Alemanha em uma viagem oficial, como integrante da delegação chinesa na Feira do Livro de Frankfurt, quando a China foi o país convidado. Na época, ele foi um dos convidados a deixarem um simpósio em sinal de protesto à presença de dissidentes chineses no evento.

No meio intelectual, Mo Yan foi criticado por este ato. Ele se justifica, porém, com a pressão que impera ainda nos dias de hoje na China. Além disso, argumenta que seu seguro social e o seguro saúde são pagos pelo Ministério da Cultura.

O sinólogo Wolfgang Kubin é autor do livro Geschichte der chinesischen Literatur des 20. Jahrhunderts("História da Literatura Chinesa do século 20", em tradução livre), e conhece bem o trabalho de Mo Yan.

"Quando você lê o 'Rote Kornfeld' (Red Sorghum), aparecem pessoas que elogiam em bom tom o Partido Comunista chinês. Isso é extremamente constrangedor", critica Kubin em entrevista à Deutsche Welle, comentando o romance mais famoso de Mo Yan.

A obra inspirou o filme "Sorgo Vermelho", dirigido por Zhang Yimou, que em 1988 recebeu o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim. Para Kubin, o sucesso internacional de Mo Yan está bastante ligado ao bom trabalho do tradutor Howard Goldblatt – a versão em inglês seria melhor do que o original em chinês, opina o sinólogo.

Red Sorghum, sua obra mais conhecida
Red Sorghum, sua obra mais conhecida

Ditadura do mercado

Kubin acusa o Prêmio Nobel de, por razões comerciais, considerar em primeira linha o gosto popular e por isso não realizar uma literatura realmente moderna. "O principal problema de Mo Yan é que ele foi vanguardista nos anos 1980. E foi assim que eu o apresentei em minhas revistas e artigos nos anos 1980. Mas não se pôde ganhar nada com isso. E desde então a lei de mercado reina absoluta na China, considera-se o seguinte: o que se pode vender na China e o que se pode vender no Ocidente?".

Dorothea Wipperman considera, porém, os textos de Mo Yan um tanto quanto delicados, "pois ele representa as relações chinesas com suas barbáries, suas desumanidades. Ele enfoca muitos abusos e muitas situações de vítimas", afirma.

Em seu mais recente romance, Frog, de 2009, o escritor chinês trata da polêmica política chinesa do filho único. É difícil de encaixar este escritor, que descreve destinos de pessoas simples, e sua obra, em clichês políticos.

Autor: Matthias von Hein (msb)
Revisão: Roselaine Wandscheer