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Kirchner é acusada de manobrar para esconder inflação

Fernando Caulyt5 de fevereiro de 2013

Fundo Monetário Internacional censura estatísticas do governo argentino, que estaria maquiando os números da inflação. Índice baixo significa economia para o Estado, já que juros da dívida são vinculados ao indicador.

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Foto: Getty Images

A Argentina voltou a trocar farpas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) depois que divulgou a taxa de inflação registrada no país em 2012. O índice, de 10,8%, é menos da metade do valor calculado por consultorias privadas, que estimaram a alta de preços em 25,6% no ano passado.

Devido à disparidade nos cálculos, o Comitê Executivo do FMI apresentou uma "declaração de censura" à Argentina na última sexta-feira (01/02) pela falta de precisão dos dados de inflação e de crescimento econômico divulgados pelo governo.

A moção de censura não tem consequências imediatas, mas pode afetar a credibilidade internacional do país. Ela é o primeiro passo para abrir um processo de sanções – como a suspensão do direito de voto – que pode chegar, até mesmo, à declaração do país como "não elegível" para receber recursos financeiros do FMI.

Para o professor do Instituto de Economia de Kiel, na Alemanha, Federico Foders, as críticas do FMI têm fundamento. "Não se pode confiar nos dados apresentados pela Argentina. O governo interviu no instituto de estatísticas em 2007 e colocou lá um político que representa os interesses do governo argentino. É preciso um instituto independente para realizar estatísticas corretas", frisou, em entrevista à DW.

Para ele, a "maquiagem" do índice de inflação tem alguns motivos claros: além de servir nas negociações salariais, a inflação também baliza os juros da dívida pública argentina. "Quanto menor o índice, menores serão os custos do Estado com o pagamento de bônus. Vantagem para o orçamento público, mas as pessoas que compraram títulos do governo não acham a medida tão animadora", disse.

Preços congelados

Prof. Dr. Federico Foders
Foders diz que controle de preços não resolve para segurar a inflaçãoFoto: IfW Kiel

A inflação é uma das principais preocupações dos argentinos, segundo várias pesquisas de opinião. Para contê-la, o governo argentino realizou um acordo com as principais cadeias de supermercado do país para congelar, por dois meses, os preços de venda de todos os produtos, informou a Secretaria do Comércio Interior.

Ao realizar o controle de preços, a Argentina dá indícios de que os dados sobre a inflação até agora apresentados por seu instituto de estatística não correspondem à realidade.

Na opinião de Foders, congelar preços não é a solução. "O controle de preços sempre falhou como instrumento para domar a inflação. Depois que ela já está alta, não é possível freá-la com esse artifício. Deve-se curar as causas, não os sintomas", afirmou o economista.

Entre as causas está a grande quantidade de pesos circulando na Argentina e, por outro lado, a baixa quantidade de dólares devido ao controle de divisas e de câmbio realizado pelo governo. Os argentinos só podem comprar uma certa quantidade de dólares no mercado e, dessa forma, o mercado negro se intensifica a cada dia.

O congelamento de preços nos supermercados da Argentina pode trazer sérios riscos ao país. "As empresas vão reduzir a produção. Se um produto custa, por exemplo, 10 euros, por que eu o venderia a 5?", questionou Foders, afirmando que deverá surgir um mercado negro para a negociação de produtos como café, pão, carne, chá, entre outros.

Puxão de orelha

Com a censura do FMI, o governo de Cristina Kirchner tem até o dia 29 de setembro para tomar medidas corretivas. A declaração de censura é a advertência mais dura dada até hoje ao país pelo FMI, que afirma que a Argentina não tem realizado progressos suficientes na precisão de suas estatísticas logo após a primeira advertência, dada há um ano.

A presidente criticou a moção do FMI em sua conta do microblog Twitter. "A verdadeira causa da raiva do FMI", diz ela, "é que a Argentina pagou o FMI e renegociou duas vezes sua dívida sem voltar a pedir dinheiro emprestado no mercado financeiro internacional para terminar com a lógica do endividamento eterno e o negócio permanente de bancos, intermediários etc que acabou no calote de 2001".

Argentinien Banknoten
Há uma grande quantidade de pesos circulando na Argentina e cidadãos têm restrições para comprar dólaresFoto: AP

O ministro da Economia da Argentina, Hernán Lorenzino, considerou que "parece paradoxal que [os especialistas do FMI] estejam preocupados com as medidas que a Argentina aplica, neste contexto internacional em que muitos países europeus têm problemas importantes e seguem a cartilha do Fundo". No entanto, o ministro anunciou que o governo "está trabalhando fortemente em um Índice de Preços ao Consumidor (IPC) com alcance nacional".

Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Francis França