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Sátira ao Papa irrita católicos alemães e abre debate sobre limite do humor

12 de julho de 2012

Revista alemã "Titanic" satiriza Bento 16 e o escândalo Vatileaks na sua capa e é proibida de circular pela Justiça, que atende pedido do Vaticano. Censura ou respeito à privacidade do Papa?

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Foto: AP

A polêmica capa da revista satírica alemã Titanic mostra o papa Bento 16 na sua tradicional batina branca, com uma mancha amarela na região pélvica. A manchete: "Aleluia no Vaticano – encontrado o local do vazamento!". Na contracapa, o Papa é mostrado de costas. Desta vez, a mancha é marrom, e o texto que acompanha a imagem diz: "Mais um local de vazamento!".

Trata-se de uma alusão ao recente escândalo de vazamento de documentos secretos na imprensa, batizado com o nome de Vatileaks e que levou à detenção do camareiro do Papa.

A pedido do Vaticano, um tribunal de Hamburgo proibiu na terça-feira (10/07) a editora de vender a revista e também de publicar as imagens no seu site na internet. A multa em caso de desrespeito é de 250 mil euros. As imagens no site foram cobertas com uma tarja preta com a inscrição "proibido". As revistas já distribuídas não tiveram de ser recolhidas.

A decisão da Justiça alemã pode ter ido ao encontro do pedido do Vaticano, mas a censura à publicação humorística serviu para chamar ainda mais atenção para o caso. E deu início a um debate sobre os limites do humor e da sátira.

Ataque pessoal ou à burocracia do Vaticano?

Para Edda Kremer, porta-voz do Conselho Alemão de Imprensa (órgão de autorregulamentação que reúne empresas jornalísticas e sindicatos profissionais), sátiras fortes e polêmicas são aceitáveis caso não firam os padrões éticos da imprensa. Mas, ressalva, os direitos pessoais devem ser respeitados.

Edda Kremer Referentin Presserat
Kremer, do Conselho de Imprensa, diz ter recebido queixasFoto: Presserat

Justamente esse aspecto foi desrespeitado, na opinião de muitos católicos alemães. A Conferência dos Bispos da Alemanha, por exemplo, disse que se trata de um ataque pessoal ao Papa. "É repugnante. Na minha concepção, há limites para o bom gosto e para a sátira. Aqui não se trata de sátira, mas de ferir uma pessoa da maneira mais repugnante", afirmou o porta-voz Matthias Kopp.

Ele disse que a mídia deveria ter respeito pelas religiões. "Se um papa, que já completou 85 anos, é mostrado como uma pessoa com incontinência, isso é uma afronta à sua esfera privada. Isso é absolutamente inaceitável."

Para o porta-voz da Associação Alemã de Jornalistas (DJV, na sigla original), Hendrik Zörner, não se trata de um ataque pessoal ao Papa. "É claro que há limites, a esfera íntima das pessoas não deve ser ferida. Mas nesse caso não se trata da pessoa do papa Bento 16, mas dele como representante da burocracia do Vaticano. Essa é a mensagem, bem clara, dessa capa, e nesse caso esses recursos são adequados", opinou.

Segundo Kremer, cerca de 40 reclamações chegaram ao Conselho Alemão de Imprensa até a noite desta quarta-feira. "As pessoas se sentem ofendidas na sua sensibilidade religiosa e dizem que a honra do Papa foi ferida com a capa da revista."

Escândalo traz novos assinantes

A redação da revista Titanic encarou o imbróglio com bom humor. "Não é toda hora que um papa escreve para você, por isso resolvemos celebrar com espumante", comentou o editor da revista, Leo Fischer. Segundo ele, as manchas na batina do Papa são do refrigerante tomado para celebrar o fim do caso Vatileaks. "Sendo assim, é claro que podemos mostrar o Papa desse jeito", brincou.

Leo Fischer Redakteur beim Titanic Magazin
Fischer, da "Titanic": as manchas são de refrigeranteFoto: Felix Linde

Fischer disse considerar exagerada a decisão da Justiça. "Oferecemos uma conversa pessoal ao Papa. Nós o convidamos para vir até a redação conversar conosco sobre tudo isso", disse Fischer, acrescentando que ofereceria um café ao Papa. Ou um refrigerante.

Até agora não há um claro vencedor na polêmica, mas a redação da Titanic comemora um pequeno sucesso: o número de pessoas interessadas em assinar a revista subiu desde esta terça-feira, primeiro dia do escândalo. Em vez dos tradicionais 10 novos assinantes por dia, houve 60 pedidos na terça e 50 até o meio-dia desta quarta-feira.

Autora: Rayna Breuer (as)
Revisão: Roselaine Wandscheer