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Degradado pelos nazistas, Sara é um nome carregado de história

Sarah Judith Hofmann (sv)6 de janeiro de 2014

A partir de 1° de janeiro de 1939, os judeus alemães foram obrigados pelos nazistas a inserir nomes "tipicamente judaicos" em seus passaportes. Os homens passaram a usar o nome Israel e as mulheres, Sara.

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Foto: picture-alliance/akg-images

Na Alemanha atual, Sarah não é um nome raro. Especialmente em minha geração, há um sem número de Sarahs. Eu nasci em 1983 e na escola primária precisei sempre de um adendo ao meu nome – Sarah H. ou Sarah J. – pois havia diversas meninas com o mesmo nome que eu.

Coincidência? Pode ser que isso não tenha sido o caso de todos os pais, mas os meus sempre acentuaram para mim o significado dessa escolha: Sarah era o nome que os nazistas escreviam nos passaportes das mulheres judias. É o nome bíblico da mulher de Abraão, mãe de Isaac – mãe de todos os judeus, cristãos e muçulmanos. Um nome degradado pelos nazistas a um símbolo da morte.

Meus pais – de alguma forma parte da geração 1968, que havia se rebelado contra os seus pais nazistas – não podiam reabilitar os crimes de seus antepassados, mas quiseram marcar uma posição. E por isso me deram o nome de Sarah e me contaram desde a mais tenra infância a história dos judeus alemães.

Sarah Hofmann DW Mitarbeiterin
Sarah Hofmann, jornalista da DWFoto: DW/M. Müller

Nunca a importância desse nome foi tão clara para mim como quando viajei para a Lituânia pelo projeto "Legado Judaico-Alemão no Mundo", realizado pela Deutsche Welle. Em Vilnius, onde um terço dos habitantes, antes da Segunda Guerra Mundial, era de crença judaica e onde vivem hoje apenas alguns poucos judeus, senti pela primeira vez, como representante da terceira geração do pós-Guerra, a culpa pelo que fizeram os algozes nazistas. Achei estranho me apresentar aos sobreviventes que entrevistávamos como "Sarah", como se não tivesse o direito de usar esse nome.

Até que me encontrei com Irena Veisaité, vencedora do Prêmio Goethe de 2012, que nos concedeu uma entrevista em sua casa. Ela nos relatou a respeito das atrocidades dos nazistas na Lituânia, falou de sua juventude no gueto de Kaunas e de seu apreço pela língua alemã, que, como ela própria diz, não tem nada a ver com o regime de Hitler. Irena Veisaité me impressionou profundamente durante essa conversa.

Quando nos despedimos dela, depois de tomarmos chá e comermos biscoitos, a graciosa Irena Veisaité me chamou de lado e disse: "Sarah, mande recomendações a seus pais de minha parte. E diga a eles o quanto significa para mim eles terem lhe dado esse nome". Eu permaneci frente a esta pequena mulher, com toda a sua grandeza, e quase chorei.

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Irena Veisaité, em VilniusFoto: DW/Isaiah Urken

No dia 1° de janeiro de 1939 entrava em vigor o que se chamou de "Segundo Decreto para a Aplicação da Lei sobre Mudança de Nomes e Sobrenomes". Com ele, os judeus alemães deveriam ser identificáveis através de seus nomes. Quando não tinham nomes classificados como "tipicamente judeus" pelos nazistas, eram obrigados a acrescentar os nomes Israel (homens) e Sara (mulheres) em seus passaportes. Tratava-se de mais uma medida discriminatória contra os judeus alemães durante o regime nazista e mais um passo na direção do Holocausto.