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Desconstrutivismo balançava os alicerces da arquitetura há 30 anos

17 de julho de 2012

Uma revolução aconteceu há 30 anos: os desconstrutivistas libertavam-se do ângulo reto e da tradição arquitetônica. Hoje eles constroem os prédios mais caros e glamourosos – até mesmo em países ditatoriais.

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Foto: isochrom.com

Eles são rebeldes e decompõem de forma consequente a regularidade. A simetria, o cubo, a linha previsível – tudo isso é um horror para a dupla de arquitetos austríacos Wolfgang Prix e Helmut Swiczinsky.

Eles são mais conhecidos como Coop Himmelb(l)au. Em alemão, Himmel quer dizer céu, blau significa azul e Bau, construção: a dupla de emblemáticos desconstrutivistas pretendia "reconstruir o céu". Para eles, a arquitetura deveria ser tão mutável quanto as nuvens.

"Reconstruindo o céu"

Hoje Wolfgang Prix se ocupa de um gigantesco canteiro de obras em Frankfurt, o futuro lugar de trabalho de 2.500 pessoas oriundas de quase 30 nações. Ali está sendo construído um edifício de imensa força simbólica e magnetismo: a nova sede do Banco Central Europeu (BCE). Trata-se de um dos maiores canteiros de obras da Alemanha e, com certeza, também um dos mais importantes.

Em 2004, a Coop Himmelb(l)au ganhou o concurso para o projeto do BCE. A construção teve início há dois anos. No final, a torre sul terá 43 andares, e a torre norte, 45. Um edifício com uma altura gigantesca de 220 metros [foto principal, acima].

Enquanto o euro se afunda cada vez mais na crise, as torres da Coop Himmelb(l)au se erguem em direção ao céu. E, com elas, surge a pergunta: o que restou do fervor desconstrutivista? O que aconteceu com os heróis dessa forma nova e diferente de construir?

Zaha Hadid Architektin Architekturpreis 2010 Flash-Galerie
O Corpo de Bombeiros e o Museu Vitra, em Weil am Rhein na Alemanha, foram projetados por Zaha HadidFoto: picture-alliance/dpa

Os primórdios

Em 1988, uma exposição de arquitetura organizada pelo arquiteto norte-americano Philip Johnson marcou o conceito do desconstrutivismo. Surgiram edifícios de estática altamente complexa, que davam a impressão de poder desabar a qualquer momento. Portas, escadas e janelas passaram não apenas a responder a uma função, mas a ter seu próprio valor estético.

O desconstrutivismo quebra a forma. O estilo é marcado por linhas expressivas e irregulares. Arquitetonicamente, tudo é virado de cabeça para baixo, enquanto desaparecem as fronteiras entre o espaço interno e o externo, entre o superior e o inferior. Uma imensa liberdade atrai os arquitetos, que vivenciam uma verdadeira revolução na forma de construir.

Na arquitetura desconstrutivista, uma mulher exerce um papel de vanguarda: Zaha Hadid. Em 2004, a britânica de origem iraquiana foi homenageada com a principal distinção do mundo da arquitetura, o Prêmio Pritzker. As construções projetadas por Hadid parecem escapar às leis da gravidade.

Hoje os espaços "fluídos" criados pela arquiteta levam críticos e clientes ao êxtase em todo o mundo. Mas durante muito tempo seus projetos puderam ser admirados somente no papel. Ninguém se atrevia a construir suas ideias malucas. Atualmente, ela é considerada a arquiteta predileta de clientes ricos, principalmente nos Emirados Árabes Unidos. Trata-se de uma arquitetura que vai além da vanguarda, mas muitas vezes também além das decisões democráticas.

Guggenheim Museum in Bilbao
Museu Guggenheim em Bilbao atrai centenas de milhares de visitantes todos os anosFoto: picture-alliance/dpa

O "efeito Bilbao"

Em 1997 foi inaugurado o Museu Guggenheim de Bilbao, projetado pelo arquiteto norte-americano Frank Gehry. O museu se tornou um dos prédios mais visitados do mundo. Centenas de milhares de "peregrinos" visitam todos os anos a cidade basca. Os críticos cunharam o conceito do "efeito Bilbao". O museu mudou toda uma região e virou um marco arquitetônico.

Assim, os rebeldes desconstrucionistas chegaram finalmente ao mainstream. Seus prédios são agora caracterizados como architainment – arquitetura e entretenimento, uma conexão entre o capitalismo, a vanglória e a arquitetura.

Algo não mudou até hoje: os selvagens edifícios dos desconstrutivistas afastaram o tédio da arquitetura. Eles foram os representantes de um espírito pioneiro, presenteando ao mundo alguns edifícios verdadeiramente impressionantes. Mas, de sua energia rebelde de outrora, pouco restou.

Autora: Andrea Horakh (ca)
Revisão: Alexandre Schossler