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Empresário incentiva consumo consciente dando "cara" a salsichas

30 de abril de 2012

Um jovem berlinense está mudando a maneira como se consome carne, dando uma “cara” às salsichas que ele comercializa. Porém, nem todo mundo está preparado para comer a carne do porco depois de ver sua foto na internet.

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Foto: picture-alliance/dpa

Hoje em dia, a carne que comemos geralmente vem fatiada e dentro de uma embalagem plástica. As visitas ao açougue, onde selecionamos uma peça a ser cortada, são cada vez mais raras. Quase nunca associamos as vacas, frangos ou ovelhas aos bifes, salsichas e costelas em nosso carrinho de supermercado. Os consumidores não veem as lavouras onde são cultivados os vegetais que comem ou em que condições vivem os animais antes de chegarem aos balcões do açougue.

Dennis Buchmann, de Berlim, está tentando fazer essa conexão. Seu projeto "MeineKleineFarm" (Minha pequena fazenda), lançado em novembro do ano passado, tenta inspirar os consumidores a comerem carne de uma maneira mais consciente.

A forma que ele encontrou para isso é dar cara a seus alimentos, literalmente. Visitantes de seu website encontram fotos dos porcos da fazenda de Bernd Schulz, com quem Buchmann trabalha. Assim os consumidores podem conhecer os porcos que, em algum momento, vão acabar no seu prato.

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O fazendeiro Bernd Schulz em sua fazenda orgânica em Brück, próximo a BerlimFoto: picture-alliance/dpa

Chafurdar na lama

O criador do Meinekleinefarm.org declarou ser um grande apreciador de carne, mas gosta de saber se o animal que ele está comendo teve uma vida digna.

“Imagine que você é um porco e tem esse maravilhoso nariz que foi geneticamente programado para chafurdar o tempo todo”, diz ele. “Agora imagine que você passou sua vida toda em um chão de concreto, sem nunca ter utilizando seu nariz da maneira que deveria. Isso é muito triste”.

Buchmann se refere ao chão das fazendas industriais onde a maioria dos porcos são criados, muitas vezes amontoados e confinados entre quatro paredes, sem nunca ver a luz do dia. Os fazendeiros removem seus dentes e rabos, pois o confinamento torna os animais agressivos.

Os porcos que podem ser vistos no Meinekleinefarm.org levam a vida correndo livremente pelos campos ao ar livre da fazenda orgânica de Bernd Schulz, usando seus narizes para chafurdar na lama.

“MeineKleineFarm é o um projeto com o qual quero que as pessoas comam menos carne e de maneira mais consciente. Quero que elas pensem sobre o seu consumo de carne”, diz Buchmann.  

Tecnologia para o bem maior

Buchmann trabalha para o laboratório BetterPlace, grupo que tem como objetivo discutir como as tecnologias digitais podem ser usadas a favor do setor social. Ele também estuda na Escola de Governança Humboldt Viadrina, em Berlim, onde cada aluno tem que apresentar um projeto com propósito político.

Ao invés de bombardear as pessoas com imagens sobre maltrato de animais em fazendas industriais, Buchmann decidiu confrontar as pessoas de uma maneira diferente: conectando os consumidores com os animais que eles comem.

Buchmann contatou uma associação de fazendeiros orgânicos para achar uma fazenda de carne apropriada. Ele precisou de apenas cinco minutos para convencer Bernd Schulz a participar do projeto.

Dennis Buchmann
Dennis Buchmann quer conscientizar os consumidores de carne através do site Meinekleinefarm.orgFoto: DW/ C. Nippard

Encarando os fatos

Schulz tem 80 porcos, três javalis e alguns leitões. Comparado às fazendas industriais, seus porcos vivem quase o dobro do tempo. Eles são mais saudáveis e felizes. No site MeineKleineFarm podem ser vistas as fotos de nove porcos que foram abatidos e viraram salsicha.

Para algumas pessoas, pode parecer perturbador ver o animal que vão comer. Mas, segundo Dennis, a ideia do projeto é exatamente essa.

“Se você quer comer carne, tem que matar um animal. Eu acho isso aceitável se o animal tiver tinha uma vida digna. Se você não consegue encarar o fato que os animais precisam ser mortos para que se consuma carne, então você precisa se tornar vegetariano”, diz Buchmann.

Um pequeno passeio pelas ruas de Berlim, com um vidro de estampando a foto do porco "número 2" na tampa provocou reações interessantes.

“Gosto da ideia de saber de onde vem a carne”, afirmou Alice, da cidade de Melbourne. “Se você vai comer carne, tem que aceitar as consequências de que ela na verdade vem dos animais”.

Quando questionada se comeria a carne com uma foto do animal, a primeira reação de Jessie, de Londres, foi negativa. “Primeiro eu disse não, seria estranho. Mas quando pensei a respeito, faz sentido. Nós deveríamos conhecer o processo e saber se onde vem a carne que comemos”, disse.

“Absolutamente não", disse Ralf, de Berlim. "Não gostaria de ver a foto do animal que vou comer”. Ele cresceu em uma pequena vila cercada de fazendas na região da Floresta Negra, sul da Alemanha, e contou que os fazendeiros da região não consomem as vacas que criam, pois a conexão entre eles é muito forte. A solução é vender suas próprias vacas e comprar carne em outro lugar.

Dennis Buchmann
Vidro do patê vendido no site de Buchmann traz foto do porco abatido para fazer o produtoFoto: DW /C. Nippard

Salsicha em falta

Segundo Mahi Klosterhalfen, CEO e vice-presidente da Fundação Albert Schweizer, uma organização alemã de proteção de animais, MeineKleineFarm é um passo na direção certa para aumentar a transparência. No entanto, ele criticou o fato de não haver fotos do processo de abatimento no site e de os porcos recebem números em vez de nomes.

“Obviamente é melhor do que uma fazenda industrial e nós apoiamos qualquer iniciativa em tratar os animais de uma maneira mais humana, mas também encorajamos as pessoas a darem o próximo passo, e sempre há um próximo passo”, disse Klosterhalfen. “Você pode simplesmente deixar os animais em paz”.

Dennis Buchmann disse que os animais não recebem nomes porque ele não quer antropomorfizá-los. Eles não são animais de estimação - são criados para o consumo. Dennis não tem a intenção de virar vegetariano, nem seus clientes.

De um porco que pesa 120 quilos, pode-se produzir 250 vidros de patê de Leberwurst, 50 salames de 600 gramas cada e cerca de 25 anéis de salsichas de alho.

Niklas Sum foi um dos primeiro clientes de Buchmann e comprou uma salsicha de cada tipo. Ele queria fazer mais pedidos, mas disse que com a atenção que o MeineKleineFarm vem recebendo da mídia, hoje já há mais clientes do que porcos.

“É uma grande novidade que a salsicha esteja em falta. Não estou acostumado, geralmente você vai a uma loja e compra”, disse Sum. “Eu não posso simplesmente chegar e dizer ‘Dennis, me dê mais algumas salsichas'. Ele responderia: ‘desculpe, mas elas estão em falta, volte em dois meses'”.

Autor: Cinnamon Nippard (mas)
Revisão: Francis França