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Apesar de visita de Dilma, América Latina não é prioridade para EUA

9 de abril de 2012

Embora tenha recebido Dilma Rousseff e o presidente Calderón, do México, no mesmo mês, política externa implementada por Obama deve continuar dando pouco espaço para os vizinhos do sul.

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Foto: dapd

Este parece ser o mês da América Latina na agenda do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Na semana passada ele recebeu na Casa Branca o colega mexicano, Felipe Calderón. Nesta segunda-feira (09/04) foi a vez de a presidente brasileira, Dilma Rousseff, encontrar-se com Obama.

Segundo analistas, porém, estes encontros não demonstram que os norte-americanos darão mais peso à América Latina em sua política externa. A cobertura da imprensa dos EUA seria prova disso. No dia seguinte à cúpula da América do Norte na Casa Branca, exatamente quando Obama recebeu Calderón e o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, o New York Times publicou apenas uma foto dos três na página 17 com o seguinte título: "Presidente confiante de que a reforma da Saúde vai prevalecer".

Apenas na segunda parte de sua matéria o jornal nova-iorquino trouxe o encontro entre os três líderes. A política interna de Obama foi o que ganhou mais destaque nas reportagens que se seguiram à coletiva.

Tendências pouco democráticas?

Na verdade, os países da América Latina não ocupam o centro das atenções "por não terem nada a ver com grandes questões, como as que envolvem Oriente Médio e Afeganistão", acredita Ted Piccone, especialista em América Latina pelo Instituto Brooking. Mesmo assim, afirma Piccone, que atuou no Conselho de Segurança Nacional dos EUA assim como no Departamento de Estado e no Pentágono, Obama vem cooperando com aqueles países em questões como segurança, combate às drogas, energia renovável e fortalecimento de laços econômicos.

Há cerca de seis meses, Estados Unidos e Colômbia assinaram um acordo de livre comércio, mas só depois de o documento ter ficado anos no Congresso norte-americano. Um grande número de países – entre eles Equador, Venezuela e Bolívia – ainda não contam com embaixadas norte-americanas em seus territórios. Neste caso, o Congresso também vem bloqueando qualquer evolução, em parte por conta de preocupações com um desenvolvimento pouco democrático desses países.

Piccone cita vários motivos para essas preocupações: restrições de liberdade de expressão no Equador e na Venezuela, irregularidades nas eleições da Nicarágua, violência massiva no México. Agora Washington está bem ciente de que os Estados Unidos não podem, nem querem, assumir o papel de polícia na América Latina.

Competir com China

As relações entre os Estados Unidos e a América Latica são principalmente focadas no comércio. O plano de 1994 para criar uma associação de livre comércio que iria abranger todo o continente americano foi abandonado há muitos anos.

Obama recebeu Calderón em na semana passada
Obama recebeu Calderón em na semana passadaFoto: AP

Além do multilateral Tratado Norte-americano de Livre Comércio (Nafta) – estabelecido entre EUA, Canadá e México – os Estados Unidos também passaram a realizar acordos bilaterais, como mais recentemente com Colômbia e Panamá.Mas neste campo os norte-americanos têm agora um adversário de peso: a China.

Endinheirada e com uma grande demanda por matérias-primas, a China comercializa com a Venezuela, Cuba, Brasil e Chile. Os Estados Unidos ainda têm uma vantagem sobre os chineses, simplesmente por causa de sua proximidade geográfica com a América Latina, afirma Ray Walser, especialista em América Latina da conservadora Fundação Heritage.

E não apenas a China surge como competidor. Os próprios países latinos estão ganhando maior influência no cenário internacional. O Brasil, por exemplo, busca se estabelecer como líder dos países sul-americanos, vem cobrando um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, e pretende tomar seu próprio caminho em relação à discussão internacional sobre as ambições do programa nuclear iraniano.

"Rival amigo"

Ray Walser descreve o Brasil como um "rival amigo" dos EUA. A relação entre os dois líderes é boa. Obama já havia se encontrado com Dilma no ano passado, pouco após a posse em Brasília. Na época, as conversas focaram em energia, economia, finanças e parceria global. Agora, as conversas também incluíram encontros com líderes empresariais. O fato de os laços do Brasil como o Irã terem esfriado na gestão Dilma deve ajudar a aproximar o governo brasileiro do norte-americano.

Já os laços como a Cuba comunista devem permanecer atravancados. Enquanto Obama deve comparecer ao encontro da Organização dos Estados Americanos (OEA) na Colômbia, Cuba não aparecerá por lá. O próximo encontro será provavelmente diferente – e poderá trazer um problema, adverte Piccone: "Se um retorno cubano à OEA significar o fim dos princípios democráticos na região, este será um duro golpe para as conquistas dos últimos anos, quando a democracia foi definida como tema central da região."

Ofensiva diplomática

Walser avalia os encontros com o presidente mexicano e a presidente brasileira como parte de uma ofensiva diplomática visando a mostrar que os EUA têm seus vizinhos do sul sob seu radar. Mas o especialista alerta que, entre outros motivos, a crise financeira está tornando mais difícil para Washington aplicar recursos para ganhar mais influência na América Latina. Obama terá que apelar para interesses comuns.

Para Walser, Obama terá que encontrar palavras bem francas para explicar, por exemplo, que a América Latina também seria afetada se aumentarem as tensões com o Irã. Por isso, pelo menos durante o encontro da OEA, a América Latina deverá receber toda a atenção da política externa norte-americana.

Autora: Christina Bergmann, de Washington (msb)
Revisão. Carlos Albuquerque