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Comunidade internacional é cúmplice dos conflitos em Cabinda, acredita ativista

27 de abril de 2012

"É preciso deixar de pensar na irracionalidade da guerra e pensar na racionalidade do diálogo", defende ativista de Cabinda Raúl Danda. Acordo de cessar-fogo proposto pela FLEC ao governo de Angola contina sem resposta.

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Raul DandaFoto: DW

No início de abril de 2012, a FLEC, Frente de Libertação do Estado de Cabinda, em Angola, propôs ao governo nacional um acordo de cessar-fogo. Oficialmente, a resposta de Luanda ainda é desconhecida.

Cabinda, região considerada por Angola como parte integrante do país, luta pela independência desde 1975. Os confrontos entre as partes duram até os dias de hoje. Entretanto, Cabinda é responsável pela produção de cerca de metade do petróleo produzido por Angola.

Em entrevista à DW África o ativista de Cabinda Raúl Danda mostra-se reticente quanto a uma resposta satisfatória de Luanda à oferta feita pela FLEC. Mas ainda assim, ele acredita que a paz um dia chegará à região.

Raúl Danda (RD): O que tem acontecido com o executivo de Angola, com o Presidente José Eduardo dos Santos, é sobretudo a busca por interlocutores facilmente vendíveis e compráveis, para poder dizer que se encontrou uma solução para o problema. Uma solução completamente irrealista. Não se parte para um diálogo sério, honesto, transparente e frontal com as forças de Cabinda. Em vez disso, o executivo de Angola tem transportado armas e homens para Cabinda, como se isso fosse uma solução. Portanto, Cabinda tem um exército completamente desproporcional se comparado com a população que tem. É preciso dialogar com os cabindas, em vez de metê-los na cadeia, de intimidá-los, de tentar fazer propostas chantagistas e de corrupção.

Cabinda luta pela independência desde 1975
Cabinda luta pela independência desde 1975Foto: Wikipedia

DW África: Então esta proposta de cessar-fogo da FLEC é prova de fraqueza face aos acontecimentos recentes, como o anúncio da FLEC sobre o desaparecimento e a morte de alguns militares considerados importantes; como a presença em massa das forças de segurança em Cabinda; e até o silêncio da comunidade internacional?

RD: É notório, de fato, que o que salva a FLEC é a mata densa onde se encontra alojada. É com muita tristeza que eu tenho dito e repito: a comunidade internacional é cúmplice daquilo que está a acontecer com o povo de Cabinda. A comunidade internacional olha para Cabinda como se fosse um grande poço de petróleo, onde vão buscar a solução para as suas crises e enriquecimento. Mas a comunidade internacional não dá um passo sequer, nem Portugal que tem responsabilidades sobre Cabinda - por ter participado na anexação de Cabinda à Angola – move um dedo, para ajudar a resolver o problema de Cabinda.

DW África: A aproximação da FLEC ao governo de Angola pode ser vista como um sinal para se chegar à paz em Cabinda?

RD: É um sinal, de fato. A via é essa. Eu sou daquelas pessoas que acreditam que por via militar as coisas não se resolvem. Isso acaba sempre numa mesa de negociações. Eu acho que a aproximação que a FLEC faz, é justamenteno no sentido de dizer que é necessário falarmos como seres racionais. É preciso deixar de pensar na irracionalidade da guerra e pensar na racionalidade do diálogo. Deus deu aquela terra cheia de riquezas aos cabindas. E é por causa dessa riqueza que temos hoje o pé de Angola e a mão da comunidade internacional postos em cima. O pé, para nos pisar e a mão, para sugar, sem que ninguém tome uma atitude para encontrar uma solução que dignifique o povo de Cabinda.

DW África: A história do cessar-fogo entre as duas partes não deu até hoje resultados satisfatórios. Em 1996, quando assinaram o cessar-fogo, este acordo não foi para frente.

RD: O problema é que sempre foi assim. Para o executivo de Angola, o cessar-fogo só é válido quando Angola está em posição de vencer. É como quem diz: "foi, venci e agora vamos parar porque eu sou o vencedor".

Autora: Nádia Issufo
Edição: Bettina Riffel/António Rocha

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