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Crime organizado responde por até 90% do desmatamento ilegal

Nádia Pontes27 de setembro de 2012

Participação de cartéis na retirada ilegal de madeira chocou Interpol e ONU, autoras de um relatório sobre o tema. Em parceria com Brasil, Interpol desenvolveu treinamento para combater a ação criminosa na floresta.

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Foto: Survival International/Fiona Watson

O comércio ilegal de madeira movimenta anualmente até 100 bilhões de dólares, aproximadamente 203 bilhões de reais. O valor surpreendeu até a Interpol, Organização Internacional de Polícia Criminal, que investiga o crime registrado principalmente no Brasil e em países da África Central e Sudeste Asiático.

O dado faz parte do relatório Green Carbon: Black Trade divulgado nesta quinta-feira (27/09), uma parceria do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente, Pnuma, e a Interpol. O estudo afirma que a retirada ilegal de madeira responde por até 30% do comércio global.

"Ficamos chocados com a escala e ainda mais com o nível de envolvimento do crime organizado nas transações. O tráfico de madeira ilegal tem sido um crime de baixo risco, que tem atraído cartéis como um negócio ilegal rentável", disse Christian Nellemann, pesquisador do Pnuma, em entrevista à DW Brasil.

Sofisticação dos criminosos

Segundo o relatório, organizações criminosas são responsáveis por entre 50% e 90% do desmatamento em países que detêm florestas tropicais. Além do Brasil, Indonésia, República Democrática do Congo, Malásia e Papua Nova-Guiné são territórios onde a ilegalidade acontece com maior frequência.

A sofisticação dos criminosos também chamou a atenção dos investigadores. No caso do Brasil, grupos costumam invadir sites oficiais para obter informações privilegiadas fundamentais para o planejamento das atividades ilegais. "Eles são extremamente organizados", revelou Nellemann.

"Mas também reconhecemos o esforço da Polícia Federal brasileira em combater os crimes na floresta. Como a fiscalização no Brasil aumentou nos últimos anos, contamos com uma migração da extração ilegal para os países vizinhos, como Chile e Peru", disse Nellemann. Em parceria com os brasileiros, a Interpol desenvolveu um workshop na floresta amazônica para treinar oficiais estrangeiros que irão prevenir o crime ambiental em seus países.

Abholzung im Kongobecken
Madeira ilegal é vendida principalmente no mercado interno, mas até 30% seguem para exportaçãoFoto: CC BY-NC-ND/Karl Ammann, Rettet den Regenwald e.V.

Desmatamento e violência

"No caso da Amazônia, é certo dizer que 80% da extração de madeira era ilegal há até alguns anos", diz Paulo Barreto, pesquisador do Imazon, Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia, em conversa com a DW Brasil. Atualmente, o crime está por trás da metade do desmatamento – número ainda "extremamente alto", considera.

Com o bom desempenho da economia brasileira nos últimos anos, a madeira retirada de forma ilegal abastece principalmente o mercado interno. Atualmente, cerca de 20% a 30% segue para a exportação. "Quem atua nessa atividade tem um alto poder de corrupção. São agentes que corrompem secretarias de Estado, etc", pontua Barreto.

O delito ambiental transnacional também está associado à violência. Segundo a Interpol, outros crimes como assassinatos e atrocidades contra os habitantes das florestas e indígenas estão ligados ao desmatamento. O relatório publicado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos confirma essa tendência: dos 50 municípios com mais de 10 mil habitantes mais violentos do país, nove estão na Amazônia Legal.

"A ameaça que esse crime representa para o meio ambiente requer uma forte, eficaz e inovadora resposta por meio de leis que protejam esses recursos naturais e combatam a corrupção e violência ligada a esse tipo de crime. Afinal, esse delito também pode afetar a estabilidade e a segurança de um país", comentou Ronald K. Noble, secretário-geral da Interpol.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Francis França