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"Serious games": jogos de computador com fins úteis

24 de março de 2012

Através dos chamados "serious games", profissionais de várias áreas usam jogos de computador para fins úteis: médicos treinam cirurgias, analfabetos exercitam a escrita e a situação dos refugiados na Europa é simulada.

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Foto: Winterfest

Em Frontiers – you've reached fortress Europe, o jogador pode tentar, pouco a pouco, em diferentes níveis, entrar na Europa como refugiado, ao penetrar as fronteiras externas do continente. Ele pode também optar pelo outro lado, tomando a posição do soldado que vigia as fronteiras e tem por incumbência impedir os refugiados de ultrapassar a mesma. Em casos de emergência, pode fazer isso até mesmo com o uso de armas, embora, no jogo, esta opção reverta em pontos negativos.

"Refugiados querem que contemos suas histórias"

Este é um entre os exemplos de games que se orientam em fatos reais. Criado pelo grupo austríaco de artistas Gold Extra, Frontiers pode ser baixado por qualquer pessoa no site www.frontiers-game.com. Embora seus criadores o chamem de "game for change" – "jogo pela mudança" –, em referência à situação dos que procuram emigrar para a Europa, há quem diga que a ideia é macabra, pois brinca com os destinos de refugiados e policiais de fronteira.

Com o jogo, o grupo de artistas pretende chamar a atenção para os problemas existentes nas fronteiras da Europa. Como na vida real os policiais são treinados para atirar nos refugiados em situações emergenciais, o jogador também tem esta possibilidade no jogo. Porém caso opte por utilizá-la, ele receberá uma advertência. Frontiers, acentuam seus criadores, não pretende se tornar o que se chama de first person shooter, como, por exemplo, o bélico Call of Duty.

Screenshot Frontiers
Jogador escolhe entre posição de refugiado ou de soldadoFoto: Frontiers

Para a produção do jogo, os artistas pesquisaram intensamente, conversando com refugiados, organizações de ajuda humanitária e porta-vozes dos soldados que se ocupam da vigilância de fronteiras. Além disso, viajaram para o Marrocos, onde visitaram estações fronteiriças.

"Os refugiados querem que contemos suas histórias. Eles nos deram inclusive permissão explícita para usar suas fisionomias nas figuras dos jogos de computador", explicou Tobias Hammerle, do grupo Gold Extra, ao apresentar o game em fevereiro último no Centro de Arte e Tecnologia da Mídia (ZKM), em Karlsruhe.

No fim do jogo, ninguém consegue ignorar a realidade, pois por pelo menos cinco minutos, todo jogador tem que se permanecer num espaço onde, com um clique, adentra a realidade dos refugiados, na forma de entrevistas.

Este é exatamente o princípio dos serious games: o de incitar o jogador a refletir sobre a realidade – de maneira lúdica, entenda-se. Ou a respeito de diversos assuntos, por exemplo, de ordem política, como é o caso dos news games, uma subcategoria dos serious games. Uma pessoa que marcou este gênero de jogos é Gonzalo Frasca, criador e teórico de jogos de computador. O jogo online September 12th, por exemplo, foi programado por ele como reação aos atentados terroristas do 11 de setembro de 2001.

Um jogo que não se pode ganhar

O roteiro trata de terroristas, escondidos numa cidade possivelmente árabe, que o jogador precisa observar. No entanto, quando atira, acaba matando inocentes. E quanto mais inocentes mata, mais os habitantes da cidade se armam, transformando-se em terroristas. O jogador não tem como ganhar.

Stefan Göbel, pesquisador do assunto na Universidade de Darmstadt, lembra que os jogos podem transmitir não somente mensagens políticas. "Não há praticamente nenhuma área, na qual os serious games não possam ser usados". De início, os norte-americanos começaram a usá-los para simulações militares. Hoje, há três setores nos quais são utilizados: esporte, saúde e publicidade, tanto na formação profissional, quanto para o recrutamento de pessoal, por exemplo.

Screenshot Frontiers
Torres de vigilância do 'Frontiers' são cópia das encontradas nas fronteiras da EuropaFoto: Frontiers

A interseção entre jogo e aprendizado é tema de diversos projetos de pesquisa atuais na Universidade de Darmstadt. Segundo Göbel, até hoje não há grandes pesquisas provando que faça sentido transmitir conteúdos reais através de jogos de computador. Porém alguns já existem prêmios para as tentativas nesse sentido. Um deles é a categoria Best Serious Game, do Prêmio Alemão de Jogos de Computador, ou o Serious Games Award, concedido pela feira de computadores Cebit, de cujo júri Göbel já participou diversas vezes. No ano passado, ele foi incumbido de entregar o prêmio aos criadores de Winterfest, que tem por meta ensinar analfabetos funcionais a ler, escrever e fazer contas no dia a dia.

Alemanha na lanterninha

Hoje em dia, há na Alemanha várias empresas especializadas no desenvolvimento desse tipo de jogos educativos. Uma delas é a Zone 2 Connect, dirigida por Thorsten Unger, também porta-voz de um grupo de especialistas em serious games dentro da Federação Alemã da Indústria de Computadores. Segundo Unger, a Alemanha ainda capenga atrás de muitos outros países, no que diz respeito aos serious games. "Nos EUA, Escandinávia, Reino Unido, Holanda e França, o tema é visto de maneira muito mais progressiva", observa o especialista.

A ideia por trás dos serious games é promissora, principalmente quando se leva em conta que esse tipo de jogo não se limita ao computador, mas pode ser levado a diversas mídias, como smartphones, consoles ou tablets. E mesmo que não correspondam às ambições de jogadores experientes, eles podem tornar o aprendizado mais divertido, abrindo novos acessos à educação.

Só o tempo dirá quão eficiente é, de fato, seu uso. Em setembro deste ano, Göbel pretende discutir o assunto com pesquisadores de todo o mundo, durante o GameDays 2012, a ser realizado na cidade alemã de Darmstadt. Talvez, até lá, já existam mais dados concretos a respeito.

Autora: Sarah Judith Hofmann (sv)
Revisão: Augusto Valente