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Custo e transferência de tecnologia determinaram compra de caças suecos

Clarissa Neher/Greta Hamann19 de dezembro de 2013

Escolhidos pelo governo após década de impasse, aviões Gripen são mais econômicos e menores em relação aos fabricados por americanos e franceses. Mal-estar com EUA também teria influenciado decisão do Planalto.

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Foto: Fabrice Coffrinia/AFP/Getty Images

Após um vai e vem de 12 anos, a sueca Saab, com as aeronaves Gripen NG, acabou levando a melhor na decisão do Planalto sobre a compra de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). A fabricante sueca deixou para trás a francesa Dassault, com o modelo Rafale, e a americana Boeing, com o F-18. Custos de aquisição e de manutenção, transferência de tecnologia e desempenho dos aviões foram os três fatores determinantes na decisão.

"Todos os três aviões são excelentes. Eles são modelos equivalentes e cumprem as funções exigidas pelo programa FX. A grande razão da escolha, além da proposta de transferência de tecnologia, está na questão do preço, tanto de aquisição quanto o custo operacional", afirma o chefe do departamento de engenharia aeronáutica da USP, Fernando Martini Catalano.

O governo brasileiro adquiriu 36 caças por 4,5 bilhões de dólares. Além do valor pago, bem abaixo da estimativa de mercado, em torno de 7 bilhões de dólares, o custo de manutenção do Gripen NG contou a favor do modelo.

Por ser menor do que os dos seus concorrentes – 14,1 metros de comprimento e 8,6 metros de largura – e possuir apenas um motor, sua manutenção é mais barata. Além disso, a aeronave precisa de menos combustível, pois não demanda injeção extra na saída das turbinas para aumentar rapidamente a potência. A economia no consumo de combustível chega a até 30%.

O tamanho reduzido também aumenta as possibilidades de pouso do caça, que é mais compatível com o porta-aviões brasileiro. "Se fosse escolhida uma opção distinta não poderíamos pousar nem com o F-18 nem com o Rafale no nosso porta-aviões sem grandes mudanças na via de pouso. No caso do Saab, ele pode ser desenvolvido tendo em vista a necessidade da plataforma existente", afirma Antonio Jorge Ramalho da Rocha, professor de relações internacionais da UnB.

Parceria decisiva

Ao escolher a opção sueca, o governo brasileiro também garantiu a transferência de tecnologia no setor. Por enquanto, existe apenas um protótipo do Gripen NG, permitindo que o Brasil possa participar do desenvolvimento do projeto. A versão brasileira do caça será produzida em parceira com a FAB, a Embraer e outras indústrias nacionais.

O caça contará com sistemas embarcados para o controle de aeronave, radar de última geração e poderá empregar armamentos de fabricação nacional. Para Catalano, essa construção em conjunto permite que o país desenvolva um modelo específico para suas necessidades.

Saab 39 Gripen F
Modelo menor e mais econômicoFoto: Jonathan Nackstrand/AFP/Getty Images

O desenvolvimento em conjunto também beneficiará a economia do país, impactando positivamente nas indústrias de serviço aeroespacial, além de gerar inovação e trazer conhecimento ao setor, possibilitando que o Brasil entre nesse mercado e possa também no futuro produzir e vender seus próprios caças. O Gripen NG também era a opção preferida dos pilotos, segundo Catalano.

Espionagem e negócios

A escolha do governo brasileiro foi tema na imprensa internacional. O jornal americano New York Times e o britânico Financial Times afirmaram que o Brasil teria "esnobado" a Boeing. Os jornais afirmaram que o escândalo de espionagem, que incluiu monitoramento das comunicações da presidente Dilma Rousseff, influenciou a escolha brasileira.

Segundo informações divulgadas pela agência de notícias Reuters, fontes internas do governo brasileiro afirmaram que os escândalos de espionagem pesaram realmente na decisão, prejudicando a empresa americana.

Para Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, a proposta da Saab realmente foi a melhor, devido aos custos e à transferência de tecnologia. Mas mesmo se a proposta americana tivesse sido igual à da Suécia, afirma, o Brasil não a teria escolhido.

"Os Estados Unidos estão com uma reputação ruim no Brasil. A sociedade não teria gostado se o governo brasileiro tivesse fechado um acordo dessas dimensões com os EUA", opina Stuenkel.

A aquisição das aeronaves faz parte do programa FX-2 da FAB. Ao todo, o governo brasileiro adquiriu 36 caças para substituir os Mirage 2000, que serão desativados no fim deste ano. As primeiras aeronaves devem ser entregues em 2018, e os acertos dos detalhes da compra até a assinatura do contrato devem levar de oito a 12 meses.