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Forças Armadas alemãs prometem aventura para atrair novos recrutas

30 de setembro de 2012

Após suspensão do serviço militar obrigatório, Bundeswehr quer atrair novos soldados com campanhas prometendo muito esporte e emoção aos adolescentes. Críticos acusam militares de omitirem perigos da profissão.

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Foto: bw-adventure-camps.de

As Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr) são criativas quando se trata de publicidade em causa própria. E não é por acaso. A obrigatoriedade do serviço militar foi suspensa em julho do ano passado e, na prática, totalmente abolida. Automaticamente, ninguém mais precisa prestar serviço militar se não quiser. "A Bundeswehr é hoje uma entre tantas opções dentro do mercado de trabalho, e faz parte da economia de mercado que cada empregador faça sua divulgação", justifica Michael Wolffsohn, historiador e professor na Universidade da Bundeswehr, em Munique.

Por isso que, entre outros eventos, existe há anos a "BW Olympics", em que escolares competem uns contra os outros em vários esportes e conhecem as Forças Armadas. Outra campanha inclui o uso de dez caminhões reluzentes nas cores azul e amarelo, que percorrem diversas cidades alemãs. Grupos de escolares visitam quartéis e oficiais vão dar palestras em salas de aula. Em toda a Alemanha, cerca de 500 soldados e outros funcionários da entidade estão ocupados em atrair recrutas para as carreiras militares.

A mais recente campanha, no entanto, causou um acalorado debate público. Em cooperação com a revista dirigida ao público adolescente Bravo, a Bundeswehr convidou jovens entre 16 e 21 anos para os "Bw-Adventure Camps" nos Alpes e na Sardenha. Neles, 30 sorteados participam de uma viagem totalmente gratuita com muita aventura e informação.

Grundausbildung Bundeswehr
Com suspensão do serviço militar obrigatório, Bundeswehr tem que intensificar propaganda entre jovensFoto: picture-alliance/dpa

"Reagimos à campanha de forma um tanto indignada", admite Martina Schmerr, responsável pelo departamento escolar do sindicato alemão GEW, representante dos funcionários nos setores de educação e ciência, em entrevista à Deutsche Welle. "Temos observado há algum tempo, e com grande preocupação, a forma com que a Bundeswehr tem entrado em todas as esferas da vida dos jovens, tentando fazer publicidade para seu próprio benefício." Críticos acusam essas iniciativas de oferecer diversão em primeiro plano, omitindo possíveis consequências de uma carreira militar, como experiências traumatizantes ou a possível morte durante uma missão.

Entre propaganda e recrutamento

O professor universitário Wolffsohn também vê como problemática a linha tênue que separa a publicidade do recrutamento – este último, regulamentado por lei na Alemanha. "A profissão de soldado não é um trabalho qualquer", pondera, em entrevista à Deutsche Welle. Ele considera uma "questão de decência, justiça e humanidade jogar abertamente, com todas as cartas na mesa".

"Só assim, os jovens virão à Bundeswehr", acredita. Muitos dos novos recrutas são originários de regiões economicamente mais fracas do Leste da Alemanha. Mesmo assim, o incentivo financeiro não é decisivo para a escolha do emprego. Ao conversar com jovens oficiais, a justificativa mais frequente que Wolffsohn ouve é esta: "Quero garantir o caráter democrático da Alemanha. Esta é a minha contribuição para a segurança".

Professor Michael Wolffsohn Historiker
Wolffsohn defende esclarecimento franco sobre carreira militarFoto: picture alliance / ZB

Atualmente, uma aliança entre a GEW e organizações estudantis faz campanha contra a presença da Bundeswehr em escolas e faculdades. Martina Schmerr critica que os militares já descobriram alunos de escolas primárias como público-alvo, fazendo com que estes desenhem anjos da guarda para enviá-los aos soldados alemães no Afeganistão. "Aí a situação fica muito delicada. Abaixo de uma certa idade, isso não é admissível", completa.

Ela afirma que não tem nada contra o recrutamento de jovens. Mas Schmerr deseja, no entanto, que haja um contrapeso. Ela defende também que seja incentivada entre os alunos uma conscientização pela paz. Por outro lado, Schmerr diz desejar mais discrição por parte da Bundeswehr. Uma retomada das ofertas de entrevista voluntária com profissionais especializados em orientação vocacional seria, segundo ela, um primeiro passo neste sentido.

Bundeswehr Infotruck
Nos eventos da Bundeswehr, soldados apresentam a carreira militar aos adolescentesFoto: picture-alliance/dpa

Expectativas realistas

Mas ninguém que realmente queira seguir carreira militar deixa de passar por uma orientação vocacional. Mesmo para os jovens que conhecem as Forças Armadas através de férias na praia, é necessário mais tarde obter uma orientação sobre as diversas possibilidades da profissão. "A diversão é apenas um meio de chegarmos aos jovens", avisa o capitão de fragata Steffen Stoll, que chefia o escritório de publicidade para recrutamento da Bundeswehr. Ele ressalta que os eventos servem para que os jovens entrem em contato com os soldados. Segundo Stoll, a estratégia de maior sucesso no recrutamento é o contato pessoal e uma visita ao quartel mais próximo.

Martina Schmerr é a favor de que esse tipo de iniciativa dos militares também aborde o fato de que nem todas as operações das Forças Armadas alemãs são bem aceitas pela população, como é o caso da missão no Afeganistão. "Este também é um tema que debatemos", rebate Stoll, acrescentando que a realidade da vida como soldado não deve ser omitida.

Fregattenkapitän Steffen Stoll
Stoll garante que a diversão é apenas um meio de chegar a jovensFoto: privat

Soldados que prestem serviços temporários para as tropas, assim como especialistas em TI ou enfermeiros estão entre as posições com maior carência de pessoal na Bundeswehr. "Mas não há uma crise de novos recrutas", garante Stoll. O número de pessoas que se alistam voluntariamente, segundo ele, está aumentando. Somente as mudanças demográficas podem começar a criar uma situação "curiosa", diz ele. "Mas até agora o número de candidatos é suficiente, permitindo ainda uma seleção dos melhores."

Autora: Julia Mahncke (md)
Revisão: Soraia Vilela