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Emergentes

30 de agosto de 2009

Brasil, Rússia, Índia e China, ou seja, os emergentes reunidos sob a sigla BRIC, podem se tornar a locomotiva de novos impulsos para a economia mundial. A crise parece acelerar ainda mais este processo.

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Governantes dos quatro países do BRIC reunidos na Rússia, em junhoFoto: AP

Não importa se eles são chamados de mercados emergentes ou de economias em ascensão, o que acontece é que esses países estão se tornando os novos protagonistas no palco da economia mundial. Munidos do necessário para determinar os rumos econômicos nas próximas décadas, eles se tornaram conhecidos pela sigla BRIC.

Os governos desses quatro países – Brasil, Rússia, Índia e China – têm consciência do potencial de que dispõem. Em junho último, por exemplo, quando os quatros líderes se reuniram na russa Jekaterinburg, localizada na região dos Montes Urais, o presidente Dimitri Medvedev definiu a cidade, naquele momento, como o "epicentro da política mundial".

Prova de que suas palavras fazem sentido são as recentes reuniões de grêmios em busca de uma solução para a crise financeira, nas quais nenhum dos países do BRIC costuma faltar, não deixando dúvidas de que, sem os emergentes, nada mais funciona na economia mundial. Afinal, os quatro países juntos são responsáveis por 15% da economia e 13% do comércio mundiais, dispondo, com 2,8 trilhões de dólares, de mais de 40% das reservas de divisas de todo o mundo.

Em 20 anos, BRIC à frente do G8

Nobert Walter, economista-chefe do Deutsche Bank, acredita que alguns desses países emergentes detêm realmente potencial suficiente para provocar um deslocamento de forças no cenário econômico internacional. Nos próximos cinco a sete anos, diz Walter, essa tendência deverá se acentuar ainda mais. "O peso desses países deverá aumentar tanto no comércio internacional quanto nas decisões de investimentos no mundo", prevê Walter em entrevista à DW-WORLD.DE.

Os norte-americanos e europeus, acredita o economista, estarão muito preocupados com as correções necessárias nas economias de seus países. Tanto nos EUA quanto na Europa, a prioridade é reaver a ordem das estruturas e reduzir os enormes déficits públicos. "Isso vai contribuir para fortalecer ainda mais o crescimento relativo dos países emergentes", aponta Walter.

Essa tendência já pode ser observada hoje nas bolsas de valores. Depois do catastrófico ano de 2008, as ações nas bolsas de São Paulo, Moscou, Mumbai e Xangai já se recuperaram de forma vertiginosa, ultrapassando em muito as bolsas tradicionais nos EUA e na Europa.

Compensando perdas

LKW Fabrik Daimler in Wörth
Caminhões da montadora Daimler: Brasil é mercado importantíssimoFoto: DW

Grandes multinacionais também mantêm, em tempos de crise, um olho nos mercados emergentes. A montadora Daimler, por exemplo, embora não nutra esperanças de compensar os grandes rombos em seus caixas – provocados pela crise nos países desenvolvidos – com vendas enormes nos emergentes, mantém sua presença nos mercados do BRIC. "Não espero desses mercados grandes vendas depois de amanhã", diz Andreas Renschler, diretor do departamento de utilitários da montadora.

"Injetamos dinheiro nos mercados em crescimento", confessa ele, em referência ao Brasil, Rússia, Índia e China, lembrando que a Daimler deverá recorrer a esses mercados em aproximadamente cinco anos, mantendo, ali, "a perseverança".

Em função da pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, as montadoras têm sérios problemas nos mercados tradicionais da Europa, EUA e Japão, onde venderam nos últimos tempos pouco em termos de veículos pesados, ônibus e furgões.

Independência dos mercados tradicionais

A Daimler Trucks prognostica um período árido nos países desenvolvidos. Para garantir sua independência desses mercados tradicionais, a montadora de caminhões e ônibus namora com os países do BRIC, inclusive interessada em parcerias locais, a fim de desenvolver e vender veículos mais baratos.

Entre os países do BRIC onde a montadora já pode contar uma história de êxito está, acima de tudo, o Brasil: 12,5 % da produção de caminhões da Daimler são vendidos na América do Sul, registrando uma parcela de mercado no continente de mais de 28%. "Iremos ampliar ainda mais nossa posição no mercado", aposta Renschler.

Setor de TI

Indien, Bangalore, IT-Park Electronics City
Países do BRIC: 500 milhões de PCs até 2012Foto: picture-alliance/dpa

Pelo mesmo dilema passa o setor de TI (tecnologia de informação) nos países desenvolvidos, onde houve reduções consideráveis em função da crise. Para compensar, as empresas também apostam nos potenciais de crescimento dos países do BRIC, onde, até 2012, deverá haver aproximadamente 500 milhões de PCs. Um crescimento de 30% ao ano, que surte efeitos consideráveis no setor em todo o mundo.

Os fabricantes de computador nos países do BRIC dispõem, em função de seus conhecimentos locais, de vantagens decisivas em relação à concorrência estrangeira, reduzindo, desta forma, os custos de produção de forma drástica. Hoje, os fabricantes locais no Brasil, Rússia, Índia e China registram uma parcela de mercado de 20 a 30% no setor de TI. E isso sem contar a telefonia celular, extremamente forte nos quatro países.

Previsões mudam

A sigla BRIC foi criada há alguns anos pelo banco norte-americano de investimentos Goldman Sachs. O economista-chefe do banco, Jim O'Neill, previu naquele momento que, até o ano de 2050, os países do BRIC iriam ultrapassar as nações do G7 em relevância econômica. Hoje, O'Neill revida essa previsão, apontando que isso já deverá acontecer daqui a 20 anos.

O economista Walter, do Deutsche Bank, demonstra neste sentido algumas dúvidas. Em sua opinião, somente a Índia e a China são países com uma dinâmica econômica indubitavelmente forte. "Esses dois países irão registrar certamente um crescimento econômico de 7% nos próximos cinco anos, sendo, assim, motores da economia mundial", diz Walter.

Pessimismo em relação ao Brasil

Já a situação do Brasil é vista pelo economista com mais pessimismo, mesmo levando em conta que o país tenha superado a crise relativamente ileso, ou seja, apenas com uma leve redução do crescimento econômico. Isso se deve, acima de tudo, a um mercado interno surpreendentemente forte, sustentado por consideráveis aumentos de salários nos últimos anos, diz ele.

Mesmo assim, o consumo sozinho não conseguirá manter a dinâmica necessária, já que apenas alguns setores obtêm lucros consideráveis. Além disso, falta no Brasil, como antes, a infraestrutura necessária para que o país possa esgotar o potencial do qual com certeza dispõe.

Em suma, certo é que a crise mundial vai fazer com que os emergentes ultrapassem com rapidez ainda maior os países desenvolvidos. E isso sem contar que, sob a sigla BRIC, nem estão sendo lembrados outros países importantes no cenário internacional, como a Coreia do Sul, o México, a África do Sul e a Indonésia. A corrida por uma nova ordem econômica mundial já começou. A crise, neste contexto, exerce a função de catalisador.

SV/dw/dpa/rtr

Revisão: Carlos Albuquerque