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Cinema nazista ainda gera polêmica no país

Jochen Kürten (rc)21 de março de 2014

Mais de 40 filmes realizados entre 1933 e 1945 ainda são proibidos ao público em geral, só podendo ser exibidos sob certas condições. Um novo documentário trata do tema, voltando a aquecer o debate.

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Foto: picture-alliance/akg-images

Como lidar com a propaganda nacional-socialista nos dias de hoje? Deve-se trancafiar e proibir os filmes, livros, textos e símbolos da época; ou deixá-los disponíveis, para que se saiba de como os nazistas disseminavam suas mensagens?

Se esse for o caso, quem deve ter acesso a esses materiais: apenas pesquisadores, ou todos? Não será grande demais o perigo de que a ideologia neles contida encontre novamente solo fértil entre velhos e novos extremistas de direita?

Debate inconcluso

O tema volta a ser intensamente discutido na Alemanha; por exemplo, no cinema, com o documentário Verbotene Filme (Filmes proibidos), do diretor Felix Moeller. Entre outros aspectos, ele aborda a série Vorbehaltsfilme ("Filmes com restrições"), exibida desde 2012 em diversas instituições culturais alemãs.

Para aumentar a controvérsia, diversas produções nazistas continuam sendo livremente disponibilizadas na internet. Fora da Alemanha, é possível também comprá-las em DVD. Como comentou o historiador Pascal Metzger durante o lançamento do documentário: uma vez que há argumentos tanto pró quanto contra a exibição dos filmes, no momento não se chegou a uma conclusão satisfatória.

Basicamente, são 46 os "filmes com restrições". A expressão um tanto complicada indica que só podem ser exibidos com reservas, por determinadas instituições e acompanhados de introdução científica e discussão.

Filmszene aus "Jud Süß"
Cena de "Judeu Süss"

O grupo inclui notórias peças de propaganda, como Jud Süss (JudeuSüss), e "documentários" antissemitas como Der ewige Jude ("O eterno judeu). A maioria deles é provavelmente desconhecida do público de cinema atual. Porém todos têm algo em comum: eles glorificam a guerra, têm aspectos antipoloneses ou anglófobos, são filmes de ódio, antissemíticos ou com outros conteúdos de propaganda.

Censura ou direito autoral

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, as 1.200 películas realizadas entre 1933 e 1945 foram inicialmente apreendidas pelos Aliados e divididas em três categorias. A maioria acabou sendo liberada, outras receberam cortes, e as restantes só podiam ser exibidas com reservas.

Esse último grupo foi sendo modificado nas décadas seguintes, adaptando-se aos novos tempos. Por fim, restaram 46Vorbehaltsfilme. O Instituto Friedrich Wilhelm Murnau, em Wiesbaden administra as obras de ficção, e o Arquivo Federal em Koblenz, os documentários.

Tem sido constantes as acusações de que as obras estariam sendo ilicitamente retidas pelos detentores das licenças. Segundo um artigo do jornal Die Welt, "pratica-se censura de forma sub-reptícia, através dos direitos autorais".

Deutsches Filmhaus in Weisbaden
Fundação Murnau de Wiesbaden cuida dos "Vorbehaltsfilme"Foto: Friedrich-Wilhelm-Murnau-Stiftung

A acusação é refutada pelo diretor da Fundação Murnau, Ernst Szebedits. "De acordo com seu estatuto, a Fundação tem como mandato oficial tratar esses filmes com cuidado e não disponibilizá-los de forma incontrolada ao público geral", explica. "Direito autoral não é censura."

Processo de abertura

Desde que assumiu o cargo há dois anos, Szebedits se empenha por um tratamento aberto para os "filmes com restrições". No passado, a Fundação agia de modo bastante defensivo quanto ao tema. Para os políticos, os filmes nazistas sempre foram uma questão controversa, com que evitam lidar.

Com o passar das décadas, o efeito do cinema nazista sobre o público tem se alterado. Algumas das obras consideradas pelos Aliados e pelas gerações do pós-guerra como perigosa propaganda nazista parecem tão canhestras hoje em dia, que dificilmente representariam qualquer ameaça, aponta Szebedits.

Jörg Friess, do Museu da História Alemã, também é a favor de uma nova abordagem dos filmes nazistas. Seu Zeughauskino foi uma das primeiras salas a exibir uma série dedicada a eles. Na ocasião, Friess lembrou que se trata de "um processo de abertura": primeiro é preciso assistir novamente às produções, para que se possa formar uma opinião através do diálogo com os espectadores.

Jovens rejeitam

Friess observou duas posições e reações diferentes durante as exibições no museu. Os mais velhos insistiram que os filmes nazistas ainda têm impacto forte, e defenderam que se mantenham as medidas restritivas a alguns deles. Os mais jovens, por sua vez, estabeleceram uma relação totalmente diversa com as obras, a qual Friess resume numa frase: "Nossa democracia é forte o suficiente para que se lide de forma aberta com esses filmes."

Film im Nationalsozialismus Joseph Goebbels und Veit Harlan
Goebbels (c) cumprimenta Veit Harlan, diretor de "Judeu Süss", e ator Wolfgang Liebeneiner (d)Foto: picture-alliance/dpa

Em geral, o público jovem se rebela contra as introduções teóricas, que sugerem uma determinada leitura das películas. O "gesto didático, do manual de instruções, da pedagogia midiática e cinematográfica" não são bem recebidos pelos jovens, registra Friess.

Uma reação que Szebedits também observou e consegue compreender. Contudo, há exceções bem definidas: obras de ódio antissemita declarado, como Jud Süss ou Der ewige Jude, devem continuar só sendo exibidas "com restrições", reivindica o diretor da Fundação Murnau.