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Segurança em Munique

5 de fevereiro de 2010

Pela primeira vez, China participa da Conferência de Segurança. Em sua atuação na política internacional, no entanto, Pequim nunca perde de vista seus interesses econômicos.

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Ministro do Exterior chinês fala em MuniqueFoto: AP

A distribuição de matérias-primas cada vez mais escassas, o crescente peso político da China, o programa nuclear do Irã e a política internacional para o Afeganistão são importantes temas da atual Conferência de Segurança de Munique, iniciada nesta sexta-feira (05/02).

Proteção ao clima, crise financeira e a visão de um mundo livre de armas atômicas por parte de Obama: entre os principais problemas globais, nenhum pode ser solucionado hoje sem a colaboração da China. Com mais de 2 milhões de soldados, o país asiático tem o maior Exército do mundo. É o campeão mundial de exportações e a segunda maior economia do planeta.

Em todo o mundo e também dentro da China, aumentam as vozes por um maior empenho do governo em Pequim na gestão de crises internacionais. E o empenho da China certamente aumentará, assegura Eberhard Sandschneider, diretor da Sociedade Alemã de Política Externa. O que acontece é que o governo chinês está ocupando aos poucos seu espaço no cenário internacional, e de forma bastante pragmática, acresce.

Crescimento econômico chinês é a bússola de Pequim

"Sempre atenta em não ultrapassar os limites dos próprios recursos e capacidades, a China vai começar a se integrar nos mecanismos internacionais de gestão de crise. Mas esse processo não é feito sob pressão. Antes de tomar qualquer decisão, o governo chinês avalia se tem ou não condições de enfrentar o Ocidente em certas exigências", explica o especialista.

O governo chinês decide de caso para caso quais medidas devem ser tomadas, acredita Sandschneider. A bússola estratégica dos dirigentes em Pequim é o crescimento econômico do próprio país. Afinal, é a economia que determina como e onde a superpotência emergente mostrará seu engajamento.

Ora o governo comunista impede, dentro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a imposição de sanções pesadas contra o Irã, pensando no seu interesse pelo petróleo persa. Ora resolve participar da operação da ONU no Golfo de Áden, enviando sua Marinha para ajudar a proteger de piratas as rotas comerciais entre a Ásia e a Europa.

Quanto ao Afeganistão, Pequim não pretende enviar tropas, embora grupos estatais chineses explorem riquezas minerais nesse país. Eles não têm qualquer problema de aceitar a proteção militar dos EUA e de seus aliados.

Se servir à economia chinesa, o governo chinês coopera até com ditadores africanos. Da Guiné a Zimbábue, investidores chineses financiam a construção de estradas, ferrovias e escolas. Em contrapartida, empresas da China asseguram na África as matérias-primas de que precisam. Agrade ou não ao Ocidente, Pequim se orienta apenas por seus interesses

Antes G20 que G2

Sandschneider adverte que a comunidade internacional ainda terá que se acostumar mais com esse tipo de política. "Na China, um país atuante é aquele que defende os próprios interesses. Não há nenhuma garantia de que o Ocidente terá mais facilidade quando a China se tornar mais ativa na política externa", questiona o especialista.

Entre as reivindicações políticas da China está uma redistribuição de poder no cenário global. A questão é se o G8, grupo restrito de nações industrializadas e emergentes, deverá ser substituído pelo G20. Pequim quer mais influência internacional e por isso incentiva o G20.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos cogitam outras possibilidades, como por exemplo uma ordem mundial com Pequim e Washington como polos de poder. O ex-conselheiro norte-americano de segurança, Zbigniew Brzezinski, se refere até mesmo ao "Grupo dos Dois", que poderia mudar o mundo.

No entanto, o governo chinês se recusa terminantemente a cogitar modelos como o G2. Eberhard Sandschneider acha, contudo, que a China só continuará resistindo à ideia até seus dirigentes se sentirem seguros a ponto de agir de igual para igual com os EUA.

"A China ainda não está em condições de realizar isso, não gosta nem de falar do assunto e rejeita qualquer discussão. Mas quando as capacidades estiverem lá ou quando o governo acreditar que as possui, aí sim a China vai mudar de comportamento", arrisca Sandschneider.

Tensões e imprevistos

A Conferência de Segurança de Munique deste ano está sendo marcada pela crescente tensão entre os Estados Unidos e a China. Nesta sexta-feira, o ministro do Exterior chinês, Yang Jiechi, aproveitou sua presença na capital bávara para exigir dos EUA que parem imediatamente com o fornecimento de armas a Taiwan.

Também a partir desta sexta-feira, graças ao comparecimento imprevisto do ministro do Exterior do Irã, Manuchehr Mottaki, o conflito em torno do programa nuclear iraniano passa a ser debatido na presença da principal parte de negociação.

Autor: Christoph Ricking (sl)
Revisão: Carlos Albuquerque