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Deputados angolanos terão ficado com subsídios de motoristas

Nelson Sul D'Angola (Benguela)7 de janeiro de 2015

A acusação é do Centro de Integridade Pública de Angola, que ouviu vários motoristas. Segundo a organização, há deputados que chegam a ficar com 60% dos subsídios. Outros recebem o subsídio apesar de não terem motorista.

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Foto: Pedro Borralho Ndomba

Segundo o estudo do Centro de Integridade Pública (CIP), há parlamentares que pagam apenas 40 por cento dos cerca de 1300 dólares mensais que o Estado atribui para cada motorista. Outros receberão o subsídio apesar de não terem motorista. A instituição não-governamental, que investiga, fiscaliza e denuncia atos contra a integridade pública em Angola, cita vários motoristas na condição de anonimato.

Makuta Nkondo, um analista político angolano e antigo deputado pela bancada da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), diz conhecer por dentro esta situação: "É uma roubalheira. São raros os deputados que pagam aos motoristas. É por isso que mudam constantemente de motorista, cozinheiro e jardineiro, é exatamente para ludibriar esses trabalhadores com os verdadeiros salários a que têm direito", afirma Nkondo em entrevista à DW África.

Confissão

Angola Abgeordneter Pedro Makuta Nkondo
Ex-deputado e analista político, Makuta NkondoFoto: Makuta Nkondo

O antigo deputado reconhece que, durante o seu mandato, também cometeu irregularidades, ainda que de forma diferente. Nkondo diz que, apesar de ter recebido o subsídio para pagar ao seu pessoal de apoio, não dispunha de nenhum funcionário por temer uma infiltração dos serviços secretos.

"Eu, Makuta Nkondo, também roubava, porque não tinha motorista e devia ter", confessa. "Isso é uma obrigação, mas eu não tinha motorista por razões pessoais. Temia que houvesse uma infiltração da segurança do MPLA. Todo o mundo conhece a minha situação política em Angola."

Maioria dos deputados recusou falar

Entre os oito deputados da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) na Assembleia Nacional, apenas dois aceitaram falar sobre o caso ao Centro de Integridade Pública. Só quatro deputados da UNITA falaram ao CIP, num total de 32, e entre os 175 parlamentares do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), apenas cinco aceitaram falar.

O deputado da CASA-CE, Lindo Bernardo Tito, disse por exemplo, citado pelo relatório, que tem utilizado o guarda atribuído pela Unidade Protocolar da Polícia Nacional para conduzir a sua viatura. Tito tem atribuído o subsídio que seria destinado ao motorista aos dois filhos, que terão dado apoio à família em alguns trabalhos domésticos.

Lindo Bernardo Tito, CASA-CE in Angola
Lindo Bernardo Tito, deputado da CASA-CEFoto: DW/N.S. D'Angola

O analista político Makuta Nkondo contesta as afirmações: "Não é ele, Lindo Bernardo Tito, que vai transformar o seu guarda em motorista. Isso é uma mentira. Porque o guarda, em primeiro lugar, é polícia."

Outro parlamentar que, segundo o CIP, também não tem motorista mas recebe dinheiro para o efeito é o deputado da UNITA, Mfuca Muzemba. Sérgio Luther Rescova, deputado do MPLA, também foi acusado de ficar com uma parte do subsídio.

Exemplo deve partir de cima

Makuta Nkondo defende que os deputados devem dar o exemplo. "Quando os deputados, sobretudo a oposição, choram o direito de fiscalizar o Estado, a fiscalização devia começar por eles próprios", afirma.

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