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Conflito político no Mali provoca crise humanitária

5 de novembro de 2012

Mais de 200 mil pessoas já foram obrigadas a deixar as suas casas devido a violência no norte do país, controlado pelos islamitas. Conversações com um dos grupos radicais acontece a porta fechada em Ouagadougou.

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Conflito político no Mali provoca crise humanitária
Conflito político no Mali provoca crise humanitáriaFoto: picture-alliance/Ferhat Bouda

A mediação do Burkina Faso prosseguiu esta segunda feira (5.11) com Ansar Dine, um dos grupos radicais islâmicos que controlam o norte do Mali. Enquanto isso, especialistas internacionais finalizam um plano para uma intervenção armada africana naquele país da África ocidental.

Para o presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, mediador da crise no Mali em nome da Comunidade Econômica da África Ocidental (CEDEAO), a questão é convencer os tuaregues do grupo Ansar Dine - que em árabe significa "defensores do islão" - a romper os laços com os membros da Al Qaeda do Magred islâmico (Aqmi) e com os islamitas Mujao, que juntos controlam o norte do Mali desde que impuseram naquela região a lei islâmica sharia.

As consequências de uma crise

O número de deslocados internos no Mali é de quase 204 mil, revela o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR). Antes falava-se em 120 mil deslocados. Com base nas informações da Comissão de Movimentos da População do Mali, o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, diz que a revisão do quadro reflete, em parte, um melhor acesso da organização humanitária às áreas no norte do Mali, bem como melhorou a contagem do número de deslocados internos que chegam a Bamaco.

Só na capital do Mali, estima-se que o número de deslocados tenha chegado a 46 mil em setembro. Edwards diz ter, em seu poder, relatórios que registram fugas de pessoas da insegurança, da deterioração dos direitos humanos e do medo de uma atividade militar. As pessoas estão perdendo meios de subsistência e o acesso a serviços básicos é limitado, destaca ele.

Crianças soldado

Além do Mali, Guido Westerwelle também esteve no Senegal e na Nigéria
Além do Mali, Guido Westerwelle também esteve no Senegal e na NigériaFoto: picture-alliance/dpa

Segundo o ACNUR, o Níger recebeu nos últimos meses 3.853 refugiados do Mali. O Burkina Faso, mil. A agência das Nações Unidas para os refugiados alerta para o fato de ser cada vez mais difícil ajudar os refugiados no Níger, Burkina Faso e Mauritânia devido aos sequestros dos funcionários internacionais, que precisam viajar com escolta, o que encarece e dificulta os movimentos.

Nos campos de refugiados no Níger não há aulas para as crianças porque as infraestruturas não foram construídas, revela o ACNUR. Os responsáveis da agência temem o retorno das crianças e adolescentes ao Mali para estudar, onde correm o risco de serem recrutados pelos grupos armados.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Guido Westerwelle, acompanhou de perto recentemente os relatos de autoridades dos países da Comunidade dos Estados da África Ocidental sobre a questão no Mali.

Depois de um encontro na semana passada (02.11) em Bamaco, o chefe da diplomacia alemã saudou os seus homólogos da região por mais uma vez se ter a chance de elaborar um cronograma de ações políticas a serem implementadas em novembro. Para ele, um plano bastante realista, comentou após visitar Bamaco.

Guido Westerwelle ressaltou a importância desse processo quando a intenção é avançar em um trabalho longo de cooperação e estabilização.

Entenda o que aconteceu

Militantes tuaregues apoiam grupo Al Qaeda do Magreb islâmico
Militantes tuaregues apoiam grupo Al Qaeda do Magreb islâmicoFoto: picture alliance/Ferhat Bouda

A instabilidade e o êxodo de refugiados do norte do Mali começaram em janeiro deste ano, quando o grupo rebelde tuaregue Movimento Nacional para a Libertação de Azawad recorreu às armas para reclamar mais autonomia para a região.

Dois meses depois, o governo do presidente Amado Tumani Touré foi deposto por um golpe de Estado promovido por militares que contestavam a sua brandura para com os rebeldes do norte.

No início de abril (6.04), em meio a confusão criada pelo golpe de Estado, o Movimento para a Libertação de Azawad proclamou unilateralmente a independência da região. Ao movimento juntaram-se posteriormente vários grupos radicais islâmicos, que controlam agora a região norte do Mali.

As novas autoridades de Bamaco procuram o apoio da CEDEAO e contam com uma intervenção militar para recuperar o controle do norte do país. Mas a Argélia, país com o qual o Mali partilha uma grande zona de fronteira, tem-se mostrado reticente a participar na operação.

Autor: Marcio Pessôa
Edição: Bettina Riffel / António Rocha

Conflito político no Mali provoca crise humanitária