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Soluções energéticas chegam às comunidades mais pobres

31 de julho de 2012

Em todo o mundo, a falta de energia elétrica é um dos fatores que levam as pessoas a migrarem para as cidades. O consumo cresce rapidamente e traz consequências para o clima.

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Foto: CC/fulminating

Tudo cresce: a população mundial, as cidades, o consumo de energia. As metrópoles são centro da vida econômica e política e também grandes consumidoras de energia. As grandes concentrações urbanas consomem 80% da energia produzida no mundo e emitem 85% dos gases de efeito estufa do planeta. A constatação é da pesquisa intitulada Metrópoles – o foco do desenvolvimento global.

O Instituto de Crédito para a Reconstrução (KfW), órgão federal alemão que atua como um banco de fomento ao desenvolvimento, calculou que, em 2015, cerca de dois terços das cidades com mais de cinco milhões de habitantes estarão sediadas em países em desenvolvimento. Sobretudo nestes países, a população cresce de forma acelerada porque aumenta o número de pessoas nas metrópoles, onde a moradia é escassa e cara. Aumentam os bairros mais pobres, na periferia das cidades. O resultado é uma infra-estrutura catastrófica.

Moradias sem infra-estrutura

"Especialmente nos arredores das grandes metrópoles da Índia ou da África subsaariana, não há qualquer tipo de infra-estrutura regular como água, energia elétrica ou coleta de lixo", explica Eberhard Rothfuss, geógrafo urbanista da Universidade de Bonn. Com isso, as comunidades acabam se organizando e criam, por exemplo, linhas de abastecimento de eletricidade a partir de geradores a diesel.

Pequenos geradores são usados para abastecer comunidades carentes
Pequenos geradores são usados para abastecer comunidades carentesFoto: CC/deckhand

Mas isso representa um índice elevado de emissões de CO2, o que é prejudicial para o clima. A estrutura das favelas é diferente em cada país. "Comunidades urbanas pobres costumam ser mais bem equipadas do que as favelas nos subúrbios das cidades", diz Rothfuss. Nas favelas da Índia, não existe praticamente nenhuma infra-estrutura.

De acordo com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), apenas 15% das moradias em favelas têm acesso a água potável, energia elétrica e esgoto. Diante do quadro, organizações não governamentais têm trabalhado na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos residentes. A Missão de Renovação Urbana, do governo da Índia, programa que existe desde 2005, tem implementado ações similares: oferecer melhores condições de moradia, água potável e esgoto nas comunidades.

Favelas antigas se desenvolvem mais

No Brasil, as residências em favelas costumam ter ligação de água e energia elétrica, embora feitas muitas vezes de forma irregular. Estimativas dão conta que 20 a 30% da energia produzida são perdidos em ligações clandestinas ou mal feitas. No entanto, a maior parte dos moradores paga pela luz que consome e isso não é uma novidade para as comunidades mais antigas. "No Brasil, esse entendimento existe há bastante tempo. As favelas mais antigas estão no Rio de Janeiro desde o início do século 20", diz Rothfuss. Cerca de 80% dos brasileiros vivem hoje em áreas urbanas.

Falta infraestrutura na comunidade de Dharavi, uma das maiores favelas da Índia
Falta infraestrutura na comunidade de Dharavi, uma das maiores favelas da ÍndiaFoto: Lauren Farrow

Enquanto as favelas mais antigas apresentam um grau maior de desenvolvimento e infra-estrutura, as comunidades surgidas nas regiões periféricas têm poucos recursos. Nelas, os moradores possuem poucos eletrodomésticos: geralmente uma televisão e uma geladeira. Por outro lado, são produtos antigos e que consomem bastante energia elétrica.

"Por essa razão, as residências mais pobres acabam consumindo uma parcela grande da renda familiar com a conta de luz", explica Bernhard Boesl, especialista em energia da Agência de Cooperação Internacional Alemã. Mas existem planos de mudar isso. Desde 2008, está funcionando um projeto que permite aos moradores das favelas trocar, sem custos, geladeiras antigas por modelos energeticamente mais eficientes, recicláveis e ecologicamente corretos.

Energia solar para aquecer a água

Outra proposta é o uso de energia solar para o aquecimento da água para consumo residencial. Isso porque a maioria dos brasileiros ainda usa chuveiros elétricos. Susanne Bodach, especialista em energias renováveis, fez as contas e percebeu que uma família de quatro pessoas gasta cerca de R$ 53,00 por mês para aquecer a água do banho, enquanto a instalação de painéis solares para o mesmo fim representaria um custo de R$ 15,00 no mesmo período. Os sistemas de captação e armazenamento de energia solar são, no entanto, muito mais caros que os chuveiros elétricos, embora o investimento acabe por se pagar no período de quatro a cinco anos. O meio ambiente também ganha com o consumo de menos energia.

No Brasil e no México, sistemas de captura de energia solar devem se tornar mais comuns em projetos de habitação popular. No entanto, o geógrafo Rothfuss duvida que esses projetos possam garantir desenvolvimento econômico e social. "O estado até procura desenvolver projetos que auxiliem no desenvolvimento econômico, mas a maioria não é sustentável e não contribui para a redução da desigualdade social".

Além disso, os moradores das comunidades mais pobres respondem por apenas uma pequena fatia de toda a demanda energética. "Os ricos culpam os pobres pelo desperdício, mas é a classe média que usa cada vez mais energia", salienta.

Autora: Michaela Führer (ie)
Revisão: Roselaine Wandscheer