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Direitos humanos em Angola continuam a ser violados diz HRW

António Rocha21 de janeiro de 2014

Relatório de 667 páginas da HRW sobre os direitos do homem em mais de 90 países, entre eles Angola, foi apresentado esta terça-feira (21.01) em Berlim.

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Wahl Angola
Foto: picture-alliance/dpa

O relatório-2014 da HRW afirma que as autoridades daquele PALOP intensificaram as medidas de restrição à liberdade de expressão, associação e reunião em 2013, levaram à justiça jornalistas e ativistas e efetuaram prisões arbitrárias de manifestantes.

Segundo o documento da organização de defesa dos direitos do homem, o Governo angolano tem recorrido a numerosos processos criminais de difamação contra jornalistas e ativistas, enquanto continuam os abusos da polícia, prisões arbitrárias e intimidação para impedir protestos pacíficos contra o Governo, greves e outras manifestações.

Daniel Bereket, diretor para a África da HRW, mostrou-se preocupado em entrevista à DW África. “A situação em Angola continua preocupante porque testemunhamos ataques violentos contra manifestantes e outras situações de violação dos direitos humanos que infelizmente continuam como nos anos anteriores.

O documento referiu a vários casos de jornalistas processados. Cita o caso dos “bloggers” José Gama e Lucas Pedro do web site clube-K.net acusados, em Julho de 2013, de abuso da liberdade de expressão e difamação por artigos em que denunciam o envolvimento do procurador-geral em esquemas de corrupção e a tortura perpetrada pela polícia de investigação criminal.

"Os ativistas e os media têm sido vítimas de intimidação e temos observado tentativas de censura através da lei da difamação", diz Bereket.

Generais em foco

Por outro lado e ainda segundo o relatório entre Março e Julho, o jornalista e ativista dos direitos humanos Rafael Marques, Prémio Internacional de Transparência e Integridade 2013, foi acusado em 11 processos criminais por difamação. Os acusadores são generais angolanos de alta patente e os seus associados que operam em companhias privadas na exploração de diamantes, na província de Luanda Norte.

Recorda-se que Rafael Marques acusa-os de tortura, raptos, violações e assassínios no livro "Diamantes de Sangue" que divulgou em Portugal, em 2011. A Procuradoria-Geral angolana arquivou uma queixa de Rafael Marques contra os generais e os seus associados em 2012.

O relatório da HRW também referiu que os organizadores e participantes em protestos contra o Governo também foram alvo de vigilância, assédio e, ocasionalmente, ataques e raptos por agentes de segurança em 2013.

Wahl Angola UNITA Partei Protest
Protesto de militantes e simpatizantes da UNITA em LuandaFoto: Reuters

“A HRW tem notado que forças de segurança têm repetidamente exercido uma grande repressão nos movimentos de protesto dos veteranos de guerra e as mesmas forças têm dispersado de forma violenta os protestos e prendido arbitrariamente muitas pessoas. Lembro que a 22 de dezembro de 2012, a 30 de março, a 27 de maio e 19 de setembro de 2013, a polícia usou força excessiva para dispersar manifestantes de protestos pacíficos em Luanda, detiveram arbitrariamente várias pessoas e ameaçaram vários jornalistas, sublinha Daniel Bereket em entrevista à DW África.

Desaparecimentos e contrastes

E o director para a África da HRW cita o caso do jovem Nito Alves de 17 anos. “Em setembro de 2013, a polícia prendeu Manuel "Nito" Alves, um jovem ativista devido às camisolas que seriam utilizadas na manifestação de 19 de setembro, que chamavam o Presidente de "ditador repugnante" e criticava-o por estar muito tempo no poder. O jovem foi acusado de "ultraje" ao Presidente e ficou preso durante dois meses, tendo sido libertado em novembro, aguardando agora o seu julgamento.

Numa outra passagem do relatório a HRW fala dos manifestantes Isaías Cassule e António Alves Kamulingue que foram raptados e desapareceram. Segundo a organização de defesa dos direitos do homem, um site angolano publicou detalhes de um relatório confidencial do Ministério do Interior, revelando que os dois manifestantes foram raptados, torturados e mortos pela polícia e oficias dos serviços secretos angolanos. A HRW também referiu que as autoridades continuam a realizar prisões arbitrárias, tortura e outras violações no enclave de Cabinda.

Angola Bürgerrechtler Rafael Marques de Morais
Rafael MarquesFoto: privat

Um outro aspecto citado por Bereket tem a ver com a má distribuição da riqueza em Angola. “Apesar da grande produção petrolífera em Angola, o governo continua a não conseguir atender às necessidades básicas da população do país e isso também é uma violação dos direitos do homem. As autoridades não cumprem as promessas feitas aos mais pobres. Apesar da grande produção do petróleo, a pobreza é gritante e um índice muito baixo do acesso das populações aos serviços básicos”, destaca Bereket.

Nito Alves
Nito AlvesFoto: Maka Angola

O relatório também indica que o Governo realizou despejos forçados em 2013 e lançou uma nova iniciativa para remover os comerciantes de rua na capital, Luanda. As duas medidas afetam as comunidades mais pobres e têm sido realizadas com brutalidade, sublinhou a HRW.

O relatório anual da Human Rights Watch - Relatório Mundial 2014 - analisa as questões fundamentais dos direitos humanos em 90 países e territórios do mundo, com base em factos ocorridos entre o final de 2012 e novembro de 2013.


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