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Colômbia: um país vulnerável às mudanças climáticas

5 de fevereiro de 2013

A mudança climática atingiu a Colômbia com calor extremo e enchentes. O governo faz propaganda de sua política de proteção climática no exterior. Entretanto, para ambientalistas, ações não condizem com discursos.

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Foto: AP

A situação foi paradoxal: em dezembro de 2010, o recém eleito presidente da Colômbia, Manuel Santos, queria ir à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Cancún, no México, para negociar medidas nessa área. Entretanto, o próprio clima o impediu de viajar. Santos teve que ficar na Colômbia e declarar situação de emergência por causa das enchentes.

No país havia chovido tanto, como não acontecia há 40 anos. Os rios transbordaram, deslizamentos de terra mataram várias pessoas. Os meteorologistas culparam o forte fenômeno El Niño, concentrado no oceano pacífico equatorial. No início de 2010, uma onda de calor tomou conta do país, causando falta de água e vários incêndios.

Pântanos ameaçados

Erdrutsch Kolumbien
Deslizamentos de terra causaram mortes na Colômbia em 2010Foto: AP

O governo colombiano conta com um aumento de temperatura de dois até quatro graus em algumas regiões nos próximos dez anos. A região pantanosa de Páramo e seu ecossistema delicado estão especialmente ameaçados. "Nós achamos que 75% dessa região irá desaparecer se a temperatura continuar a subir", diz Gustavo Ampugnani, coordenador para América Latina do Greenpeace. Além disso, o aumento de temperatura já ocasionou uma diminuição significativa das geleiras dos Andes colombianos.

A falta de água e a seca têm consequências sérias para o fornecimento de água e para a economia do país. Alguns poucos rios abastecem 70% da população, e 85% da eletricidade é gerada por usinas hidrelétricas. A previsão do governo para a costa do pacífico é alarmante: um aumento de cerca de 40 centímetros no nível do mar até 2060.

Potência ambiental?

Para combater esses prognósticos, o governo colombiano adotou medidas que foram elogiadas internacionalmente. Durante a Conferência do Clima, em Copenhague em 2009, o ex-presidente Álvaro Uribe descreveu a Colômbia como um paraíso ambiental, um país de ideias.

O programa de proteção florestal Guardabosques, por exemplo, distribuiu dinheiro para 66 mil famílias com o objetivo de evitar o desmatamento para a plantação de coca. Segundo dados do governo, 200 mil hectares de florestas são desmatados por anos para essa atividade.

Para combater a poluição e o tráfego nas grandes cidades, foi implantado um conceito de transporte inteligente: Bogotá copiou o modelo dos ônibus de Curitiba e reduziu cerca de 300 toneladas por ano na emissão de dióxido de carbono.  Novos ônibus e linhas de metrô existem também em Cali, Pereira e Medellín, onde linhas teleféricas ligam os bairros que ficam no alto dos morros às estações do metrô.

Palmölplantage
Governo alega que a produção de agrocombustíveis não gera desmatamentoFoto: CC/a_rabin

O grande trunfo ecológico do governo é o biocombustível. A Colômbia produz combustível de óleo de palma e etanol de cana-de-açúcar, do qual o Brasil é o maior produtor da América Latina. O governo faz questão de frisar que o agrocombustível não causa o desmatamento e o desaparecimento de lavouras. Um selo de certificação interno comprova esse fato.

Críticas de associações ambientais

Mas para os ambientalistas nem tudo é tão verde como quer pintar o governo. A política ambiental é criticada por vender a Colômbia como um país sustentável para o resto do mundo, mas que não cumpre essa pretensão dentro do seu território. "Há uma controvérsia entre o discurso e a realidade nacional", explica Tatiana Roa, da organização Censat. "O tema meio ambiente não faz parte da esfera pública", acrescenta Hilmar Ruminski, especialista da Fundação Friedrich-Ebert.

Evidentemente, há o desmatamento de florestas para a produção de agrocombustíveis. O grupo de trabalho Suíça-Colômbia relata sobre "centenas de hectares de óleo de palma que são plantados contra a vontade do proprietário da terra e provocam o desmatamento de grandes áreas." Para a Censat, o aumento do pasto e agricultura têm o mesmo efeito.

Carvão e óleo para o futuro

Seilbahn, Kolumbien
Projetos de transporte coletivo servem de exemploFoto: DW

Outro aspecto é bastante criticado: apesar da adesão à proteção ambiental, a Colômbia ainda utiliza fontes de energia fóssil em grande escala, como carvão e petróleo. Depois da Rússia, o país é o segundo maior fornecedor de carvão para Alemanha. A maior mineradora de carvão a céu aberto fica no norte, perto de Cerrejón. Além disso, existem planos para a exploração de petróleo no Caribe e na região amazônica.

A natureza colombiana é ameaçada pelo clima e pela política. "Até o momento, o governo de Santos não valorizou a política ambiental", resume Ruminski. "Pode ser que isso ainda aconteça, como ocorreu em outras áreas, por exemplo, nos direitos humanos. Entretanto, no momento, não é possível reconhecer politicamente uma Colômbia verde."

Autor: Torsten Schäfer (cn)
Revisão: Francis França