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Debate público entre candidatos às presidenciais em Moçambique pode trazer maturidade política, diz analista

Nádia Issufo15 de setembro de 2014

Na jovem democracia moçambicana os debates públicos entre políticos, principalmente em épocas eleitorais, nunca aconteceram. Em 20 anos de multipartidarismo e democracia já surge a vontade de que tal aconteça.

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Afonso Dhlakama
Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, o maior partido da oposição em MoçambiqueFoto: picture-alliance/dpa/A. Catueira

Por exemplo, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, desafiou os candidatos às eleições presidenciais a um debate de ideias, neste momento de caça ao voto. A DW África entrevistou Calton Cadeado, analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Maputo.

DW África: De que forma um debate pode ser benéfico para os eleitores moçambicanos?

Calton Cadeado (CC): Acho que isso pode servir para mudar a forma de fazer política, primeiro pela emoção e, segundo pela racionalidade da tomada de decisão. Acho que isso pode, eventualmente, abrir um espaço para conduzir as pessoas a prestarem mais atenção aos conteúdos do que as pessoas prometem e gostariam de fazer por Moçambique e não simplesmente pelas eleições que geralmente são apeladas nas campanhas eleitorais de rua. Acho também que isto pode trazer uma forma de maturidade de fazer política, em que vale mais a força dos argumentos e não o argumento da força.

DW África: Este tipo de prática é uma característica de sociedades desenvolvidas em termos democráticos. Acha que os políticos moçambicanos estão preparados para este tipo de debates?

CC: Ainda há uma certa reserva. A cultura do debate está a instalar-se em Moçambique e a possibilidade de enveredarmos pelo efeito imediato e instantâneo que tem, há sempre o receio de que em vez de ficarem as ideias, o debate pode resvalar mais para ataques pessoais, do que necessariamente para as ideias. Há esse receio de que o populismo pode ser mais triufante, os discursos de vitimização podem ser mais triufantes, os ataques a um e outro podem ser mais triufantes do que a passagem da mensagem das ideias, intenções e projetos que se querem discutir - estou a falar de políticos, mas também estou a ver o lado da sociedade. Hoje há um grande interesse da sociede em ouvir os políticos in loco, no momento, e isto pode ser interessante para os políticos. Mas também há um aproveitamento político que pode estar no meio disto. Não tendo capacidade de se fazer presente em todo o país, no momento, um debate televisivo pode ajudar aos menos dotados de recursos a atingirem a todos num momento instantâneo.

Calton Cadeado, analista político
Foto: privat

DW África: Mas pode também acontecer um debate readiofónico, que é um meio mais acessivel aos moçambicanos...

CC: Pois, mas parece que o interesse é fazer um debate radiofónico e televisivo e o debate televisivo é o que parece ter mais interesse por causa da visibilidade mediática que é maior do que o radiofónico, por causa do efeito visual.

DW África: O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, desafiou os outros candidatos as eleições a um debate público. Depois da saída de Dhlakama das matas e de ter conseguido a maior partes dos desejos do seu partido durante a crise e, depois também da sua chegada triunfal à Maputo para a simbólica assinatura do acordo com o Presidente da República, aparece agora Afonso Dhlakama a propor este debate. Isto não é um somar de pontos consecutivos para esta figura em contexto de campanha eleitoral?

CC: É um somar de pontos, mas também a revelação de uma fragilidade. Vamos lá pelo somar de pontos, ao fazer este pronunciamento Afonso Dhlakama aparece como aquele que não tem medo do debate, que não teme a verdade nem o confronto. Mas em termos negativos, do outro lado da moeda, este pode ser um sinal de revelação de uma fraqueza do líder da RENAMO em dois sentidos, ele já não tem a frescura fisíca nem idade para percorrer o país no seu todo, então, ele pode - por via de um debate televisivo e até radiofónico - chegar ao país fazendo apelos emocionais e até populistas, essa é uma forma.

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