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De olho na reeleição, PT cultiva aliança com evangélicos

Karina Gomes11 de agosto de 2014

Em pouco mais de uma semana, Dilma participou de dois eventos religiosos, numa estratégia para garantir o voto evangélico, que representa um quinto do eleitorado.

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Foto: Getty Images

"Feliz é a nação cujo Deus é o senhor." Foi com um discurso repleto de citações bíblicas e expressões religiosas que a presidente Dilma Rousseff se dirigiu a mais de 5 mil pastoras e missionárias evangélicas da Assembleia de Deus, em São Paulo, na última sexta-feira (08/08).

Nove dias antes, também em São Paulo, ela esteve ao lado do fundador e líder da Igreja Universal, Edir Macedo, na inauguração do suntuoso e controverso Templo de Salomão. Os evangélicos representam mais de um quinto do eleitorado, e o PT sabe que, para conseguir a reeleição, precisa deles.

Se a legenda conseguiu vencer com certa folga o segundo turno em 2010 – foram 56,05% dos votos válidos para Dilma, e 44,95% para José Serra –, o cenário para a reeleição agora é distinto. A presidente não conseguiu recuperar a popularidade perdida na segunda metade de seu mandato, e os índices de avaliação do governo são preocupantes.

Na tentativa de aprofundar o diálogo com os pastores no Congresso, presidentes dos nove partidos que integram a aliança pela reeleição de Dilma articulam a criação de um comitê evangélico para a campanha da petista.

"A intenção é se aproximar desse setor, que é muito disperso. Algumas lideranças evangélicas no Congresso não fecharam com nenhum candidato. A ideia é buscar alianças com aquelas que ainda não estão apoiando ninguém oficialmente", explica o pastor Marcos Pereira, do PRB, legenda ligada à Igreja Universal e, atualmente, no comando do Ministério da Pesca.

Contradições dentro do governo

Em 2010, Dilma enfrentou resistência entre evangélicos e outros grupos religiosos devido a declarações favoráveis ao aborto. O atrito foi apontado como um dos motivos que levou a disputa para o segundo turno. Depois, porém, o apoio da Igreja Universal acabou sendo importante para a vitória da petista – Edir Macedo publicou uma carta em defesa da candidata às vésperas do pleito.

A influência da bancada evangélica no governo Dilma evidenciou situações contraditórias. Ao mesmo tempo em que busca alianças com conservadores evangélicos, o Planalto faz questão de manter sob a tutela do PT a Secretaria Especial de Direitos Humanos, que trata de alguns temas polêmicos envolvendo a Igreja, como direito dos homossexuais. O Brasil é ainda signatário de diversos acordos internacionais na área de direitos humanos.

"Da mesma forma como vetou a distribuição do kit gay nas escolas, fortemente influenciado pelos evangélicos, o governo discutiu diversas ações de combate à homofobia. Há uma convivência contraditória dessas políticas", avalia o cientista político Francisco Fonseca, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O especialista ressalta que a discussão sobre a ampliação do direito ao aborto, por exemplo, continua. A questão, porém, não avançou muito quando se trata da regulamentação de políticas públicas neste sentido.

Para o analista político Kennedy Alencar, a omissão em relação a temas de ordem moral não é novidade na estratégia eleitoral de Dilma. "Ela faz um trabalho preventivo para evitar desgastes com católicos e evangélicos e, assim, angariar mais votos", diz.

Esquerda e neopentecostais

A aproximação com os evangélicos é importante para os dois lados: aos coordenadores da campanha de Dilma, que consideram o eleitorado importante nas eleições deste ano, e também às lideranças evangélicas, que em troca do apoio exigem vantagens políticas.

Especialistas lembram que o PT, que teve uma vinculação com as Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica em seu nascimento, pela luta contra as injustiças sociais, acabou se afastando de suas origens durante seu processo de crescimento. Ao contrário de muitas lideranças petistas, uma boa parte da esquerda brasileira vê de forma crítica as ações das igrejas evangélicas neopentecostais e preferiria se manter longe delas.

"O PT não é mais um partido de esquerda no sentido clássico. É um partido de centro-esquerda, e até nisso há um certo exagero", afirma o historiador Marco Antônio Villa. "Isso não quer dizer que não haja uma ou outra corrente minoritária ainda da velha tradição, mas elas não têm qualquer representação na política nacional da legenda."

Para Fonseca, o PT se rendeu à lógica do esquema político brasileiro e fez pouco para mudar o cenário baseado no financiamento privado e nas grandes alianças.

"O governo deixou a desejar em termos de uma reforma política. O PT entrou no jogo e não usou sua influência para alterar esse sistema", diz. "O Brasil vem avançando muito mais nas bordas sem enfrentar os grandes interesses: do sistema financeiro, dos latifundiários, da mídia, entre outros."